Por Alessandra Taveira, da Redação
MANAUS – Construído há 15 anos por R$ 20 milhões – R$ 14 milhões do Ministério dos Transportes, na época, e R$ 6 milhões da Prefeitura -, o Terminal Pesqueiro de Manaus, em Educandos, zona centro-sul da capital, ainda não tem peixe armazenado. O complexo é formado por uma balsa na água e um galpão com câmara frigorífica em terra, mas sem equipamentos para a conservação do pescado. A estrutura na orla do Rio Negro está abandonada e o governo federal pretende vendê-la.
Apenas a balsa é usada, mas a engenharia é criticada por pescadores e comerciantes. Segundo eles, sem rampas a estrutura dificulta a logística de descarga de peixes. “Não há organização, essa é a verdade. Não tem ninguém administrando esse espaço”, diz uma comerciante que compra peixe no local para revender ao consumidor.
Sob condição de não ter o nome revelado, ela diz que “a maior dificuldade para descarregar o peixe é quando o rio está seco porque isso aqui poderia ter uma cobertura maior, ter energia e água potável”.
“Todo mundo que trabalha aqui precisa pagar uma taxa, mas ninguém administra a entrada e saída de barco. Simplesmente a pessoa chega e encosta, pega a caixa (para recolher os peixes), paga no final da madrugada e, quando termina as vendas, vai embora”, disse a comerciante. O ATUAL apurou que o valor varia de R$ 10 a R$ 30. Pescadores e comerciantes questionam sobre o destino do dinheiro arrecadado.
“Ninguém é contra pagar uma taxa por barco, só que esse dinheiro não retorna em benefícios para o terminal. Ninguém sabe para quem vai esse dinheiro. A balsa nunca vê esse retorno. Pelo tempo que eu tenho aqui, posso dizer que o que a balsa arrecada dá pra ajeitá-la”, disse a comerciante.
Raimundo Nonato, 53, que trabalha há 30 anos com pesca e há 10 anos no terminal, também reclama da desorganização. “Nós chegamos aqui e ficamos esperando o outro motor sair para conseguir parar. Tem motor que mesmo estando seco não sai para dar vaga. Acho injusto pagar R$ 30 por algo que era para ser de graça”, disse.
Privatização
A notícia sobre a venda do terminal chegou aos usuários da balsa, que são contra. Eles entendem que o valor da taxa pode aumentar. “Há condições de ajeitar essa balsa com o que ela arrecada. A gente sabe que dá. Não é necessária a privatização. As pessoas que idealizaram isso aqui não sabem que a realidade é diferente”, disse a comerciante. “O pescador não vai querer ficar à mercê de uma única empresa para mexer no peixe dele”.
O dinheiro das taxas pode equipar o galpão e o frigorífico, segundo os comerciantes. Com infiltrações, sem energia elétrica, e teias de aranha, o galpão tem sido usado para outra finalidade. No local o ATUAL encontrou roupas íntimas e preservativos usados, além de restos de cigarro e garrafas de bebidas alcoólicas.
“Esse frigorífico foi o mesmo que nada. Ninguém usa. Se funcionasse, ninguém ficaria empatando o outro a encostar. Deixaria o peixe lá armazenado e venderia depois por um preço mais barato e daria para tirar pelo menos a despesa da gente”, disse Raimundo Nonato.
Pelo Governo Federal, o Terminal é descrito como uma obra “em andamento” e que “não é utilizado em sua capacidade total, sendo necessário instalar esteiras, equipamentos para transportar o pescado da balsa para as câmaras frigoríficas, além de fornecimento de água e luz”.
Repercussão
A intenção de vender o terminal, manifestada pelo presidente Jair Bolsonaro em rede social, levou deputados estaduais a proporem soluções. Adjuto Afonso (PDT) disse ser a favor da privatização, “desde que tenha a participação direta dos pescadores, através da Fepesca (Federação dos Pescadores do Estado do Amazonas) e da CNPA (Confederação Nacional de Pescadores e Aquicultores)”. Segundo o parlamentar, o espaço pode se tornar um atrativo turístico.
Serafim Corrêa (PSB) sugere que União devolva o dinheiro ao município de Manaus. Por enquanto, a única pesca efetiva no terminal é de taxa de comercialização cobrada na balsa. Como entreposto comercial de peixe, o terminal ainda não serviu a Manaus.
O ATUAL solicitou posicionamento do Ministério da Infraestrutura, que não se manifestou até a publicação desta matéria.
(Colaborou Murilo Rodrigues)
Veja a reportagem de Alessandra Taveira
Há que se cobrar do Ministro dos Transporte, à época. Por que não se faz isso?