Falta dinheiro nos hospitais do Amazonas porque uma quadrilha instalada na estrutura da saúde e do Governo do Estado está roubando esses recursos públicos.
No ano passado, a Operação Maus Caminhos, da Polícia Federal, com apoio da Receita Federal e da CGU (Controladoria Geral da União), começou a desvendar essa quadrilha, essa organização criminosa especializada no desvio de recursos públicos do Fundo Estadual de Saúde do Amazonas.
Uma entidade social chamada Instituto Novos Caminhos, através de empresas terceirizadas Salvare, Total Saúde e Simea, desviaram cerca de R$ 112 milhões da saúde. Na ocasião foram presos empresários e funcionários envolvidos, alguns já soltos pela Justiça.
Agora, esta semana, a 2ª fase da Maus Caminhos foi iniciada com a Operação Custo Político, que prendeu os ex-secretários de saúde, Wilson Alecrim e Pedro Elias, e os ex-secretários de estado, Raul Zaidan e Evandro Melo, este último irmão do ex-governador José Melo, cassado por corrupção eleitoral. Ainda estão tentando prender o ex-secretário de Fazenda, Afonso Lobo.
Também foi preso um coronel da Policia Militar que cuidava da segurança do chefe da quadrilha, o empresário Mouhamad Moustafa, que tinha sido preso no ano passado, mas foi solto recentemente. Várias outras pessoas foram presas nesta operação e tiveram os bens bloqueados no valor de R$ 67 milhões. Tudo isso foi resultado de investigações que começaram antes de 2014 e foram até 2016.
Segundo a Polícia Federal, eram pagas propinas que chegavam a R$ 133 mil por mês para alguns dos envolvidos, ex-secretários, para facilitar as licitações, as contratações e obtenções de vantagens dentro da administração pública.
Por isso, faltam recursos para a saúde no Amazonas. A maioria dos hospitais está sucateada, faltam equipamentos, funcionários, filas enormes para exames e cirurgias, além de atrasos nos pagamentos dos contratados. Nos 19 municípios que visitei nos últimos meses, o abandono é gritante. No Castanho, a reforma está parada há 05 anos. Em Silves, a diretora diz que vai parar o atendimento. Em São Sebastião do Uatumã, há meses que o Estado não manda recursos. Em Autazes, não tem autoclave para esterilizar os instrumentos cirúrgicos. Em Manaquiri, não tem ambulância e o mesmo acontece na maioria dos hospitais. E assim, por diante.
Há muito tempo se cobra transparência e auditoria nos contratos da saúde entre o Governo do Estado e as empresas. São as terceirizadas, a maioria de propriedade de amigos de deputados, secretários, ou ex-governadores. Muitas contratadas sem licitação, simplesmente pelo apadrinhamento e por propinas, que a Operação Custo Político está mostrando.
O secretário Wilson Alecrim atuou de 2004 a 2008 e depois de 2010 a 2015. Passou pelos governos Omar Aziz e José Melo. Omar Aziz foi citado nas investigações, além de estar delatado na Lava Jato. José Melo perdeu o mandato por crimes de compra de votos e esquemas montados para ganhar a eleição. Não sei se as investigações vão se aprofundar.
Na ALE já falei várias vezes, que teria que ser feita uma auditoria nos 600 contratos que o ex-secretário Pedro Elias disse que tinha na área da saúde.
Também na ALE, no ano passado foi apresentado um pedido de CPI para investigar os desvios de recursos da Saúde, mas teve somente as assinaturas dos deputados José Ricardo, Luiz Castro, Alessandra Campelo, Sinésio Campos, Vicente Lopes e Wanderley Dallas. Precisava de 08 assinaturas. Não deu.
Ainda na administração do governador Melo, o secretário de Saúde ameaçou fechar mais de 30 unidades de saúde do estado (CAICs, CAIMIs, SPAs, Policlínicas e uma Maternidade), alegando ser necessário economizar R$ 316 milhões. Mas devido pressão da sociedade, as unidades não foram fechadas.
O novo secretário de saúde do Estado, Francisco Deodato, e o governador Amazonino Mendes falaram de um rombo de R$ 1,2 bilhão na saúde, com cerca de R$ 575 milhões de dívidas passadas e R$ 178 milhões sem contrato. Muitos contratos sem licitação.
Diante desse quadro, no mês de outubro de 2017, foi apresentado novo pedido de CPI na ALE, para apurar, investigar as causas de rombo na saúde, analisar os contratos atuais e passados da Susam no período de 2012 a 2017, considerando as denúncias de fraudes e desvios de recursos. Mas até hoje somente 05 deputados assinaram: Jose Ricardo (PT), Luiz Castro (Rede), Sinésio Campos (PT), Sabá Reis (PR) e Platiny Soares (DEM). Faltam 03 assinaturas. Está difícil.
Fico impressionado com a roubalheira do dinheiro público e o sofrimento do povo nos hospitais sem atendimento. Mas também com o silêncio do TCE, do MPE e da maioria dos deputados estaduais do Amazonas. Uma lástima.
Essa é a prática do grupo político que governa o Amazonas há 34 anos. Mudança é urgente. E Cadeia para os ladrões do dinheiro da saúde do Amazonas.
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