Desmoralizado, o presidente da República, Michel Temer (PMDB), desmoraliza a Câmara dos Deputados durante a tramitação do pedido de investigação dele no STF (Supremo Tribunal Federal). Nos últimos dias, nove deputados titulares da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) foram substituídos. Todos eles por um único motivo: votariam a favor da aceitação da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer por corrupção passiva.
Nesta quarta-feira, 12, o PMDB, o PP e o PR devem decidir o tamanho da punição para os deputados que votarem a favor da aceitação da denúncia. Esses partidos são parte de uma operação conjunta do governo para tentar barrar a investigação contra o presidente. As três legendas têm 148 deputados e o governo precisa de 172 votos para sepultar a denúncia.
Ora, o ato de aceitar a denúncia não significa uma condenação prévia. É apenas um recurso garantido na Constituição Federal para que o denunciado seja investigado no foro competente, o STF. A sociedade clama pelo esclarecimento da verdade. Quer ver os fatos e argumentos passados a limpo. Não há como revelar a verdade sem o devido processo legal no Supremo Tribunal Federal. Neste momento da história brasileira, a palavra do presidente da República vale menos que um vintém.
Portanto, é dever, é um dever moral, a Câmara dos Deputados permitir que Michel Temer seja investigado. Como representantes do eleitor que os colocou no parlamento, os deputados deveriam atuar com responsabilidade e não por conveniência, como demonstram agora.
Ao aceitarem a interferência do Poder Executivo, os deputados transformam a Câmara em uma espécie de bordel do Executivo. Aqui, a palavra bordel tem um sentido de lugar onde se faz negócio, negócio imoral, é claro. Não há como aceitar como moral, apesar da legalidade do troca-troca de deputados e deputadas na CCJ.
O próprio presidente da comissão, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), afirma que o troca-troca fere a independência dos deputados que atuam o tempo inteiro na CCJ. Substituir pelo motivo alegado é uma agressão não apenas ao substituído, mas à sociedade.
O mais indecente nessa história é que os deputados vendidos, que aceitam compor o colegiado no lugar de outro colega, o fazem em troca de benefícios pagos com dinheiro público. São cargos, liberação de emendas parlamentares para melhorar a imagem do parlamentar na sua base eleitoral entre outros negócios acertados entre quatro paredes. O presidente usa dinheiro do contribuinte para comprar sua própria impunidade.
É vexatória a situação da política brasileira. Definitivamente, os políticos perderam qualquer senso de ridículo, de moral e de decência. Estamos abaixo do limbo.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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