Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS – O secretário de Segurança Pública do Amazonas, Marcus Vinícius Almeida, classificou como “padrão” a abordagem policial ao deputado federal Amom Mandel (Cidadania) na Operação Impacto e disse que a “intransigência” do parlamentar gerou uma “crise desnecessária”.
O procedimento, ocorrido na noite de quinta-feira (4), na Avenida Autaz Mirim, na zona leste de Manaus, terminou com o deputado e policiais militares na delegacia de Polícia Civil. O deputado diz que sofreu coação dos agentes.
“Se houve excesso, isso vai ser visto no inquérito. O inquérito vai dizer quais as punições decorrentes disso. Temos que aguardar a avaliação da Polícia Civil”, disse Almeida, em entrevista a jornalistas neste sábado (6).
A manifestação do secretário ocorre após Amom associar a abordagem a uma “série de episódios de intimidação” que ele sofreu ao denunciar envolvimento de integrantes da alta cúpula da Segurança Pública com o tráfico de drogas.
Nesta sexta-feira (5), Amom relatou à PF que não sente que o Estado do Amazonas tenha hoje a capacidade de garantir e resguardar sua integridade física e pediu proteção federal.
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Marcus Vinícius Almeida rebateu o deputado e expôs a versão da polícia sobre o que ocorreu na noite da confusão com o parlamentar.
De acordo com o secretário, os agentes realizavam, nas proximidades da bola do produtor, na zona leste, a operação contra o crimes na região. Eles avistaram um veículo com película 100% que transitava de forma suspeita, trocando de faixa e com as lanternas desligadas, e pediram para que a pessoa que conduzia o veículo parasse, mas a ordem não foi atendida imediatamente.
Quando o veículo parou, os agentes fizeram a abordagem com arma em punho. Almeida disse que esse é o padrão para a situação.
“Um veículo com insulfilm 100%. O procedimento padrão da Polícia Militar é abordar, sim, com a arma em punho porque nós não sabemos quem está lá dentro e o policial ali pode receber um tiro e morrer. Não dá para fazer uma abordagem sem estar com arma em punho. Esse é o normal, está previsto no procedimento operacional padrão da Polícia Militar”, afirmou Almeida.
Ainda conforme o secretário, estavam Amom e duas mulheres. O deputado questionou a legalidade da abordagem e deu ordem de prisão aos policiais, incluindo oficiais. “Me causou estranheza a prisão de uma guarnição da Rocam. Eu nunca tinha visto isso”, disse Almeida.
O deputado ligou para o secretário duas vezes para pedir providências contra os agentes envolvidos na abordagem policial. O deputado foi informado que o procedimento correto seria o registro de denúncia à Corregedoria da SSP-AM (Secretaria de Segurança Pública do Amazonas), mas não aceitou.
“O deputado estava intransigente em conduzir uma ocorrência que deveria ir para a Corregedoria da polícia”, disse Almeida.
Após discussões sobre o procedimento, todos foram para o 14º DIP (Distrito Integrado de Polícia). Lá, o deputado e os policiais registraram a ocorrência.
“Cortina de fumaça”
O secretário classificou como “cortina de fumaça” a associação da abordagem policial à denúncia de Amom contra a alta cúpula da SSP-AM.
“É uma tentativa do deputado de criar uma cortina de fumaça para tirar o foco do que aconteceu. O que aconteceu foi uma abordagem padrão da Polícia Militar em que, ao final, os policiais foram desrespeitados, humilhados. Esses são os fatos”, disse Almeida.
De acordo com secretário, as acusações de Amom vieram à tona após a Polícia Civil negar a prisão em flagrante dos policiais que o abordaram e o caso repercutir na mídia.
“A partir daí a gente começa a ver diversas postagens, diversas ações do deputado, lógico, em virtude da repercussão que isso tomou na cidade. É inusitado ver um deputado dar uma voz de prisão para uma guarnição que está simplesmente cumprindo o seu dever”, disse Almeida.
