EDITORIAL
MANAUS – A Polícia Civil do Paraná, desde o início da investigação da morte do militante do PT Marcelo Arruda, tem se mostrado parcial. Primeiro, divulgou uma informação falsa de que o assassino, o policial penal federal Jorge José Guaranho, também havia morrido depois de balear Arruda e ser baleado por ele.
No dia seguinte, no domingo (10), a Secretaria de Segurança do Paraná revelou que o atirador estava vivo, internado em uma unidade de saúde de Foz do Iguaçu, município onde ocorreu o assassinato.
Na segunda-feira, dois dias depois do crime, descobriu-se que a delegada que presidia o inquérito era inimiga declara do PT e de Lula e, portanto, não tinha isenção para tocar a investigação com o mínimo de isenção que o caso requeria.
De novo, a Secretaria de Segurança age e substitui a delegada. A substituta levou apenas três dias para concluir o inquérito, e apresentou o resultado da investigação nas primeiras horas da manhã desta sexta-feira (15), antes que o caso completasse sete dias.
A celeridade na investigação de qualquer crime é o sonho de todo brasileiro, mas o trabalho deve ser feito com o cuidado que cada caso exige. No caso do assassinato de Arruda, esse cuidado não foi observado.
Explicando: o celular do assassino de Arruda estava com ele quando a polícia chegou ao local do crime e com ele foi levado para o hospital onde ele foi atendido. A praxe era a polícia recolher o equipamento para investigar com quem ele falou ou trocou mensagens antes de praticar o crime. Um elemento que poderia conter provas importantes foi entregue pela polícia à esposa de Guaranho.
Quando a polícia quis pegar o celular de volta, a esposa, que conhece o direito, se recusou a entregar e disse que só o faria mediante ordem judicial. Até que um juiz determinasse a entrega do aparelho, a polícia perdeu tempo precioso, e a perícia no telefone celular do atirador não ficou pronta antes da conclusão do inquérito.
Por que a delegada do caso, então, não esperou a conclusão da perícia para só então concluir o inquérito policial? O telefone celular pode não ter nenhuma prova contra ou a favor do policial penal, mas se tiver alguma, a delegada errou feio em não aguardar.
Outro problema – e o mais grave – que levanta suspeitas sobre a investigação é a própria conclusão da delegada, que separa o momento do crime e o fato anterior, quando Guaranho compareceu à festa de aniversário de Arruda para insultar os presentes.
Consta na investigação que Guaranho estava em um churrasco e foi informado por um amigo, que tinha imagens das câmeras de segurança do local da festa – uma associação da qual Guaranho é um dos diretores – e lhe mostrou a ornamentação com tema do PT e Lula. Foi essa informação que o fez ir ao local.
Chegando em frente ao local da festa, Guaranho ligou o som do carro com uma música que exaltava o presidente Jair Bolsonaro e gritava: “Aqui é Bolsonaro!”. E distribuiu palavrões aos presentes, conforme relato de testemunhas. A própria esposa do policial penal confirmou essa versão dos fatos.
Quando ouviu o som e a confusão do lado de fora, o aniversariante saiu e atirou contra Guaranho pedras e areia que atingiram a ele, a esposa e uma criança que estavam no carro. Neste momento, o policial penal apontou uma arma de fogo para Arruda, mas não atirou. Ao lado dele, a esposa implorava para que saísse dali. Guaranho saiu, mas antes prometeu que voltaria para matar a todos.
Segundo as investigações, Guaranho voltou cerca de 20 minutos depois, saiu do carro com a arma em punho e apontada para Arruda, que estava do lado de dentro do salão de festas. Guaranho ignorou os apelos da esposa de Arruda para que parasse, e disparou duas vezes para, em seguida, entrar no ambiente e dar mais dois tiros contra Arruda. Caído ao chão e ferido, Arruda também disparou contra seu assassino.
Separar esses dois momentos para dizer que não houve motivação política no crime é, no mínimo, suspeito. O que motiva a ida de Guaranho à associação onde se realizava a festa é o fato de o aniversariante ornamentar seu aniversário com as cores do PT e a imagem de Lula.
Os xingamentos e provocações feitas pelo atirador e assassino quando chega em frente à associação tem motivação política. A reação do aniversariante e o fato de ele atirar pedras e areia contra o policial penal não apaga os fatos anteriores e a motivação de tudo.
O que fica parecendo é que a delegada e a Polícia Civil do Paraná quiseram facilitar a defesa de Guaranho. Mas a sequência de fatos não permite a uma pessoa sã concluir que a investigação e as conclusões da delegada são eminentemente técnicas.
Houve motivação política, sim, e não há como negar. E a conclusão da polícia também permite a qualquer pessoa sã pensar que até o inquérito teve motivação política.