A Justiça Eleitoral tem instado junto aos candidatos para que façam uma campanha com propostas e sem baixarias. Em alguns tribunais regionais eleitorais, a exemplo do Amazonas, protocolos foram firmados com base nesses compromissos, em nome de eleições limpas e sem agressões.
Resta saber o que se pode entender como baixaria? De um modo geral, todo e qualquer ataque de natureza pessoal vem sendo visto como tal, característica do discurso desagradável e ofensivo. A propósito, dentre os chamados marqueteiros, consolidou-se a convicção de que a crítica pesada contra adversários não dá votos. Ao contrário, retira toda e qualquer chance de êxito, sob o argumento de que o eleitor quer apenas conhecer as propostas dos candidatos.
Portanto, muito cuidado, apregoam os estrategistas a cada eleição. Nada do que possa ser considerado baixaria deve ser levado ao ar, ainda que contenha verdades indesmentíveis. Ganha com isso quem tem telhado de vidro e perde a população, que vota no escuro, sem conhecer em toda a extensão o candidato que sufragará nas urnas.
As propostas, quando observadas em conjunto ou em particular, guardam semelhança, notadamente em países subdesenvolvidos, onde as carências possuem identidade. Todos, de forma indistinta, fundados na avaliação da realidade, prometem a mesma solução para os mais diversos problemas. O discurso é igual e nivela, ao apontar caminhos que “resolverão” de vez as enormes dificuldades presentes nas áreas da saúde, educação, segurança e transporte público. Na mesma linha, ninguém ousaria discordar sobre os gargalos verificados na infraestrutura de escoamento da produção no Brasil, em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, um dos fatores de nossa baixa competitividade nos mercados internacionais.
Onde está a diferença? Claro que única e exclusivamente nos candidatos, em quem teria ou não credibilidade para levar as promessas à prática, para fazer o que proclama que vai fazer. Desse modo, indispensável conhecer a biografia, a história pessoal de cada um, enfim, saber quem é quem na campanha. Em público e em privado, pois a vida privada interfere na vida pública do ‘homus politicus’, sem maiores fronteiras entre uma e outra. E, para tanto, só há o caminho das informações que possam circular nos programas eleitorais no rádio, na televisão e em outras mídias.
Como deixar de mostrar aos eleitores do Distrito Federal a cena em vídeo, onde o notório José Roberto Arruda, ex-governador e novamente candidato ao mesmo posto, recebe dinheiro em espécie como pagamento de propina, mais tarde preso e condenado em ação de improbidade administrativa? Como não revelar o nome dos postulantes que respondem por crimes contra o erário nas várias instâncias do Poder Judiciário? Como não falar ao povo sobre a corrupção que grassa no governo federal – o imbróglio Petrobras é emblemático –, em níveis estarrecedores e jamais imaginados na história da República? Como não colocar em dúvida o voto em partidos historicamente vinculados a esquemas políticos de balcão e de mercantilização do mandato ou em outros faxinados do poder? Como não questionar a realização de obras com preços que saltam aos olhos como superfaturados, em cima de projetos não prioritários e suspeitos? Como não duvidar de fortunas constituídas à sombra do poder e sem nenhuma justificativa plausível?
Bem, se procedimentos dessa natureza, sob qualquer ótica, configuram baixaria na campanha, bendita baixaria. Afinal de contas, em nome dos princípios democráticos voltados para o sufrágio consciente e pleno, é intolerável o embuste na conquista do voto, característico do estelionato eleitoral, que vicia a representação popular, retirando-lhe toda e qualquer legitimidade.
Incluem-se na farsa e na linguagem da trapaça os programas plastificados, produzidos pelo marketing político em laboratórios e estúdios, com candidatos envoltos em papel celofane, devidamente maquiados e com mensagens elaboradas com apoio em pesquisas. Exibem o que o povo quer ver e dizem o que a massa quer ouvir. Pouco importa o que o candidato é de fato e o que pensa. Tudo é muito bem montado com truques para enganar o eleitor inconsciente e incauto, vítima da teatralidade e do logro.
O resultado é sempre doloroso. Findo o processo e abertas as urnas, saem vitoriosos os manipuladores da vontade popular, comprometendo na essência a construção de uma democracia oxigenada pela verdade e pela honradez. Somente assim se explica a pobreza de nossa atual representação política, num Congresso que já teve expoentes que dignificaram a nacionalidade.