EDITORIAL
MANAUS – Notícia publicada no Amazonas ATUAL na segunda-feira (26) dando conta de que o vereador de Manaus Daniel Vasconcelos viajou a Óbidos (PA) em pleno recesso parlamentar para visitar a câmara de vereadores daquele município paraense, foi tratada pelo político como uma ofensa.
Primeiro, o vereador afirma, em nota, que na publicação dos fatos “foram dados um ar de escândalo, quando de fato são algo corriqueiro e dentro da legalidade (sic)”. Segundo, Vasconcelos chama a notícia de “ataque gratuito disfarçado de jornalismo”.
Vamos aos fatos: o vereador viajou para um município paraense, mas não a qualquer município e sim à cidade natal dele, onde mantém parentes e amigos. Por mais nobre que sejam as intenções, a viagem ganha um ar de suspeição quando bancada com dinheiro do contribuinte.
Essas suspeições aumentam quando se revela que o vereador Daniel Vasconcelos viajou em período da festa da padroeira de Óbidos, Sant’Ana, a maior festa católica do município em que o parlamentar nasceu.
Daniel Vasconcelos chegou a Óbidos na tarde de sábado, por volta de 15h. No sábado, a Câmara Municipal de Óbidos estava fechada, assim como no domingo. Na segunda-feira, quando, segundo a portaria que autorizou a viagem, ele deveria começar os compromissos com os vereadores do município paraense, era o dia da padroeira do município e, de novo, os órgãos públicos estavam fechados.
O vereador, em nota publicada nas redes sociais dele, afirma que foi a Óbidos para cumprir agendas com os vereadores e o prefeito do município para “alinhar junto àquela instituição municipal termo de cooperação técnica com o objetivo de auxiliar os obidenses que residem em Manaus”. Segundo o vereador, são mais de 30 mil obidenses na capital amazonense.
Nada contra o vereador querer ajudar seus conterrâneos, mas se o Supremo Tribunal Federal, e todos os demais tribunais do país realizam reuniões virtuais, porque um vereador precisa viajar para outro estado fara fazer tratativas com parlamentares?
Em tempos de pandemia, o mundo descobriu que as reuniões presenciais são dispensáveis na imensa maioria dos casos. Aulas foram realizadas pela internet; seminários, workshops, shows de artistas, tudo pode ser realizado virtualmente.
Portanto, não haveria qualquer necessidade de o vereador viajar para Óbidos para “alinhar” com os vereadores de lá um termo de cooperação técnica.
A única coisa que explica a viagem é a necessidade que o vereador sentia de participar dos festejos da padroeira de Óbidos.
Também não há nada contra Daniel Vasconcelos viajar para participar da festa da padroeira de sua cidade natal, desde que faça isso com o dinheiro dele.
Usar o cargo de vereador para fazer esse tipo de gracejo é um escândalo, sim. Mas a matéria do Amazonas ATUAL nem chegou a esses detalhes, se limitou a falar da viagem e do que a Câmara Municipal de Manaus informou que era a motivação do deslocamento.
O site Amazonas ATUAL não faz e nem fez, no caso do vereador Daniel Vasconcelos, “ataque gratuito disfarçado de jornalismo”. No caso em questão, apenas demos publicidade a um fato que começa a ganhar ar de escândalo, sim, pelos próprios fatos, e não por vontade do jornalismo feito pelo Amazonas ATUAL.