Por Jullie Pereira e Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – O arcebispo de Manaus, dom Leonardo Ulrich Steiner, é favorável ao posicionamento do ministro Edson Fachin, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que defende enquadrar em abuso de autoridade os candidatos que tiram proveito da religião para influenciar votos de fiéis.
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Em entrevista ao ATUAL, o líder religioso afirma que é claro o uso da religião para angariar votos nas eleições. “Eu sou muito favorável, porque isso é visível, é palpável. Assim como existe o abuso econômico, existe o abuso religioso”, afirmou.
O arcebispo afirma que é possível a Igreja falar sobre política, mas desaprova o uso da instituição para defender candidatos e legendas partidárias. “Por exemplo, você num culto, ou no nosso caso Igreja Católica, nas nossas celebrações, nós não podemos nos manifestar politicamente. Podemos falar sobre política, mas não a favor de um determinado candidato, a favor de um determinado partido. Isso a lei inclusive prevê”, diz.
Leonardo Steiner diz que a posição de Fachin ajuda a evitar imposições religiosas sobre o voto dos fiéis. “O ministro Fachin, como um ministro do Tribunal Superior Eleitoral, ele veio abordar essa questão. E eu sei que alguns são contra, mas eu sou muito favorável. A pluralidade nas eleições deve existir, e nós não podemos impor aos nossos fiéis um candidato”, afirma.
De acordo com o arcebispo, o enquadramento de determinados casos de abuso de autoridade religiosa defendido por Fachin evitaria situações como a atual. “Porque depois, o que está acontecendo atualmente, é eleito e começa a trabalhar para a determinada igreja ou determinada religião. E nós não queremos que isso aconteça. E eu sou muito favorável que isso seja considerado realmente abuso, um abuso na ocasião das eleições”, pontuou.
Leia a entrevista completa.
Antes de assumir a arquidiocese o senhor visitou localidades da Amazônia e está desenvolvendo suas atividades em Manaus desde janeiro. Quais são os maiores problemas identificados até aqui na catequese no Amazonas?
Dom Leonardo Steiner –Eu estive em Manaus mais vezes antes de assumir em 31 de janeiro. Mas colocar os pés na Amazônia foi do aeroporto até o lugar da reunião e do lugar da reunião até o aeroporto. Então, colocar os pés na Amazônia é diferente. É começar a andar, caminhar, encontrar pessoas, ouvir as dificuldades, conhecer as periferias, o Centro. É muito diferente do que você estar de passagem. Viver no local você começa a perceber quais são as preocupações, os anseios. E logo depois que eu cheguei nós tivemos a presença do novo coronavírus, o que veio dificultar o contato com as pessoas. A dificuldade maior foi justamente ter que ficar quase recluso em casa e ao mesmo tempo ficar animando as comunidades, as pessoas, para que elas na sua família pudessem viver a sua fé. Mas ao mesmo tempo também eu comecei a perceber, justamente devido à questão do coronavírus, a dificuldade das nossas comunidades indígenas, especialmente os indígenas que nós chamamos de desaldeados, que na periferia de Manaus são em um número razoável, mais de 35 mil. Tive contatos com eles, pude conversar e começar a perceber aonde nós como igrejas poderíamos apoiá-los, estar ao lado deles.
Qual foi a sua impressão nesse primeiro contato?
LS – Foi uma oportunidade muito boa porque eu pude perceber também as desigualdades que existem na cidade de Manaus, não posso dizer no interior da Arquidiocese. Mas as diferenças, por exemplo, nas nossas periferias. Nas minhas caminhadas eu pude passar pelo Centro e ver como as pessoas estavam de madrugada deitadas na rua, o povo que vivia na rua e a pandemia ajudou a dar rosto a essas pessoas que vivem nas ruas da nossa cidade, mas ao mesmo tempo são quase invisíveis. O vírus visibilizou essas pessoas. Nós, como sociedade, tivemos que nos preocupar com essas pessoas, não apenas com cestas básicas, mas também o lugar de convivência, lugar de alojamento, que não poderiam ficar na rua. E também a questão da migração. Eu não pensei que a presença de imigrantes fosse tão forte aqui em Manaus. Mas ao mesmo tempo também ver a beleza da preocupação da Igreja que existe ao menos em relação aos imigrantes, e o atendimento dado a eles através da Cárita, da Pastoral dos Migrantes. E também ver que em Manaus, apesar das grandes dificuldades, nós temos uma dificuldade que é a questão do desemprego. Eu fui devagar, acordando para essa realidade que não conhecia em tão alto grau como aqui.
