Por Juliana Braga, da Folhapress
BRASÍLIA – Integrantes históricos do PT avaliam reservadamente que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) errou em falas recentes sobre o aborto e sobre pressão nos deputados.
Ouvidos pela reportagem, acreditam que é necessário ter muita cautela para deslizes não serem usados por adversários políticos, tendo em vista o alto nível de polarização dessas eleições.
Lula defendeu em evento da CUT (Central Única dos Trabalhadores), na segunda-feira (4), que a militância sindical procure deputados e seus familiares na casa deles para pressionar a favor de propostas que interessam ao setor em um eventual governo petista, a partir de 2023.
“Se a gente mapeasse o endereço de cada deputado e fossem 50 pessoas na casa, não é para xingar não, é para conversar com ele, com a mulher dele, com o filho dele, incomodar a tranquilidade dele, surte muito mais efeito do que fazer a manifestação em Brasília”, disse. A fala geral forte reação no Congresso.
Um amigo do petista há décadas afirma que, no entusiasmo, Lula se expressou mal. Ele diz que a intenção, ali, era exigir dos parlamentares votos alinhados à vontade daqueles que os elegeram, e não de acordo com a liberação de emendas por parte do governo.
Para esse aliado, Lula não quer estimular violência, nem exercer uma pressão indevida. A ideia seria estimular atos como as centrais fazem no aeroporto de Brasília em dias de votações importantes, quando abordam os deputados e senadores para defenderem suas ideias.
Já a fala sobre o aborto irritou lideranças evangélicas, eleitorado que o PT pretende conquistar. Em um debate na terça-feira (5), Lula falou que o aborto deveria ser um “direito de todo mundo”. “Aqui no Brasil, as mulheres pobres morrem tentando fazer aborto, porque é proibido, o aborto é ilegal”, afirmou, completando que quem tem dinheiro pode fazer o procedimento no exterior.
Um interlocutor de Lula afirma que não está nos planos do partido rever a lei de aborto. A crítica do ex-presidente, contextualiza, seria às tentativas de impedir os abortos previstos em lei, como aconteceu com uma criança em Pernambuco. Na ocasião, servidores do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos se deslocaram até o hospital para convencer a família do contrário.
A avaliação, portanto, é de que as falas de Lula geraram ruídos em um momento em que o partido precisa construir consensos e alianças. Ainda assim, petistas devem evitar responder os ataques para não dar chance a bate-boca público e permitir o episódio crescer, em uma bola de neve.
Avalia-se entre dirigentes petistas a possibilidade de o próprio ex-presidente soltar uma nota esclarecendo as falas, mas a possibilidade ainda não foi levada a ele.