Por Marcelo Moreira, do ATUAL
MANAUS – De frente para o rio Negro, no Amarelinho, como é conhecida a orla do bairro Educandos, na zona sul de Manaus, o engenheiro de pesca Rigoberto Pontes, de 74 anos, até pensou que fosse ficar no ócio após a aposentadoria. Mas a bela paisagem do rio estimula a criatividade e a engenharia de pesca foi substituída pela arte. Os peixes, ou restos deles, agora são peças de decoração.
Natural do município de Cajazeiras (PB), Rigoberto mudou-se para Manaus há 48 anos. O engenheiro aposentado busca formas de ocupar o tempo com o projeto que tem um nome autoral: “BionegÓCIO Criativo”.
Foi no curso de pós-graduação em Negócios da Amazônia na UEA (Universidade do Estado do Amazonas), que Rigoberto passou a criar objetos com materiais da natureza amazônica, como mini esculturas feitas de ossos de peixe, argila, gravetos e folhas.
O resultado é o que ele mesmo chama de “biobibelô”. O nome faz referência a um dialeto próprio de Pernambuco, estado onde ele cresceu. “São esculturas minimalistas, que são feitas a partir de materiais dos parques onde eu faço caminhada”.
Os objetos são produzidos com paciência. Rigoberto tempo tempo de sobra. As folhas secas são recolhidas no parque Jefferson Péres, no Centro de Manaus, e no parque do Mindu, zona centro-sul. A partir das folhas, o artista tem diferentes interpretações para a criação de obras de arte que podem ser desde a reprodução de um pirarucu até miniaturas de árvores.
Os ossos de peixe, usados na confecção dos “biobibelôs”, são retirados de indústrias de pescado que trabalham com o processamento de peixes. Para ser reaproveitada, a carcaça do vertebrado aquático passa por processo que inclui fervura, secagem ao sol, banho com água oxigenada e bicarbonato e acabamento com silicone.
Da mesma forma como acontecem com as esculturas minimalistas de folhas, os “biobibelôs” com ossos de peixe podem resultar em diferentes formatos e desenhos e podem levar até um mês para ficarem prontos.
Com folhas e olhos feitos de plástico e papel, o artista também faz a reprodução de quadros com imagens reais da fauna amazônica. As fotos são retiradas de jornais, e o artesão dá movimento para o olhar para os seres fotografados.
“Com esse trabalho aqui, pretendo só exercitar a mente. Para mim, não é como uma profissão, mas como uma arteterapia”, diz Rigoberto.
Aquário suspenso
Outra criação de Rigoberto Pontes são os aquários produzidos com potes de acrílico. A ideia é ter aquários móveis, que fiquem sobre a mesa ou suspensos na varanda.
“Aqui, na Amazônia, nós temos uma grande diversidade de peixe ornamental [peixe de aquário]. O aquário convencional é trabalhoso. Tem que ter bomba, fio, manutenção. Então, nos meus momentos de inspiração, eu resolvi pensar em um modelo de aquário que fosse de fácil manuseio. Dá pra colocar pendurado, como uma planta”, diz.
O engenheiro não tem interesse financeiro imediato com as obras, mas disse que, futuramente, pode pensar na criação de um novo modelo de negócio colocando os objetos à venda em estabelecimentos comerciais para que os próprios consumidores atribuam valor de acordo com o gosto e com a consciência.
“A natureza molda. Eu digo para as pessoas da nossa idade que você pode sim fazer a arteterapia, e pode ser sim um bionegócio criativo. É isso que eu quero divulgar e passar como um legado que eu quero deixar”, afirma o engenheiro.