O senhor assinou a chamada ‘Carta ao povo de Deus’? Esse documento está em análise na CNBB para divulgação pública. Trata-se de uma manifestação política da Igreja. A carta é para marcar posição no governo do presidente Jair Bolsonaro?
LS – Eu assinei a carta. Nós somos um grupo de bispos que tem se reunido periodicamente, virtualmente nós nos reunimos, discutimos, refletimos. Trazemos outras pessoas para nos ajudar a compreender a realidade social e política da igreja que nós vivemos. E depois de muita reflexão nós achamos importante escrever uma carta, não uma nota, mas uma carta ao povo de Deus. Uma carta você escreve a quem você ama. Não se trata de um protesto, se trata de descrever a realidade assim como nós estamos vendo. E a realidade como nós estamos vendo nos preocupa, esse grande número de bispos. Não se trata de ser contra as pessoas, se trata de ser do modo como estamos sendo governados. Você pode ver na carta que não existe agressividade em relação a nenhuma pessoa, mas a tentativa de ir mostrando onde estão as nossas dificuldades. Dificuldades, tensões e eu diria desregramentos. Então, eu acho que nós bispos não podíamos ficar calados.
Trechos da carta já foram divulgados na imprensa. A Igreja quer ter voz no processo político?
LS – Apesar de ter vazado o texto, não sei como é que foi que vazou, porque a proposta era primeiro ser levado à presidência da CNBB e o chamado Conselho Permanente, que é o grupo que depois da Assembleia Geral tem uma representatividade maior de todos os bispos, mas vazou e foi para a imprensa. Também eu não acho que foi tão ruim digamos assim, mas o ideal não teria sido esse caminho. Eu acho que o texto tem um conteúdo suficiente para mostrar a realidade que nós vivemos, especialmente mostrando a nossa preocupação. A nossa preocupação é grande como bispos, não é um grupo pequeno de bispos, é um grupo razoável. E essa preocupação tem ajudado mais pessoas a perceberem que é preciso dizer alguma coisa. Isto é, nós estamos pedindo o diálogo. A carta insiste nessa questão do diálogo. Mas um diálogo aberto com toda a sociedade, não é diálogo com nós mesmos.
A Igreja tem cada vez mais se manifestado politicamente. Religião e política se tornarem indissociáveis? Ou há um limite para a manifestação política da igreja?
LS – Nós vivemos num estado onde o Estado é laico. Nós temos plena consciência disso. Nós já vivemos outros tempos, no tempo do Império não havia essa separação. Com a República veio a separação. Nós afirmamos hoje e aceitamos o Estado como Estado laico. Nós não queremos interferir, impor uma religião, que aliás às vezes eu tenho a sensação de que o atual governo está querendo impor determinados elementos religiosos que não podem ser aceitos por toda a sociedade. Nós temos uma diversidade enorme no Brasil de expressões religiosas. Hoje são mais de 10% de pessoas que dizem que não seguem nenhuma religião. Não quero dizer que sejam pessoas sem Deus, mas que não seguem nenhuma religião. É um número significativo. Mas quando nós falamos de política, nós não podemos esquecer de que nós bispos somos brasileiros, somos cidadãos. E como cidadãos e lideranças que nós exercemos, que a Igreja nos confiou e que nós exercemos dentro das nossas comunidades, e por isso também na sociedade, nós não podemos nos calar. E nós não fazemos opção por partido político. Nós temos sempre orientado quanto à política. Quando chega o momento das eleições, nós sempre temos emitido, fui oito anos secretário da CNBB e sempre nós tivemos que nos manifestar como CNBB. Mas nós sempre nos manifestamos, nesses anos todos de existência da CNBB, no tempo da ditadura a manifestação é muito maior ainda do que hoje. Então, a nossa preocupação é com a educação política.
Como participar da política sem fazer política?
