Da Redação
MANAUS – Pela segunda vez, instituições públicas federais, estaduais e municipais se comprometeram a adotar medidas de conscientização, preventiva e repressiva contra a violência no parto nas unidades de saúde do Amazonas. O Termo de Cooperação Técnica foi assinado pelo procurador-chefe do MPF (Ministério Público Federal), Edmilson Barreiros, e o procurador-Geral de Justiça do MP-AM (Ministério do Amazonas), Carlos Fábio Braga Monteiro.
A procuradora Regional de Direitos do Cidadão do MPF-AM, Bruna Menezes, disse que é necessário conscientizar as mulheres para defender seus direitos. “É preciso que haja uma atividade educativa para que todos saibam seus direitos e possam, no momento certo, exigi-los. Os órgãos presente reconhecem que há violência obstétrica no Estado”, disse.
Melania Amorim, médica ginecologista com reconhecido trabalho de luta contra a violência obstétrica, disse que essa é uma violência de gênero. “Eu, Melania Amorim, reconheço que cometi atos de violência obstétrica por diversas vezes, porque foi assim que aprendi e foi assim que fui treinada. O primeiro passo para reconhecermos que existe violência obstétrica nos hospitais é vestindo a carapuça”, declarou.
A médica revelou que aboliu a prática da episiotomia (incisão efetuada na região do períneo para ampliar o canal do parto) há 14 anos e tomou a prática de não ensinar os seus alunos a fazer o procedimento na hora do parto. A prática da episiotomia no Brasil atinge 54% dos procedimentos médicos e normalmente é considerada desnecessária, sendo um ato de violência obstétrica.
De acordo com a obstetra, internação precoce, impedir a presença do acompanhante, não oferecer métodos de alívio de dor, toques repetidos sem o consentimento da mulher, afastar o recém-nascido da mãe e impedir o contato pele-a-pele, além da atenção não humanizada em casos de abortamento, são exemplos de violência obstétrica. “A violência obstétrica é banalizada, pois muitas procedimentos de profissionais de saúde e médicos são considerados normais. Acredito que as mulheres vão mudar essa realidade e se unirão em favor da vida”, disse promotora de Justiça Cláudia Câmara.
Gabriela Repolho, representante do Movimento de Humanização do Nascimento e Parto no Amazonas, denunciou o caso de uma prima. Repolho já havia sofrido mau atendimento no parto da sua filha Paula, o que a levou a sofrer pré-eclâmpsia e perder a visão de um olho. “As mulheres acham que não podem denunciar porque a palavra delas não vai valer mais que a de um médico, mas elas têm que saber que não estão sozinhas, que elas podem denunciar e não podem se calar. Não é fácil reviver as lembranças, mas é preciso ir em frente e lutar para que nenhuma mulher seja violentada. Somos nós por nós”, declarou.