Brasil país do futebol. (Será?). Cinco copas fora de casa. Em casa agora seria barbada. O circo foi armado e não poderiam faltar as fantásticas promessas. Estádios ou arenas como se chamam agora, centros de treinamentos, mobilidade urbana (com metrôs e outros modernos meios de transportes e até trem bala), portos e aeroportos confortáveis, turismo, muitos ganhos sociais e de sobra o “hexa”. Foi nessa embalagem que nos venderam a Copa.
Do lado do futebol propriamente dito, a nefasta cultura da promessa fácil tomou conta da seleção. Felipão e sua trupe esbanjavam otimismo. “Estamos com as mãos na taça”, diziam.
Não deu certo. Perdemos as duas últimas partidas de goleada. Uma humilhação. O time revelou-se frágil ao longo de toda competição e despediu-se melancolicamente.
Explicações? Apagão de 4,5 minutos. Pedido de desculpas? Nenhum. A Comissão Técnica preferiu o costumeiro discurso ufanista que assola o país, onde mesmo os “4,5 minutos de apagão” não inibiu a afirmação de que jogamos bem. Afinal somos o quarto melhor do mundo!
Ao tentar defender o indefensável Scolari entrou em sintonia com a desfaçatez inerente à política que se pratica hoje, o que foi um erro. Ora! Se o objetivo era o primeiro lugar, (obrigação como dizia ele), terminar em quarto e com goleadas é fracasso retumbante.
Escolher a política como espelho foi um erro. Na política os objetivos são difusos, portanto, com espaços para tergiversar. Mesmo quando tudo parece perdido entram em campo os ilusionistas do marketing político mudam a embalagem e vendem bem o mesmo conteúdo a um povo de esmirrada cultura política.
No futebol é diferente. Somos 200 milhões de especialistas em técnicas e táticas a apontar erros e indicar caminhos. A vigilância e a exigência são infinitamente maiores. Não há como variegar.
Se o espelho tivesse sido Neymar, não teriam pisado na bola e dado pontapé na ética. De forma tranquila e correta, Neymar pediu desculpas à Nação e afirmou que o time não teve bom desempenho durante toda competição.
Outro fato inusitado foi o diagnóstico da imprensa especializada: “O nosso futebol está ultrapassado. Nossos técnicos têm de ir aprender novas táticas na Europa”. Fica a dúvida: aonde será que Espanha, Inglaterra, Itália e Portugal que não passaram da primeira fase irão reciclar-se? O Brasil foi mais além. Será que vão treinar o “Padrão Felipão”?
Quanto ao legado, objetivamente, nada a comemorar. As arenas em alguns estados serão a “herança maldita” a pesar no bolso do povo ao longo de muito tempo. Ganhos sociais não aconteceram. O turismo é uma interrogação e o sonho do hexa se desfez de forma assustadora, a denunciar falta de percepção da nossa Comissão Técnica.
Reclamar-se das promessas não cumpridas não cabe. Não é novidade. Já é parte da nossa cultura política. Há a considerar, porém, a beleza e a qualidade das Arenas. Mesmo construídas aos trancos e barrancos e superfaturadas, como dizem, encantaram a todos. A Fifa não abriu mão do seu padrão marcou de perto e o resultado foi excelente.
O encantamento não é de admirar que tenha ocorrido, pois, atende demandas de alto estima em declínio que, quando expressada coletivamente é um sentimento do atraso. Nesse sentido, as arenas, mesmo burlando todas as prioridades da nação brasileira, afagam o ego do subdesenvolvimento. Parafraseando Joãozinho Trinta: “Subdesenvolvido gosta mesmo é de coisa bonita”.
O atraso se faz representar nesse caso, pela falta de “padrão” com que as coisas são feitas no nosso País. Referência de qualidade passa longe de nós e a “gambiarra” ainda reina soberana.
Retrospectivamente foi confortante ver que o povo percebeu os gastos astronômicos com a Copa e revoltou-se contra as ações da senhora Fifa em impor o seu padrão sem qualquer reação brasileira. Foi às ruas protestar contra a própria Fifa, contraditoriamente, exigindo do governo o “Padrão Fifa” para saúde, educação, transporte e outros serviços públicos.
Tais manifestações assustaram governos e políticos que ensaiaram muitas ações e nenhuma realização. O povo saiu das ruas para não ser agredido e os governantes avaliam que tudo, como sempre, caiu no esquecimento.
Cometem grande engano. Sair das ruas não significa que tudo esteja esquecido. Ao contrário, nas redes sociais é cada vez maior a insatisfação do povo com os governantes em particular e os políticos em geral. O fio continua desencapado e o “Padrão Fifa” está latente no inconsciente coletivo. O povo quer mudanças e cada vez mais condena serviços “meia boca”.
É indiscutível que há uma evolução. O inicialmente odiado “Padrão Fifa” poderá consagrar-se como o legado que não tivemos. Isso pode mudar muito o patamar do nosso processo civilizatório.
Se isso acontecer, efetivamente, nos tornaremos um povo civilizado e não mais provocará admiração a demonstração de civilidade dos japoneses em não deixar sujeira nas arenas por onde passaram, pois essa atitude será rotina no nosso dia a dia.
Por fim, não há duvidas que a Fifa no Brasil conseguiu impor o seu padrão como sinônimo do “fazer bem feito” firmando-o como referência de qualidade. Mas há quem prefira o “Padrão Felipão” e dele já se utilize há pelo menos quatro anos.