“E em uma forma de criar uma cortina de fumaça a gente está vendo nas últimas 24 horas diversas narrativas surgirem a respeito do fato. Uma delas é que teria sido feito uma abordagem em virtude de uma denúncia realizada. O local onde foi realizado o início da operação foi inclusive pauta enviada a toda a imprensa. Todos sabiam onde iria iniciar operação”, completou.
“Nenhum de nós sabe qual é o carro do deputado ou de qualquer outro cidadão para fazer ação direcionada. A cortina avança me atacando dizendo que em algum momento eu seria criminoso ou algo do tipo”, disse Almeida.
“Se existe, na alta cúpula da Segurança, algum envolvimento com o crime, por que eu recebi uma ligação em que a intenção deliberada era que nós intervíssemos na ocorrência para direcioná-la para um flagrante delito? Coisa que eu jamais iria fazer. Se eu tivesse feito, sim, seria criminoso. Se eu fosse, realmente, criminoso, por que ligar para um criminoso buscando apoio? É meio inusitado”, completou Almeida.
Sobre as denúncia contra a alta cúpula da SSP-AM, o secretário disse que a polícia é a autoridade competente para investigar. “Se existem fatos, apresente à autoridade competente. Ela vai tomar o devido processo legal. Estaremos aqui para responder com muita tranquilidade”, disse Almeida.
Atrito
Após a situação, Almeida disse que o presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, Roberto Cidade (União Brasil), tentou resolver a situação entre o parlamentar e o pessoal da polícia.
De acordo com o secretário, em uma ligação feita antes de o deputado anunciar que iria à PF, Almeida disse a Amom: “Deputado, eu penso que foi uma abordagem de rotina. Eu penso que se escalou uma crise desnecessária porque faz parte do dia a dia da Polícia Militar. Eu penso que atacar a Rocam ou a Polícia Militar não é interessante porque são instituições importantes para o povo do Amazonas. Acho que o melhor a ser feito é nós sentarmos e fazermos um vídeo dizendo que, realmente, teve a abordagem, mas que o senhor compreende”.
Amom queria que Almeida gravasse um vídeo dizendo que a Rocam tinha errado, mas o secretário disse que se recusou e que Amom se exaltou.
Após a entrevista concedida por Almeida, a assessoria de Amom reafirmou que o deputado sofreu ameaças e intimidações após denunciar membros da alta cúpula da SSP-AM.
Leia a nota na íntegra:
Nota
Todas as informações referentes à denúncia feita pelo deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) à Polícia Federal, sobre o suposto envolvimento de membros da alta cúpula da Segurança Pública do Amazonas com organizações criminosas, foram divulgadas nesse sábado (06/01) à imprensa local. Junto a esse material estavam as informações sobre a consequente abordagem policial ocorrida na última quinta-feira, 4 de janeiro de 2024.
A denúncia à PF, que ocorreu no dia 13 de dezembro de 2023, foi mantida em sigilo por questões de segurança. Nas semanas seguintes, o deputado sofreu ameaças, insinuações e intimidações de diversas vertentes, além de ter sido alvo, junto com a sua companheira, de uma abordagem policial truculenta. Por esse motivo, Amom decidiu trazer a público o caso, como tentativa de se resguardar. Sendo assim, é falsa a afirmativa do secretário de Segurança Pública do Amazonas, Cel Marcos Vinícius, dita em coletiva, de que o deputado fez uma cortina de fumaça.
A abordagem policial truculenta foi relatada à Polícia Federal e foi apensada como parte da investigação anterior. Esse inquérito irá apurar tanto o envolvimento da alta cúpula da segurança pública com facções criminosas, quanto as intimidações contra o parlamentar. As medidas cabíveis foram tomadas e a investigação dos fatos será feita de acordo com os trâmites legais.
Amom Mandel (Cidadania-AM)
Deputado federal
6 de janeiro de 2024