Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Acusado de receber R$ 1,8 milhão em propina do médico Mouhamad Moustafá, o ex-secretário de Saúde do Amazonas Pedro Elias de Souza usou a “estratégia do esquecimento” no interrogatório à juíza Ana Paula Serizawa, da 4ª Vara Criminal da Justiça Federal do Amazonas, realizado na tarde de terça-feira, 3, em Manaus. Em pelo menos 20 momentos, Souza alegou que não se recordava de fatos narrados pelo MPF (Ministério Público Federal).
No interrogatório, que durou 1 hora e 18 minutos, Pedro Elias disse que nunca interpretou que Mouhamad prestava favores a ele devido ao cargo que exercia à época. O ex-secretário também disse que o médico da Maus Caminhos sempre ofereceu algo “sem nada em troca”. “Nunca Mouhamad me pediu absolutamente nada que fosse ilegal”, afirmou.
Compra de apartamento
Sobre a acusação de que recebeu R$ 1,5 milhão parcelado em 15 vezes de R$ 100 mil, Pedro Elias afirmou que se tivesse recebido o dinheiro teria trazido o pai dele, que à época morava em Porto Velho (RO), para Manaus e teria comprado apartamento para o filho que, segundo ele, até hoje mora em local alugado, em Brasília.
Em relação ao pagamento de R$ 100 mil ao filho Antônio Queiroga Neto, Pedro Elias negou que tenha sido propina, mas um “empréstimo” de Mouhamad para a compra de um apartamento em Santa Maria (RS). Segundo o ex-secretário, à época, o filho dele havia sido aprovado em vestibular e precisava de um local para morar, pois a mãe, que era oficial da Força Aérea, estava sendo transferida para Recife.
Questionado se teria pago parcelas do suposto empréstimo, Pedro Elias respondeu: “Eu cheguei a pagar, mas não me lembro exatamente quanto, meritíssima”. O ex-secretário também disse que não chegou a pagar todo o empréstimo e voltou a dizer que havia esquecido: “Eu paguei uma parte. Não sei precisar para a senhora quanto”.
Aluguel de apartamento
Pedro Elias de Souza afirmou que Mouhamad se ofereceu para ser o fiador no aluguel de um apartamento em Brasília para o filho Mateus Batalha de Souza, que fora aprovado no vestibular da UNB (Universidade de Brasília). Souza disse que esse fato ocorreu antes de ele se tornar secretário de Estado, mas que não se recorda quem cogitou o nome do médico da Maus Caminhos para ser o fiador. O contrato foi feito em nome da Simea, uma das empresas de Mouhamad.
O ex-secretário disse que Mouhamad pagava parcelas quando ele (Pedro Elias) esquecia de pagar, mas não se recorda como ocorreu a devolução (dinheiro em espécie ou boleto), nem quantas mensalidades e valores foram pagos ao médico da Maus Caminhos.
Questionado quem era responsável pelos boletos, Pedro Elias respondeu: “Ficavam com meu filho ou eram descontados na empresa. Não sei como funcionava isso. Sinceramente, eu não consigo me lembrar”.
Conserto de automóvel
Pedro Elias de Souza negou que o filho Mateus Souza tenha recebido R$ 20 mil através de conserto do carro, cessão de veículo e segurança particular. Segundo o ex-secretário, ao saber do envolvimento do filho em um acidente de trânsito, ele usou um seguro de veículo que pagava no banco Itaú.
Pagamentos de viagens
O ex-secretário de Saúde do Amazonas disse que não lembra se recebeu de Mouhamad, entre outubro e novembro de 2015, R$ 48,5 e R$ 31,9 mil através de passagens aéreas, hospedagem em hotel de luxo e segurança no Rio de Janeiro. Ele disse que à época, por ser secretário, tinha direito a passagens e diárias, mas, logo em seguida, confirmou que Mouhamad havia pago a diária no hotel Copacabana Palace.
Sobre a denúncia de que tenha recebido R$ 12,2 mil em maio de 2016 através de pagamento de hospedagem em hotel de luxo na cidade de São Paulo, Pedro Elias de Souza disse que a viagem não ocorreu “em hipótese alguma”. “Nessa data alegada aí eu estava aqui em Manaus despachando, inclusive”, afirmou. E disse que o médico da Maus Caminhos nunca pagou viagem para ele a São Paulo.
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