Por Milton Almeida, do ATUAL
MANAUS – A proteção ambiental da Amazônia é possível, desde que envolva o conhecimento, a mobilização internacional e a participação de povos indígenas, comunidades ribeirinhas e investidores para conciliar exploração de recursos naturais com preservação do meio ambiente.
A tese da “democratização ambiental” é defendida por especialistas que conhecem realidades distintas como na África, na Alemanha e no Brasil. É o caso do angolano Mosquito Garrido, especialista em tecnologia e professor da Universidade Jean Piaget de Angola. Segundo ele, a África vive problemas semelhantes aos da Amazônia e “monitorar os recursos que saem do meio ambiente” é uma forma de proteger a floresta.
“Na África temos também problemas com o desmatamento, a caça indiscriminada, as queimadas, e a exploração ilegal de minerais. Uma das coisas que a tecnologia pode fazer é mapear e identificar os recursos do meio ambiente que são retirados de forma fraudulenta, porque o consumidor final é sempre o homem (a pessoa). Por exemplo, o celular, um gravador, um computador, se a pessoa sabe que é um produto ilícito, que vem da exploração da floresta, da exploração de crianças… não podemos deixar que isso aconteça”, diz Garrido, que participa em Manaus do Seminário Internacional sobre a Proteção da Amazônia, organizado pelo MPAM (Ministério Público do Estado do Amazonas). O evento começou nesta segunda-feira (19) e termina na quarta (21).
“Na nossa universidade (em Angola) começamos um projeto para usar a tecnologia para monitorar e combater esses crimes ambientais. Quero ressaltar que os crimes ambientais destroem o planeta e também o ser humano. Se destruímos a Amazônia, vamos destruir a Terra. Chegamos a um ponto deplorável”, diz o angolano. Conforme Mosquito, Brasil e Angola têm uma conexão natural. “Somos semelhantes nas florestas e devemos ser semelhantes em resolver os problemas juntos”.
Conciliar o meio ambiente com a exploração da floresta é uma tarefa difícil, mas possível, afirma o alemão Christoph Burchard, da Universidade Goethe, na Alemanha. Ele é doutor em Direito Internacional. Christoph também participa do seminário do MPAM.
“A nossa tarefa vai ser combinar as ideias dos indígenas com as nossas ideias, para que todos nós possamos sobreviver neste planeta. É possível e é importante. Eu espero que façamos (a tarefa) juntos. É que temos que fazer isso todos juntos para combater os grandes setores que ganham muito dinheiro com o um modelo de capitalismo extremo”, diz Burchard.
Para Gustavo Marin, doutor em Direito Penal e professor da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), a “necessidade de convergência entre os participantes do debate” sobre meio ambiente é urgente. “É importante que haja interação entre os grupos de interesses (pela floresta). Temos que pensar também nas comunidades que são afetadas pelos negócios desenvolvidos na região, que afetam os habitantes da floresta”, diz.
“O debate não pode ser algo fechado. Temos que desenvolver um modelo a partir de uma experiência amazônica, com os habitantes daqui, respeitando direitos de todos os participantes. Temos que democratizar a política pública e a sua aplicação é algo imprescindível”, afirma Gustavo Marin.
Para a amazonense Maria Sonia Marães, especialista em Educação Social do Envelhecimento pela Funati (Fundação Universidade Aberta da Terceira Idade), a exploração do meio ambiente não pode “somente visar o lucro”, mas o bem-estar dos habitantes da floresta.
“Temos que estudar juntos (a situação), fazer a junção entre todos os envolvidos. Temos que entender como funciona as coisas no final da fila, que é a população ribeirinha, os indígenas que já não conseguem pescar o seu peixe com qualidade, o peixe vai causar doenças…”, diz.
Para a educadora, a população ribeirinha perdeu qualidade de vida. “A qualidade de vida que eu tive na minha infância, hoje eu não posso oferecer para os meus filhos. Eu acordava na natureza, respirava um ar puro e, hoje, infelizmente, não podemos oferecer isso. Então, nós temos que discutir, estudar e trabalhar juntos”, defende.