EDITORIAL
MANAUS – Bolsonaro joga muito bem com seus seguidores. Nos últimos dias têm repetido – e repetiu no discurso de 7 de Setembro, na Avenida Paulista – que para ele só há três opões até as eleições de 2022: ser preso para não participar da eleição; ser morto ou vencer a disputa eleitoral.
“E àqueles que pensam que com uma caneta podem me tirar da presidência, digo uma coisa pra todos nós. Nós temos três alternativas, e especial para mim: preso, morto ou com vitória. Dizer aos canalhas que eu nunca serei preso; a minha vida pertence a Deus, mas a vitória é de todos nós”, disse o presidente.
Por que Bolsonaro repete – como repetiu na Paulista – que não será preso? A resposta a essa pergunta precisa de um preâmbulo:
Bolsonaro não sofre qualquer impedimento de governar por parte de outro poder. A tal liberdade que motivou os atos antidemocráticos convocados por ele não foi negada nem a ele e nem a ninguém, exceto a três pessoas que praticaram crime de ameaça. O que motivou todas as ações de Bolsonaro que culminaram nos atos do Dia da Independência é o inquérito das fake news autorizado pelo Supremo Tribunal Federal e realizado pela Polícia Federal, que investiga o uso de dinheiro público para financiar a disseminação de notícias falsas. Esse inquérito está chegando muito próximo do presidente.
Talvez Bolsonaro tenha a impressão de que, se chegar a ele, as investigações podem levá-lo à prisão. E talvez seja por isso que ele tem vociferado “eu nunca serei preso”. Mas por hora nada há de ameaça de prisão ao presidente da República. Essa hipótese é totalmente descartada.
A morte de Bolsonaro também é outra hipótese que ninguém cogita. Mas ele insiste em dizer que só deixa o Palácio do Planalto morto. Quem teria interesse em praticar tal sandice? Bolsonaro estaria disposto a tirar a própria vida para não deixar a presidência da República? Essa hipótese ninguém imaginava que “povoava” a cabeça de Getúlio Vargas, que, como escreveu em sua carta-testamento, saiu “da vida para entrar na história”. Bolsonaro estaria disposto a seguir os passos de Vargas?
A terceira opção de Bolsonaro: a vitória. As pesquisas de intenção de voto mostram que se a eleição fosse agora, ele seria derrotado pela maioria dos candidatos em eventual segundo turno.
Mas as multidões nas ruas neste 7 de Setembro animaram o presidente a seguir em frente em seu propósito de continuar no poder, mesmo diante de uma derrota. Por isso, Bolsonaro insiste no “voto impresso e auditável”, tenta desacreditar a urna eletrônica e o processo eleitoral brasileiro a fim de justificar uma revolta pós-derrota.
É fato que não haverá “voto impresso” nas eleições de 2022, depois de proposta de lei rejeitada pela Câmara dos Deputados. Bolsonaro, no discurso da Paulista, também disse: “Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral”.
Então, o presidente tem duas opções: participar da eleição ou desistir de concorrer à reeleição. Na primeira hipótese, ele pode ganhar ou perder, e terá que aceitar a vontade das urnas. Na segunda, não há a possibilidade da vitória que ele elege como único caminho possível.