A polícia turca utilizou bombas de gás lacrimogêneo e entrou em confronto durante protestos várias cidades do países na noite deste domingo (2), para dispersar milhares de manifestantes reunidos diante do gabinete do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, em Istambul, segundo informações das agências de notícias. Os confrontos entre policiais e manifestantes prosseguiam na noite deste domingo em Istambul, em meio a uma onda de protestos que teve início na semana passada e já culminou na prisão de mais de 1.700 pessoas em várias cidades do país.
Os protestos começaram na sexta-feira (31) devido a um projeto de renovação da praça Taksim de Istambul, mas desencadeou manifestações contrárias ao governo em várias cidades do país.
Em Ancara, a polícia dispersou com bombas de gás lacrimogêneo e canhões de água uma multidão de milhares de pessoas que se dirigia à sede do chefe de governo, cantando slogans hostis a Erdogan.
Os manifestantes, obrigados a deter sua passeata diante das barricadas policiais, responderam lançando tijolos e destruindo vitrines de várias lojas. Dois carros foram incendiados, assim como uma banca de jornais.
Segundo a agência de notícias Anatolia, estes confrontos deixaram 56 feridos entre as forças de segurança. Vários manifestantes foram detidos. O sindicato de médicos de Ancara havia informado que 414 civis ficaram feridos no sábado em incidentes produzidos na capital, seis deles gravemente.
Manifestantes detidos
O ministro do Interior, Muamer Guler, revelou que a polícia deteve mais de 1.700 pessoas nas manifestações por todo o país, mas a maioria já foi solta. No total, foram registradas 235 manifestações na Turquia desde 28 de maio, acrescentou Guler, citado pela agência de notícias Anatólia.
Organizações de direitos humanos turcas e estrangeiras avaliam em mil os feridos nos protestos e a Anistia Internacional cita, inclusive, dois mortos. Centenas de manifestantes permaneciam na noite deste domingo na Praça Taksim de Istambul, abandonada pela polícia após dois dias de violentos confrontos, e estão determinados a manter vivo seu protesto contra Erdogan.
A praça Taksim e o pequeno parque Gezi, cujo projeto de supressão gerou na sexta-feira o movimento de protesto antigovernamental, foram ocupados durante toda a noite por centenas de manifestantes que festejaram o recuo do primeiro-ministro.
Recuo
A saída da polícia, no sábado, refletiu um recuo de Erdogan, cujo governo é muito criticado pela violenta repressão do movimento de protesto.
No entanto, os manifestantes parecem dispostos a seguir travando sua batalha, já que as barricadas continuavam erguidas neste domingo nas ruas que levam à praça Taksin, com mobiliário urbano, carros ou inclusive ônibus virados.
Ao pé das barricadas, com inscrições como ‘hukumet istifa’ (‘governo renúncia’), grupos de manifestantes pareciam se preparar para mais confrontos. “Todos os turcos estão fartos há 10 ou 11 anos, hoje todos querem que o primeiro-ministro vá embora”, disse um deles, Hallit Aral, à agência de notícias France Presse.
O presidente da Turquia, Abdullah Gul, fez um chamado ao “senso comum” e à “calma” e considerou que os protestos alcançaram um nível inquietante.
“Em uma democracia, as reações devem ser expressadas (…) com sentido comum, com calma, e os líderes devem mobilizar seus esforços para ouvir as diferentes opiniões e inquietações”, disse o presidente.
Países aliados ocidentais, como Estados Unidos e Reino Unido, também convocaram o governo turco à moderação.
O regime sírio, por sua vez, agora inimigo jurado de Ancara, acusou Erdogan de dirigir seu país de forma terrorista e “destruir a civilização e as conquistas do povo turco”, afirmou o ministro sírio da Informação, Omran al-Zohbi.