Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Com a suspensão do Festival Folclórico de Parintins devido à pandemia de Covid-19, artistas da ilha precisaram se reinventar. Entre eles, Waldir Santana, conhecido por ter defendido o item pajé pelo Boi Caprichoso por 30 anos e continuar atuando como coreógrafo e figurinista no evento. Waldir recorreu às técnicas do macramê ensinadas pela mãe para garantir o sustento.
O Festival de Parintins é a fonte de renda principal do artista. “O prefeito mandou logo fechar as fronteiras aqui da ilha e não teve festival. E a renda que eu tenho anual é justamente a renda do festival”, diz. “Não tendo festival, fica como uma cidade qualquer. Fica esquecida. Não gera emprego, renda, não chega verba”, diz Santana. “A fome bate na nossa porta todos os dias. A gente vê o semblante das pessoas. O pouco que eu e a minha irmã temos aqui em casa a gente ainda consegue dividir com os que não têm nada”, relata.
A alternativa encontrada foi aplicar os conhecimentos deixados pela mãe quando ele tinha 15 anos, sobre o macramê, uma técnica de tecedura. “Eu fui buscar lá no passado o que eu já tinha dentro de mim que eu não usava, que eu herdei de minha mãe, da Maria Trindade, que foi uma das pioneiras, a primeira a botar o macramê nas fantasias indígenas aqui do Festival Folclórico de Parintins, tanto no Caprichoso quanto no Garantido”, conta.
Waldir relata que pesquisou mais sobre a técnica na internet e reuniu o material que tinha no ateliê. No começo afirma que não foi fácil, mas depois relembrou o que aprendeu.
“Foi difícil, porque tudo é prática. É que nem um computador, que nem um outro tipo de trabalho que a gente faz. Se não tivermos prática, vamos esquecendo os fundamentos básicos”, diz. “Mas veio fluindo naturalmente, porque já estava no sangue”.
O artista conta que o trabalho é como uma terapia e pretende continuar no ramo. “Eu tenho pensado muito em não abandonar mais o macramê. O macramê já faz parte da minha vida. Eu amo fazer isso, passo o dia inteiro no meu ateliê tecendo, procurando fios e cordas”, diz.
Waldir planeja levar o estilo para o festival folclórico. “Pretendo fazer um projeto novo de técnicas do macramê para justamente dar aula no Caprichoso e fazer a entrada do macramê, pelo Conselho de Arte, nos figurinos do Boi”, afirma.
Atualmente, o artista produz itens de decoração como tapetes, porta-garrafas, centro de mesas, floreiras e luminárias. O projeto de Waldir tem incentivo da Lei Aldir Blanc, por meio da Prefeitura de Parintins e Governo Federal.
O parintinense relata que o trabalho ajuda com a renda, mas ainda não é muito valorizado. “Tem ajudado, mas não muito. Eu gostaria que as pessoas valorizassem mais, mas não valorizam muito. Elas só acham lindo, aplaudem, mas não compram”, diz. Waldir permanece otimista. “Mas eu agradeço a Deus, é tudo no começo”, afirma.