Por Marcelo Moreira, do ATUAL
MANAUS – “Tá com pressa, vai de helicóptero”. A sugestão, em tom de ironia, é apropriada para o trânsito de Manaus, não muito diferente de outras capitais em que congestionamento, lentidão, imprudência e briga são rotina.
Em vez de mobilidade urbana o ambiente é de irritação urbana. Profissionais da psicologia orientam que, nesse cenário com nervos à flor da pele, o melhor é manter a calma e se prevenir contra o risco de acidentes.
A universitária Williane Castro, de 21 anos, sente nos nervos o dia a dia nas ruas da capital. O estresse, inevitável, ela evita manifestar. O que gera outro sentimento: a frustração. Williane diz que mesmo assim consegue controlar as emoções.
“Não é como se eu fosse baixar a janela e xingar a pessoa. Pelo contrário, eu xingo muito, mas só na minha cabeça. Às vezes bato no volante do carro e tal. Mas são momentos. Eu não tendo a permanecer estressada”, disse.
Um acidente ocorrido em março deste ano foi um desses momentos de estresse, mas manter a calma foi a melhor decisão, disse Williane.
“Um carro me bateu em um estacionamento na Avenida Djalma Batista. A batida fez um grande estrago na porta do meu carro e o veículo do outro motorista também ficou bem estragado. Ele perguntou se eu queria que ele pagasse o prejuízo. Eu disse que não, eu falei que daria conta. Respirei fundo, lidei com a informação, mas ele ficou bem alterado com a situação”, contou.
Acidentes como o de Williane nem sempre implica culpa dos motoristas. O engenheiro de trânsito Manoel Paiva diz que a falta de planejamento da cidade contribui para estresse dos condutores. Isso porque entraves viárias na mobilidade urbana deixam as pessoas mais tempo em congestionamentos.
“As nossas vias estão constantemente congestionadas. Tem mais carro do que via. As pessoas ficam estressadas. Esse congestionamento e esse estresse fazem com que as pessoas cometam mais infrações e isso aumenta também o número de acidentes”, diz.
Manoel Paiva destaca que para que o trânsito seja mais humano, mais viável e, consequentemente, mais confortável, é necessário melhorar a mobilidade urbana e pensar no trânsito para pessoas, não para veículos.
“Precisamos melhorar a operação do transporte público de passageiros para que tenhamos maior velocidade comercial dos ônibus em nossas vias e diminuir o tempo das viagens. E para que haja uma boa convivência no trânsito, o poder público deve investir em ações educativas”, propõe.
Rapidez no deslocamento na cidade em dias úteis é privilégio de motociclistas, pois encontram espaço nos corredores de veículos, calçadas e canteiros centrais das vias. Se estiver de carro, nem buzinando a fila anda. A pressa está associada à falta de gerenciamento de tempo. As imprudências também podem contribuir para a alteração do ânimo dos motoristas, explica a psicóloga Deborah Pacheco:
“Nós temos esses fatores e temos também a dificuldade de seguir regras de pessoas que tentam burlar esse caminho até o destino. Esse famoso jeitinho, esse famoso ‘vou para essa brecha’, ‘cortar caminho’, esse pensamento faz com que a gente tenha esse fator estressante”, pontua.
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Há cinco anos Ivaldo Martins, de 42 anos, trabalha como motorista por aplicativo. Ele diz que faz de tudo para não se estressar no trânsito. “Eu trabalho o dia todo com o meu ar-condicionado ligado. O estresse acontece quando alguém me dá uma ‘fechada’, uma ‘cortada’ no trânsito, dá um pouco de raiva. Mas quando acontece um acidente comigo, eu hajo naturalmente: desço do meu veículo, vou até a pessoa envolvida, converso e me entendo com ela normalmente” disse.
Se você é desses apressadinhos ou que não consegue manter a calma no trânsito travado, eis algumas dicas que podem ajudar a se locomover sem perder a paciência ou precisar alugar um helicóptero.
Organizar o tempo
Especialistas defendem a organização tempo como uma das principais dicas para evitar estresse no trânsito. A orientação é fazer o planejamento de rota para fugir de congestionamentos e de horários com fluxo intenso, isto é, encontrar caminhos alternativos.
Procurar a tranquilidade
Essa dica pode até parecer óbvia, mas a psicóloga afirma que para encontrar a tranquilidade, é preciso estar disposto a realizar ações que fazem a diferença.
“Por exemplo, colocar uma música que leve à tranquilidade, que consiga realmente acalmar a mente durante todo o trânsito. Essa dica vale principalmente para motoristas de aplicativo”, disse Deborah.
Evitar o uso do celular
Além de ser uma infração que prevê multa de R$293,47 e perda de 7 pontos na carteira, pode causar gatilhos para o estresse.
“O celular é um fator estressor e gera ansiedade. As pessoas que estão com o celular no trânsito, elas tendem a ser dispersas e causar acidentes”, ressaltou a psicóloga.
Ter uma boa alimentação
A alimentação saudável é defendida não só por profissionais da nutrição, mas também pela psicologia. Afinal, a fome traz o mal humor, não é mesmo? Então, se você sabe que pode passar muito tempo no trânsito, a dica é sair de casa bem alimentado e sempre andar com um lanche e com uma garrafa com água dentro do transporte. Fazer as necessidades fisiológicas antes de começar o trajeto também é importante.
Ter autogerenciamento emocional
É compreender que, além de você, existem outras pessoas no trânsito também. Às vezes, todos estão no mesmo horário, com as mesmas necessidades, no horário de pico. Reconhecer a situação caótica pode ajudar a evitar o estresse.
Agir de maneira racional
A razão precisa ser mantida principalmente em caso de acidente, por mais que seja difícil. É compreensível que o emocional fique abalado, mas o racional deve ser priorizado para que as decisões sejam tomadas de forma mais consciente.