Do ATUAL
MANAUS – Ao final do primeiro dia do julgamento dos acusados de serem os responsáveis pelo massacre de presos no Compaj (Complexo Penitenciário Anisio Jobim), em Manaus, no ano de 2002, a promotora de Justiça Lilian Nara Pinheiro de Almeida, afirmou, nesta segunda-feira (26), que depois do que disseram as testemunhas ouvidas no Tribunal do Juri, “a única coisa que pode acontecer, o único resultado desse julgamento é a condenaçao dos acusados.”
O principal acusado é Gelson Carnaúba, apontado pela promotoria como uma espécie de xerife do presídio e responsável pelo massacre. Além dele, estão no banco dos réus Marcos Paulo da Cruz e Francisco Álvaro Pereira.
Os três foram condenados em 2011 pelas mortes de 12 detentos e um agente penitenciário a penas que, somadas, chegavam a 370 anos de prisão. Em 2015, a defesa dos condenados conseguiu anular o julgamento sob a alegação de quebra de incomunicabilidade dos jurados. O Tribunal de Justiça do Amazonas, ao anular o julgamento, determinou a realização de um novo Tribunal do Juri.
Desde que foi anulado, os juízes responsáveis pelo caso já tentaram realizar o julgamento quatro vezes, mas a defesa conseguiu adiar a sessão.
Nesta segunda-feira, o julgamento sofreu atraso porque a defesa de Gelson Carnaúba pediu um novo adiamento, mas o pedido foi negado.
Neste primeiro dia, a 2ª Vara do Tribunal do Juri ouviu cinco testemunhas de acusação, apresentadas pelos promotores, e três testemunhas de defesa. Os trabalhos foram encerrados por volta de 19h.
A promotora Lilian Nara Almeida afirmou que pelo lapso temporal que seperam os crimes e o julgamento, algumas testemunhas esqueceram de parte do que ocorreu naquelas 13 horas que duraram o massacre no presídio, mas, segundo ela, isso não deve prejudicar a acusação.
“Essa questão do tempo é a pior coisa que pode ter acontecido, depois da chacina, obviamente. Se tivéssemos terminado mais próximo da época, certamente poderíamos ter uma memória melhor de todas as testemunhas. Porém, para o julgamento de hoje nós entendemos que não traz um prejuízo. Esse lapso é natural, é normal, e temos outras provas no processo que vamos manifestar a partir de amanhã”, disse a promotora.
O advogado de defesa de Gelson Carnaúba, Ércio Quaresma Firpe, considerou que as oitivas das testemunhas foram favoráveis aos réus, chegou a chamar de “falácia” os argumentos do Ministério Público e disse que “a acusação foi destruída” no primeiro dia do julgamento.
“A defesa, obviamente, está fazendo o seu papel, de tentar modificar narrativas e criar outras histórias; já tentaram pela quinta vez adiar [o julgamento], buscando prescrição… Então, isso é natural. A nossa tese vai ser explanada amanhã, mas pelo que foi visto hoje, qualquer pessoa que assistiu a este julgamento tem a certeza de que a única coisa que pode acontecer, o único resultado é a condenação dos acusados”.
Mais comedido, o promotor José Augusto Palheta Taveira considerou que os depoimentos vieram “ao encontro do que vem sendo sustentado pelo Ministério Público”, de que houve um massacre no presídio 20 anos atrás.
Taveira afirmou que o MP vai sustentar as teses que os promotores vêm sustentando desde o início, e espera que seja feita justiça para que “situações como esta não se repitam e que aqueles que acham que podem tomar conta do Estado fiquem atentos para o fato de que a punição pode até demorar, mas que ela virá”.
Os réus serão interrogados nesta terça-feira (27). Gelson Carnaúba será ouvido por videoconferência, porque está preso no presídio federal de Campo Grande (MS). Os réus Marcos Paulo da Cruz e Francisco Álvaro Pereira, que respondem o processo em liberdade, serão ouvidos presencialmente.
Depois dos interrogatórios, haverá os debates da acusação e da defesa, para, finalmente, os jurados decidirem se condenam ou absolvem os acusados.