LS – Nós hoje inclusive estamos numa crise política enorme. Que política é essa que não olha mais para os pobres? A Constituição de 88 foi um trabalho enorme, onde nós como CNBB participamos ativamente. Naquela época o santo Dom Luciano era o secretário-geral da CNBB, ele teve um papel importantíssimo na elaboração. Ora, isso é fazer política. Mas não é fazer política partidária. Quer dizer, a palavra ‘política’ é muito preciosa de origem grega. É o cuidado com o comum. O ‘comum’ o grego chamava de cidade. E tem a grande filósofa Hannah Arendt, uma judia, ela vai dizer o seguinte: que a política é sair do familiar para o comum, do particular para o comum. E Arendt vai inclusive denominar todos os elementos que formam esse comum. Nesse sentido nós temos a obrigação de participar, mas nunca de partido político. A Igreja Católica é tão séria quanto a isso que um padre que se candidata e é eleito ele não pode exercer publicamente o seu ministério. Você veja que o bispo que foi eleito como presidente do Paraguai ele teve que pedir para deixar de exercer o seu ministério sacerdotal e episcopal.
A Igreja Católica estaria sofrendo uma tentativa de afastamento…
LS – O problema é muito simples, quando nós nos manifestamos sobre questões econômicas, sociais, etc e tal então se quer ver a Igreja longe e aí nos chamam de comunistas, socialistas, nos chamam disse e daquilo. E inclusive as pessoas nem sabem mais o que é comunismo. Mas nós temos a obrigação de darmos a nossa opinião. Nós somos pessoas da sociedade brasileira, não podemos ficar omissos com isso. E por isso procuramos nos relacionar com todos. E independentemente de partido que alguém seja, independentemente do que faz, fé que professa, nós procuramos dialogar com todos.
O senhor acha que o uso eleitoral da religião configura abuso de autoridade, como defende o ministro Edson Fachin do STF (Supremo Tribunal Federal)?
LS – Eu sou muito favorável, porque isso é visível, é palpável. Assim como existe o abuso econômico, existe o abuso religioso. É claro que nós temos leis. Por exemplo, você num culto, ou no nosso caso Igreja Católica, nas nossas celebrações, nós não podemos nos manifestar politicamente. Podemos falar sobre política, mas não a favor de um determinado candidato, a favor de um determinado partido. Isso a lei inclusive prevê. Mas o ministro Fachin, como um ministro do Tribunal Superior Eleitoral, ele veio abordar essa questão. E eu sei que alguns são contra, mas eu sou muito favorável. A pluralidade nas eleições não deve existir, e nós não pudemos impor aos nossos fiéis um candidato. Porque depois, o que está acontecendo atualmente, é eleito e começa a trabalhar para a determinada igreja ou determinada religião. E nós não queremos que isso aconteça. E eu sou muito favorável que isso seja considerado realmente abuso, um abuso na ocasião das eleições.
No Sínodo da Amazônia o Vaticano rejeitou ordenar homens casados como padres na Amazônia para suprir a escassez de padres na região. Essa é uma crise de longo prazo ou a Igreja busca atrair novos sacerdotes?
LS –Na realidade, o santo padre não rejeitou a proposta do sínodo. Foi o texto onde teve maior dificuldade. E a gente entende, são séculos de celibato. Mas é preciso dizer também que na Igreja Católica, no rito latino é que nós temos o celibato. Mas nós temos os outros ritos onde os padres são casados. Eles se casam e são ordenados depois de casados. O papa não rejeitou. Ele inclusive diz assim ‘Eu assumo o documento final que os bispos aprovaram’. Não aparece no texto ‘Querida Amazônia’, que é o texto pós-sinodal que ele publicou, não aparece essa questão. Como isso será feito no futuro não sei. Eu tive a oportunidade, junto com a presidência da CNBB de abordarmos diretamente essa questão do santo padre. E nós perguntamos ‘podemos continuar a dialogar sobre esse assunto’ e ele falou ‘é sempre importante dialogar sobre todos os assuntos. E continuem a dialogar, conversar entre vocês bispos’. Eu tenho a impressão de que no futuro nós teremos essa possibilidade.
Você veja, nós temos na Igreja Católica, por exemplo na Alemanha, recentemente dois pastores luteranos pediram para participar da Igreja Católica. E um deles pediu a ordenação. Ele era casado. O pedido por Roma foi aceito. Ele foi ordenado e hoje é pároco em uma das paróquias. O que na Alemanha tem mais é padres assim que foram pastores. Mas normalmente tem o trabalho de atendimento em hospitais, em outros setores. E um deles não era casado e foi ordenado também. Não é novidade isso dentro da Igreja.
