Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – A vacinação contra Covid-19 alcançou apenas 5% da população do Amazonas até esta segunda-feira, 22, conforme dados da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde). Com imunização caminhando a passos lentos, o infectologista Nelson Barbosa alerta para os riscos da flexibilização das medidas restritivas e para a necessidade de imunizar pelo menos 70% da população do estado.
As vacinas são compradas e distribuídas aos estados pelo Ministério da Saúde, que enfrenta dificuldade para adquirir mais doses. Devido a escassez de imunizantes, a primeira etapa da vacinação alcança apenas grupos prioritários, incluindo indígenas, profissionais da saúde, idosos e pessoas com deficiência.
De acordo com a FVS, das 555 mil doses enviadas pelo governo federal, o estado aplicou 242,7 mil, sendo 217,4 mil a primeira dose e 25,2 mil as duas doses. Considerando a estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de que há 4,2 milhões de pessoas morando no Amazonas, a vacinação só alcançou 5% da população.
O município de Manaus recebeu 207,3 mil doses dos imunizantes e já aplicou 121,8 mil até o momento, sendo 114,2 mil a primeira dose e 7,6 mil a segunda dose.
A Prefeitura de Manaus afirma que a campanha de imunização, que chegou a alcançar 15 mil pessoas por dia, teve números reduzidos nos últimos dias porque já está no final da fase atual, que alcança trabalhadores da Saúde e idosos a partir de 70 anos.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, faltam ser vacinados 1,7 mil trabalhadores da saúde e 4,5 mil idosos a partir de 70 anos.
No último sábado, a prefeitura mobilizou equipes para identificar idosos a partir de 70 anos da zona sul da cidade que ainda não receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e orientá-los a buscar um posto de vacinação. A secretaria afirma que as ações serão realizadas também na zona leste de Manaus a partir de amanhã.
Abertura do comércio
Apesar da carência de imunizantes, o Governo do Amazonas autorizou a reabertura do comércio em Manaus a partir desta segunda-feira, 22. A medida, anunciada pelo governador Wilson Lima (PSC) na sexta-feira, 19, considerou a redução do número de mortes e novos casos nas últimas semanas.
De acordo com o governo estadual, o número diário de novos casos na capital amazonense, que chegou a marca de 3,6 mil no último dia 20 de janeiro, ficou na média de 800 na última semana. No domingo, 21, Manaus registrou 753 novos casos de Covid-19.
Para o médico infectologista Nelson Barbosa, que atua no Hospital 28 de Agosto e na FMT (Fundação de Medicina Tropical), em Manaus, a flexibilização das medidas restritivas deveria ocorrer após a imunização de pelo menos 70% da população. Segundo ele, a aglomeração de pessoas pode gerar uma terceira onda de casos de Covid-19.
“É um risco não ter vacinado pelo menos 70% da população. O governo começou a liberar alguns serviços. Vai haver aglomeração de pessoas. Vai haver a circulação do vírus. Novos casos vão surgir. Essa liberação, além de ser setorizada, só deveria começar depois que tivesse pelo menos 70% da população vacinada”, disse Barbosa.
O infectologista explica que a imunização em grande parte da população dificulta a circulação do vírus entre as pessoas. Ele afirma que a população não ficará totalmente imune ao vírus, ou seja, haverá pessoas hospitalizadas em decorrência da Covid-19, mas o número será menor.
“Se você protege 70% da população, a chance de você ter um grande número de pessoas adoecendo é menor. O vírus vai ter dificuldade de circular. O ideal seria imunizar pelo menos 95% da população. Mas, com 70%, nós já garantimos que os serviços (de saúde) não sejam massificados no número de atendimentos”, disse Barbosa.
A necessidade de imunizar 70% da população motivou as defensorias públicas do Amazonas (DPE) e da União (DPU) a ajuizarem uma ação na Justiça Federal para obrigar o governo federal a comprar novas doses de vacina contra Covid-19 para imunizar pelo menos 70% da população de oito municípios do Amazonas.
- Leia também: Ação na justiça quer obrigar União a vacinar 70% da população de oito municípios do Amazonas
Para o médico, cenas como aquelas registradas em janeiro deste ano, quando pacientes disputavam leitos de UTI nos hospitais de Manaus, podem se repetir se não houver o cumprimento dos protocolos sanitários. “Pessoas vão morrer sem receber assistência. Porque nós não temos condições de atender todo mundo”, afirmou Barbosa.
O infectologista também alerta para as consequências causadas pela Covid-19. Segundo ele, a doença pode deixar sequelas em órgãos como o pulmão, o coração e o cérebro.
“Esse vírus deixa como sequelas na pessoa fibrose pulmonar. A pessoa não vai ser a mesma. Ela não vai ter a mesma qualidade respiratória normal. Ela não vai poder fazer determinadas atividades porque vai se cansar. Sem falar nos outros órgãos que são atingidos também como o coração e cérebro. Esse vírus atinge todos os órgãos e começa pelo pulmão”, disse Barbosa.
“Das sequelas, a mais frequente é a pulmonar. Nós poderemos ter outras nos rins, no coração, no cérebro. Tem algumas pessoas que relataram esquecimento. Tem algumas pessoas que evoluem com arritmia cardíaca, em decorrência do que o Covid-19 causou no coração. Tem pessoas que evoluem com insuficiência renal, ou seja, vai precisar de hemodiálise pelo resto da vida”, completou Barbosa.
O infectologista lembra que, mesmo que a vacinação tenha começado com grupos prioritários, a população deve cumprir os protocolos sanitários, como o uso de máscara, uso de álcool em gel, lavar as mãos e cumprir o distanciamento social. “Porque senão o vírus vai continuar atingindo as pessoas”, afirmou.