Os casos de rabdomiólise em peixes, registrados em diversos municípios do Amazonas, e notícias de contaminações em açaí, tucumã e queijo trazem preocupações com a saúde da população, bem como com as consequências na economia do Estado.
Entre agosto e setembro deste ano, foram notificados mais de 60 casos, confirmados pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), de pessoas com a doença chamada de “urina preta”, a rabdomiólise, por causa de peixes contaminados. Os peixes consumidos foram o tambaqui, pacu e pirapitinga nos municípios de Silves, Borba, Manaus, Parintins, Caapiranga, Autazes, Maués, Manacapuru e, principalmente, em Itacoatiara, onde teve o maior número de casos.
Na maioria dos municípios foi suspensa a venda desses peixes, nas feiras e mercados, bem como nos restaurantes. Isso afetou diretamente a venda do pescado. As vendas caíram abruptamente, afetando os pescadores, peixeiros, feirantes, mercadinhos, as bancas de vendas de peixe assado, restaurantes e toda a cadeia produtiva. A população está assustada e muitos deixaram de consumir por medo da doença, que já levou uma pessoa à morte.
Lamentavelmente, até hoje, as autoridades sanitárias não deram uma resposta à população, definindo a causa da contaminação e a origem dos peixes. Esta demora contribui para manter o clima de medo e desconfiança em relação ao consumo do peixe, o principal alimento (proteína), consumido pela população amazonense.
Mas os casos de contaminação também ocorreram em relação a outros produtos regionais. Em abril deste ano, tiveram contaminações com açaí, no Município de Ipixuna, com a Doença de Chagas, afetando cinco pessoas com fortes dores. Ainda este ano, em julho, cerca de 30 moradores de Manacapuru tiveram infecção alimentar, onde a Secretaria de Saúde suspeita do consumo de tucumã contaminado. Agora, no mês de setembro, em Itapiranga, está sendo apurado pela FVS a internação de sete moradores por ingestão de queijo coalho.
Tudo indica que falta uma política de acompanhamento e vigilância em relação à qualidade dos alimentos regionais consumidos pela população. O Amazonas vive, basicamente, de produção regional, necessitando que os órgãos sanitários realizem campanhas de orientação quanto à manipulação correta dos alimentos, para evitar novos casos e mortes. É uma questão de saúde pública, mas também de economia.
A possibilidade de contaminação de alimentos nas feiras e mercados é enorme. Frutas, verduras, dispostas e acondicionadas próximos de esgotos, em áreas poluídas, a falta de higiene e limpeza, bem como a falta de locais refrigerados para conservar alimentos perecíveis contribuem para contaminações que afetarão a saúde dos consumidores.
A população está com medo de consumir peixe. Poderá ficar receosa também em relação a outros produtos. A crise econômica está afetando milhares de amazonenses. A fome e a miséria estão voltando. Muitos dependem do peixe, do açaí, do tucumã, do queijo, de tantos produtos regionais para sobreviver.
É urgente que os órgãos de fiscalização e controle da saúde do Estado deem respostas aos casos de contaminação notificados. Encaminhei pleito para que apurem com rapidez, para dar tranquilidade à população.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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