Mas parte do clero é contra, porém essa parece ser uma opção viável para a Igreja…
LS – Nós nos assustamos porque não estamos acostumados com isso. Eu quando ouvi pela primeira vez de que na Igreja tinham homens casados você leva um susto né. Mas não, isso esteve sempre presente na Igreja Católica. No rito latino não, com o Concílio de Trento nós tivemos então essa restrição. A grande preocupação do papa é o atendimento das comunidades mais distantes, as do interior. E para isso, os padres sinodais aprovaram um texto dizendo o seguinte ‘diáconos permanentes com uma boa experiência de exercício do seu ministério poderiam ser ordenados padres para portanto comunidades mais remotas’. O papa não abordou isso na Amazônia, mas eu penso que nós em diálogo com ele vamos ver como será possível encaminhar isso.
A arquidiocese tomou uma posição contrária ao governo federal e às igrejas evangélicas no tratamento da Covid-19? Adotou a cautela na reabertura das paróquias em vez de pregar a fé cega em Deus que protegeria contra o vírus. A Igreja cedeu à ciência nesse caso?
LS –Não. E eu acho que não seguimos a ciência. Por isso é que não abrimos completamente porque nós ouvimos infectologistas. Nós estabelecemos diálogos. Aqui em Manaus tem pessoas que estudam essa questão toda da virose e nós ouvimos diversos. Então, a nossa contribuição eu penso que tinha sido muito grande no momento em que nós inclusive nos antecipamos ao governo, nós já havíamos decidido junto com todos os padres de cancelarmos todas as nossas atividades, não apenas as celebrações. Nós voltamos agora com as celebrações, mas apenas 30% de presença, o que está criando um pouco de dificuldades em algumas comunidades devido às igrejas serem pequenas e nós queremos manter o distanciamento necessário com o uso da máscara. Mas não voltamos ainda, por exemplo, com a catequese. Não voltamos com as nossas reuniões pastorais e não pretendemos voltar ainda por enquanto. Nós estamos ouvindo, estamos conversando, dialogando, porque nos assusta até nesses últimos três dias que tenha havido um aumento de pessoas infectadas e também o número de mortes, nesses três últimos dias tem havido aí um crescimento. E nós queremos continuar a colaborar.
Como os fiéis reagiram a essa decisão?
LS – Eu penso que nós como igreja demos a nossa contribuição, uma contribuição muito importante não apenas buscando não celebrar e não reunir, mas também no apoio através das cestas básicas. Foi um trabalho extraordinário. Eu fiquei até tão admirado da participação dos fiéis e da sociedade. Pessoas não ligadas a Igreja, mas que também enviaram as cestas básicas para que nós pudéssemos distribuir. E inclusive quando veio agora também essa nova norma a respeito das nossas igrejas nós continuaremos assim por enquanto. Nós sabemos que as nossas igrejas são essenciais, sabemos que as nossas celebrações são essenciais para nós. Conseguimos modos de estarmos juntos dos fiéis através da televisão, através das rádios, do Facebook, através de tantos outros meios que nós temos hoje graças a Deus. Mas nós queremos continuar. Enquanto não tivermos segurança nós continuaremos nesse ritmo em que estamos. Inclusive nos manifestamos contrários a volta das aulas das escolas públicas. Isso porque algumas escolas não comportam, não tem nem ventilação suficiente. São escolas antigas e que ainda não foram adaptadas suficientemente. Algumas inclusive são alugadas e dada a necessidade, graças a Deus que o governo se preocupou em possibilitar às crianças a escola, mas para esse momento, algumas das escolas não são apropriadas.
Como o senhor avalia a Igreja na pós-pandemia?
LS –Eu penso que o momento mais difícil será estarmos juntos das pessoas que perderam seus entes queridos e que estão muito feridas. E eu espero podermos estar próximos dessas pessoas. Temos procurado essas pessoas, estar próximos delas. Passada a pandemia, não sei quando isso vai acontecer, mas quando houver a possibilidade nós desejamos fazer uma grande celebração, lembrando de todos os falecidos. Vamos entrar em contato com os responsáveis pelo sambódromo, e gostaria de fazer lá uma grande celebração eucarística lembrando de todos esses falecidos, independentemente se participavam da Igreja Católica ou não.
