MANAUS – O Brasil é o único país do mundo em que o presidente da República não tem liderança sobre as ações de combate e controle da pandemia de Covid-19.
Desde o início da crise sanitária iniciada em fins de 2019 e que chegou ao Brasil em 2020, o presidente Jair Bolsonaro age contra tudo e contra todos, desdenha da ciência, galhofa das medidas de isolamento social adotadas em praticamente todos os países e incita seus asseclas à desobediência.
O resultado é visível: o Brasil superou os Estados Unidos, nos últimos dias, em número de mortes diárias pela doença; os hospitais nos Estados e municípios na maior parte da Federação estão em colapso; ameaça de falta de medicamentos para manter pacientes vivos ronda os hospitais públicos e privados e a população chora as mortes de seus entes queridos.
As mortes por Covid-19 no Brasil devem chegar a 300 mil nesta semana, considerando o ritmo de óbitos nas últimas duas semanas. No domingo que abre esta semana, o registro de mais de 15 mil mortes em sete dias. A pior semana da pandemia para os brasileiros.
E para comemorar essa façanha, o presidente da República e seus asseclas promoveram a maior aglomeração dos últimos meses em Brasília. Centenas de pessoas sem máscaras, vestindo camisas amarelas e empunhando bandeiras marcharam em apoio a Jair Bolsonaro, que completava 66 anos.
Enquanto o país se torna pária do mundo na pandemia, Bolsonaro encontra apoio de pessoas que ainda não caíram na real. Felizmente uma minoria de brasileiros fanáticos.
No enfrentamento à pandemia, enquanto governadores e prefeitos, preocupados com a avalanche de mortes e com a falta de vagas nos hospitais, adotam medidas de restrição para tentar frear a contaminação de mais pessoas, Bolsonaro ingressa com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) com pedido para derrubar essas medidas. O presidente, inclusive, mente sobre os fatos reais e chega ao absurdo de denominar “Estado de Sítio” as medidas de restrição de circulação de pessoas em determinados horários.
Foram as medidas de restrição de circulação que ajudaram a atenuar a onda de Covid-19 no Amazonas, principalmente em Manaus, que viveu a fase mais dura da pandemia nos meses de janeiro e fevereiro deste ano.
Foi o confinamento que tronou a Nova Zelândia um exemplo para o mundo no combate ao novo coronavírus. Também foram as medidas restritivas que evitaram que a China, o país mais populoso do mundo, e onde começou a crise sanitária, fosse um exemplo negativo.
A China registra apenas 4.636 mortes por Covid-19 desde o início da pandemia, ou seja, 63 vezes menos óbitos do que no Brasil pela doença.
Enquanto isso, o presidente da República não consegue sequer definir quem é o ministro da Saúde.
A ironia do título deste editorial é proposital: será mesmo que o mundo inteiro está errado e só Bolsonaro aprendeu a lidar com a Covid-19, a gripezinha que só faz medo aos “maricas”?