Quem conhece o sertão do nordeste brasileiro sabe da importância de cada gota de água derramada nas torneiras das famílias que ali habitam, eu como uma legítima nordestina, nasci em Penedo (AL) com muito orgulho, sei que a falta de água é um problema crônico enfrentado por gerações, e um sofrimento que parece não ter fim, que a busca por soluções paliativas poderá amenizar o sofrimento do povo, mas achar uma solução definitiva é um desafio para qualquer gestor, pois uma das condições de se viver com dignidade é ter água de qualidade para todos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada pessoa precisa de 50 a 100 litros de água potável por dia, e 722 municípios do semiárido nordestino estão em situação de emergência, sendo que dois milhões de brasileiros dependem de caminhão-pipa que abastecem as cisternas comunitárias com limitação diária em sua distribuição.
Para quem nunca teve oportunidade de beber água nessa região, a água tem gosto salobro/amargo, pela mistura de alguns sais, e uma das técnicas utilizadas para melhorar a qualidade da água subterrânea é o sistema dessalinizador instalado em alguns municípios nordestinos que purifica e garante água potável a toda localidade, porém, ao longo de 30 anos foram instalados de 3.500 a 4.000 dessalinizadores, porém com a falta de manutenção foram esquecidos e desativados.
Outra solução paliativa é a utilização dos carros-pipa, através do programa desenvolvido pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e operacionalizado pelo Exército Brasileiro, que fechou um balanço da execução da Operação Carro-Pipa (OCP) federal em 2019, com a soma dos pagamentos efetuados em R$ 610,5 milhões. Atualmente, a iniciativa atende aproximadamente mais de dois milhões de pessoas em 657 cidades do semiárido brasileiro. A OCP federal está em dez estados brasileiros, contando com 4.361 carros-pipa monitorados. Esses números acompanham a dinâmica do clima e o impacto da seca.(gov.com)
Porém a grande alegria do povo do semiárido nordestino veio com o Projeto de Integração do Rio São Francisco, o maior empreendimento hídrico do País, que nasce na Serra da Canastra (MG), percorre 2.800 quilômetros e deságua em Penedo (AL), minha terrinha natal, e soma 477 quilômetros de extensão com 13 aquedutos, nove estações de bombeamento, 28 reservatórios, nove subestações de energia, 270 quilômetros de linhas de transmissão em alta tensão e quatro túneis. Com 14 anos de existência, parece que chegou em sua reta final, pois na semana passada, o Presidente Jair Bolsonaro inaugurou mais um trecho no município de Salgueiro (PE), assim que for completado, o projeto deve beneficiar 12 milhões de pessoas em 390 municípios no Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, estados historicamente vulneráveis à seca.
O velho Chico, como é chamado, com suas águas cristalinas e calmas realizará o grande sonho de milhares de famílias sedentas por um copo d´agua potável, que representará, simbolicamente, a independência e a prosperidade do semiárido nordestino.
*Patricia Portugal da Silva Benfica é mestre em biologia urbana, Advogada, professora da ESBAM (Escola Superior Batista do Amazonas), vice-presidente da Comissão de Defesa, Desenvolvimento Econômico, Estratégico e Sustentável do Amazonas - OAB/AM.
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