A ONU avaliou, neste domingo (13.04.2014) que as ações contra mudanças climáticas ainda são insuficientes para minimizar os efeitos catastróficos das alterações no clima e no tempo em escala global. Uma ação mais rápida é necessária para limitar o aquecimento global a limites estabelecidos e atrasos até 2030 podem levar à dependência de tecnologias para extrair gases de efeito estufa do ar, afirmou um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).
Os Cenários do IPCC (Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas, órgão da ONU) mostraram que as emissões globais de gases de efeito estufa devem atingir o pico em breve e ser reduzidas em 40% a 70% dos níveis de 2010 até 2050[2]. Em seguida, devem ficar próximas de zero até 2100 para manter a alta das temperaturas abaixo de 2º C. O estudo, com base na obra de mais de mil especialistas, disse que uma substituição de combustíveis fósseis, – especialmente petróleo e carvão, nas suas variadas formas -, por energia de baixo carbono como a eólica, solar ou nuclear (no caso a Fusão Nuclear e não a Fissão, que provoca resíduos radioativos altamente nocivos) é acessível e implicaria a redução de apenas cerca de 0,06% por ano do crescimento econômico mundial.
Estudos realizados em todo o globo, inclusive na Antártida, dão conta de que só o derretimento das geleiras no Ártico vai custar à Economia Mundial mais de US$ 60 trilhões em pouco tempo, e este valor já está sendo pago aos poucos em obras de infra-estrutura de reajustamento em mais 1.000 cidades ao redor do globo nas áreas costeiras, na América do Norte, Europa e Ásia. A água está tomando conta de Bangladesh. Veneza, na Itália já conta com uma mega movimentação da UNESCO para erguer a cidade, porque o nível do mar sobe cerca de 2 cm por ano e a cidade está afundando, engolida pelas águas aos poucos.
Os impactos do aquecimento global serão graves e irreversíveis, segundo o IPCC. Autoridades e cientistas reunidos em Yokohama, no Japão afirmam que o documento é a avaliação mais completa já feita sobre o impacto das mudanças climáticas no planeta. O Relatório, endossado por governos, tem como objetivo ser o principal guia científico para as nações que trabalham em um acordo das Nações Unidas que deve ser assinado no final de 2015 para conter as emissões globais de gases de efeito estufa, que atingiram repetidamente novos recordes, guiadas pelo crescimento industrial da China.
Os governos se comprometeram a limitar o avanço da temperatura a no máximo 2 graus Celsius acima dos níveis da era pré-industrial para evitar cada vez mais ondas de calor, inundações, secas e elevação do nível do mar, que, segundo o IPCC, estão ligados ao aquecimento artificial provocado pelo homem. Esses fenômenos estão ocorrendo em todo o planeta: Ondas de calor na Austrália, frio nos EUA, e outros vários problemas atípicos, inclusive no Brasil, que são em grande parte provocados pela ação humana.
A Terra vista de longe, do espaço profundo, pode ser comparada a um grão de poeira suspensa no espaço cósmico, onde refletem as ondas da luz do Sol. No dia 14 de fevereiro de 1990, tendo completado sua missão primordial, foi enviado um comando a Voyager 1 para se virar e tirar fotografias dos planetas que havia visitado. A NASA havia feito uma compilação de cerca de 60 imagens criando neste evento único um mosaico do Sistema Solar. Uma das imagens que retornou da Voyager era a da Terra, a 6,4 bilhões de quilômetros de distância, mostrando-a como um “pálido ponto azul” na granulada imagem[3].
Olhando esse ponto chegamos a uma conclusão: É aqui, é a nossa casa, somos nós. Nele, todos a quem amamos, desconhecemos ou odiamos, todos a quem você conhece, qualquer um sobre quem você ouviu falar, cada ser humano que já existiu, viveram as suas vidas. O conjunto da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada caçador e coletor, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada professor de ética, cada político corrupto, cada “super Star”, cada “líder supremo”, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu e vive aqui, em um grão de pó suspenso num raio de Sol.
A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, pudessem ser senhores momentâneos de uma fração de um ponto. Pense nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores de um canto deste ponto azul aos praticamente indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes seus desentendimentos, quão ávidos de matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas posturas, a nossa suposta auto importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são desafiadas por este pontinho de luz pálida. O nosso planeta é um grão solitário na imensa escuridão cósmica que nos cerca. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios, salvo as crenças religiosas, de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar de nós mesmos. Esse é o maior desafio do nosso tempo.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos de ficar por enquanto. Já foi dito que astronomia é uma experiência de submissão e criadora de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Para todos, deve destacar a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o “pálido ponto azul”, o único lar que conhecemos até hoje.
[1] O Pálido Ponto Azul é uma famosa fotografia da Terra feita pela sonda Voyager 1, da NASA. www.nasa.gov
[2] Uma mitigação ambiciosa pode até exigir a remoção de dióxido de carbono da atmosfera, segundo o IPCC.
[3] Carl Sagan (1934-1996) disse que a famosa fotografia tirada da Missão Apollo 8, mostrando a Terra acima da Lua, forçou os humanos a olharem a Terra como somente uma parte do universo. No espírito desta realização, Sagan disse que pediu para que a Voyager tirasse uma fotografia da Terra do ponto favorável que se encontrava nos confins do Sistema Solar.
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