Por um longo período ouvimos: ‘política é que nem futebol e religião: não se discute’. Porém, as eleições, especialmente no Amazonas, onde passamos por uma eleição suplementar, vem demonstrando que esse período está acabando. A disseminação em massa dos problemas diários da sociedade através das redes sociais cumulado às crises econômicas enfrentadas, tornaram relevantes entre os cidadãos a discussão sobre política. O problema é que ainda falta tolerância.
Nas redes sociais, qualquer que crie um grupo de amigos (movimento), entoe alguns gritos de revolta e consiga engarrafar uma avenida com manifestações, já se acha analista político. Na internet então, a distância permite que as pessoas discutam de forma mais agressiva sem se preocupar com as consequências, em especial, que possam influenciar outros desavisados a entrar na mesma “onda” de profundo conhecedor da ciência política.
Atualmente se discute mais o tema, no entanto, precisamos evoluir muito, buscar mais conhecimentos sobre o que é política, em termos de conteúdo e diálogo. Não aprendemos na escola, não temos nenhum contato com conteúdo político na vida. A política não pode ser um tabu, e por outro lado não pode ser um cabo de guerra, onde apenas o lado que defendo está sempre certo.
As últimas eleições gerais, acirraram em definitivo lados antagônicos, porém se criou discussões vazias, todos querem apresentar seu argumento sem ouvir ou considerar o que o outro está explanando. Precisamos discutir com acordo de procedimentos. Isto é democracia, entender e concordar que podemos discordar. É importante que apresentemos críticas ao que está ou achamos errados, todavia, mais proveitoso será quando além das críticas expusermos nossas ideias para solucionar o problema.
O filósofo e educador Mário Sérgio Cortella, cita que “muita gente acha que política é uma coisa e cidadania é outra, como o garfo e faca, e não é. Política e cidadania significam a mesma coisa”. Podemos exercer a cidadania, além do voto, através de uma gestão pública participativa, o caminho para acompanhar de perto e influenciar as mudanças que tanto acreditamos.
Conforme dados da Justiça Eleitoral, o Brasil tem quase 150 milhões de eleitores. Mas, enquanto somos, numericamente, muitos votantes, falta na mesma proporção qualidade no debate político. Apesar do avanço democrático e, das facilidades que as redes sociais nos geram, ainda assim, poucos possuem a capacidade que julga ter para escolher um candidato. Não temos condição cognitiva de acompanhar todos os processos que acontecem na política. Usamos atalhos informacionais para tomar tais decisões.
Nossas escolhas nas urnas, direcionam para melhor ou pior temas relevantes que interferem diretamente na nossa qualidade de vida. Diariamente nossos eleitos discutem quais são as prioridades para o orçamento, que tipo de transporte público queremos, a ocupação do espaço urbano, a situação do saneamento, do meio ambiente, além de questões de saúde, educação, habitação e segurança.
Os serviços públicos destacados serão realizados efetivamente e com economia de recursos se o cidadão se envolver diretamente na gestão pública, pois é o primeiro responsável pelos bens públicos.
O cidadão deve acompanhar os políticos. Opinar, discutir, levar sua opinião, papéis fundamentais para a cidadania.
Não podemos mais associar política com politicagem, algo feito pelos políticos apenas por interesse individual. Somos seres políticos na essência, precisamos colocar nossas opiniões em prol da coletividade. Política tem a ver com diálogo, negociação e intermediação de interesses. Esses atos, mesmo que não chamemos de política, nós fazemos diariamente. É parte de nossa natureza.
A população não pode mais enxergar a política como algo distante, desconhecido e corrupto, a educação política é a melhor solução, fazendo o cidadão se envolver, mais participativo com a gestão pública. Cada cidadão pode começar a interagir mais com os candidatos eleitos, dialogando e verificando quais as prioridades para seu bairro e para sua cidade. Votar não é apenas um ato de delegar atribuições a nossos representantes, devemos estimular os processos democráticos, principalmente a gestão pública participativa.
Sérgio Augusto Costa é Advogado, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Eleitoral.
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