Mas o pós-pandemia vai exigir de nós outros elementos. O número de desempregados aumentou e vai aumentar mais ainda. O que vamos fazer? Nós estamos procurando assistir muitas famílias com cestas básicas e graças a Deus temos conseguido fazer muito, através das paróquias e cáritas. E eu repito mais uma vez: eu fico admirado com a generosidade do povo de Manaus, é uma generosidade extraordinária. E um outro elemento que acho importante que nós tenhamos que pensar é como retornarmos a questão das nossas celebrações. Como é mais cômodo assistir à missa pela televisão, então talvez algumas pessoas ache que isso será o suficiente. Mas isso eu creio que nós conseguiremos com uma boa conscientização.
A Igreja perdeu recentemente Dom Pedro Casaldáliga, uma referência religiosa na defesa dos direitos humanos. A igreja carece desse tipo de líder que é enfático em criticar governos e políticas públicas?
LS –Eu tive a graça de conviver com ele. Um homem extraordinário. Eu até escrevi um pequeno texto dizendo assim: ‘mais que um profeta’. Convivendo com ele, eu penso que o Dom Pedro foi um grande místico. O místico ele enxerga mais do que nós enxergamos. Você veja, o que ele falava do Reino de Deus, dos pobres, da política, da Igreja, era sempre um pouco mais do que aquilo que nós estamos vendo, que nós estamos intuindo. Ele conseguia sempre ver além, e a palavra dele nascia desse ver. Além de ser um grande intelectual, Dom Pedro era um homem de muita leitura. Um intelectual arguto, ele conseguia fazer análises e perceber as questões da Igreja, da sociedade, do Brasil, do mundo de maneira muito singular, muito própria. E nunca deixou de dizer o que pensa. O místico faz isso, o profeta diz aquilo que Deus revela que ele tenha que dizer. O místico diz aquilo que ele encontrou. Aquilo que buscou e encontrou. Dom Pedro não vai fazer falta, porque ele permanece no meio de nós. Nós acreditamos na comunhão dos santos, assim como Dom Paulo, Dom Tomás Balduíno, Dom Ivo, Dom Aluísio, esses grandes homens que foram tão importantes para a nossa Igreja no Brasil. Eles participam da vida de Deus e continuam a participar da nossa vida. E ainda com a vantagem que Dom Pedro deixou os poemas, poemas extraordinários, provocadores. Ele tinha palavras tão afetuosas, mas também palavras lapidares, cortantes. Ele tinha o dom da palavra. Ele conseguia na palavra dizer as suas inspirações mais profundas.
A Igreja está carente de profetas, então…
LS – É claro, cada tempo gera os seus profetas. O tempo da ditadura gerou grandes profetas. O tempo talvez mais difícil do Brasil que nós tivemos nessa história toda gerou grandes homens, não só na igreja, também na sociedade, e grandes mulheres. Então eu espero também que o nosso tempo também gere homens que nos ajudem a compreender a realidade que estamos vivendo. Mas especialmente nos ajude a construir um Brasil melhor, mais justo. Não o Brasil do mercado, não o Brasil da privatização, não o Brasil da deseducação. Nós estamos numa espécie de analfabetismo intelectual. Mas também eu espero que nós possamos cuidar mais da nossa casa comum como disse o Papa Francisco e estejamos cada vez mais ao lado dos mais pobres. Dom Pedro me dizia ‘Leonardo, quando estamos ao lado dos pobres estamos sempre do lado certo’. E é uma verdade. Nós podemos ser muito criticados, atacados, mas eu repito, se estamos do lado dos pobres nós estamos do lado certo. Não desprezamos ninguém, não queremos desprezar ninguém, todos são filhos e filhas de Deus. Mas há necessidade de nós dizermos que essas pessoas que são descartadas pelo mercado fazem parte da sociedade brasileira e mais, que são filhos e filhas de Deus. Olha, nenhum filho e filha de Deus pode permanecer no descarte, no lixo da nossa sociedade.
Dom Leonardo Steiner foi anunciado como novo arcebispo de Manaus pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) em novembro do ano passado e assumiu em janeiro deste ano, após dom Sérgio Eduardo Castriani ter renunciado. Dom Leonardo foi nomeado bispo em 2 de fevereiro de 2005 pelo Papa João Paulo II para a Prelazia de São Félix do Araguaia (MG), sucedendo a dom Pedro Casaldáliga.
(Colaborou Murilo Rodrigues)