O evento Sou Manaus, da Prefeitura de Manaus, já terminou. Porém, o assunto merece reflexão, não somente pela questão cultural e gastos públicos envolvidos, mas também pela questão da necessidade de um projeto de Revitalização do Centro que traga benefícios permanentes para a população.
O evento Sou Manaus Passo a Paço, promovido pela Prefeitura de Manaus, ocorrido nos dias 5, 6 e 7 de setembro de 2023, em ruas e áreas do Centro Histórico da cidade, foi motivo de elogios e de críticas. Toda a imprensa elogiou. Alguns dizem que a razão é o patrocínio mensal da Prefeitura. Mas certamente milhares de pessoas que assistiram os diversos shows, com artistas nacionais e até internacional, deve ter apreciado, sendo uma opção de lazer na Semana da Pátria.
No entanto, o evento foi muito caro. Uma semana antes do evento, a Prefeitura anunciava um custo de R$ 28 milhões, mas se apressou em enfatizar que a maior parte seria da iniciativa privada. Com a realização do evento, seria bom que a Prefeitura tivesse divulgado com detalhes os gastos realizados e os valores pagos para cada artista, os locais, as atrações nacionais e o David Guetta, que veio da Europa, apresentando-se por uma hora e foi embora. Quanto custou isso? E quem pagou? A transparência dos gastos públicos ainda está valendo como obrigação legal.
Mas o Sou Manaus acabou e o que ficou disso? Como fica o Centro Histórico? Que projeto existe? No Centro temos várias atrações turísticas: A Igreja Matriz e seu entorno, a Praça da Matriz e seu chafariz, o Porto construído pelos ingleses, o Mercadão, o casario histórico, várias praças, o comércio tradicional, a Feira da Manaus Moderna e o Porto dos barcos regionais, o Rio Negro, as agências para passeios fluviais próximos e muito mais.
Contudo, a realidade do Centro da cidade é de abandono, com casas antigas, que funcionaram no passado como residência e outras como comércio, que estão em ruínas; o comércio que resiste, fechando cedo, devido à falta de segurança; as praças que resistem, necessitando de permanente manutenção; nem banheiros públicos têm; e crescente presença e permanência de moradores em situação de rua.
Há tempos defendo um Projeto de Revitalização do Centro da cidade, transformando em espaço da cultura, da gastronomia, do turismo não somente para os visitantes de outros estados e países, mas um local com frequência dos moradores da cidade, com suas famílias e amigos. Por que é tão difícil ter restaurantes regionais no Centro, contemplando o belo Rio Negro?
Manaus precisa de cuidados. Não cuidam do Centro, muito menos dos bairros. Vejo que a Prefeitura está lançando asfalto em centenas de ruas da cidade. Mas sem preocupação com meio fio, sarjeta, calçadas, bueiros, canalização de águas pluviais e inservíveis, sem qualidade e serviços duradouros. Aliás, pouca preocupação com a mobilidade urbana, trânsito, planejamento urbano, revitalização dos igarapés, arborização, beleza e funcionalidades na cidade.
Sou Manaus poderia incluir todos estes aspectos do cuidado do Centro e de toda a cidade. Sou Manaus é fazer parte de uma cidade inclusiva, bela, turística, ambiental, verdejante, com águas limpas, com vida, com orgulho, com participação da população, com transparência e planejamento dos gastos públicos, com responsabilidade e qualidade nos serviços prestados, com um lugar bom para viver e trabalhar. Isso sim seria de fato “Sou Manaus”, e não a gastança que vimos dias atrás.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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