EDITORIAL
MANAUS – A relação do brasileiro com o lixo nunca foi amistosa. No Amazonas, em particular, e na região Amazônia, em geral, essa relação é ainda mais complexa e conflituosa, mas exige de todos mudança de hábito e de postura.
Ninguém quer o lixo por perto. Isso explica o descarte de resíduos por toda a parte. Todos querem o carro limpo, e descartam de um tudo nas ruas.
Os pedestres também não conseguem segurar a compulsão e guardar o lixo para descartá-lo em local adequado. Se comem uma bala, o papel é jogado no chão; se usa um corpo descartável, uma garra plástica ou uma sacola, descarta-se em qualquer lugar.
Em parte, esse comportamento é fruto de uma tradição antiga de descartar o lixo “no mato”, como diziam os mais antigos. Nas comunidades rurais, cada família criava seu próprio local de descarte de resíduos em um “cantinho” da floresta. E atirar lixo pela janela para o quintal da casa, para depois recolher e levar para “jogar no mato”, era comum. Essa prática acompanhou as famílias que migraram para as cidades amazônicas.
Nas cidades, o sistema de coleta, nem sempre atende às normas de segurança, e o descarte dos resíduos é feito de forma precária, causando problemas para a saúde das pessoas, dos animais e do meio ambiente.
Na quinta-feira (14), depois de 12 anos de aprovada a lei que criou o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, o governo federal editou decreto regulamentando a legislação e estabelecendo metas para melhorar a relação da população e dos governos com o lixo.
Por ano, de acordo com dados oficiais, os 214 milhões de brasileiros geram 82,5 milhões de toneladas de lixo, e quase 40% desse material é descartado em lixões a céu aberto.
Praticamente todas as atividades humanas são geradoras de lixo. Os alimentos geram resíduos em todo o processo de produção e durante o processo de preparo e consumo. As embalagens de praticamente todo produto comprado vão para o lixo.
O desafio é reaproveitar esse material para evitar o descarte no meio ambiente e gerar riqueza. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos apresenta metas para que soluções sejam apresentadas e cumpridas pelos municípios, o que envolve não apenas os governos, mas todas as pessoas.
Até 2024, a meta é que todos os lixões sejam fechados. Além disso, os municípios vão precisar aumentar o percentual de reciclagem e criar mecanismos de reaproveitamento dos resíduos para a produção de adubo e energia, por exemplo.
Mas para além das metas de eliminação dos lixões a céu aberto e do aumento do percentual de reaproveitamento dos resíduos sólidos, é preciso mudança de postura ou mudança de hábito da população, tanto na separação do lixo em casa quanto no descarte desse material nas ruas.
Os municípios precisam estabelecer critérios até para a colocação do lixo nas lixeiras domésticas. Definir padrões de lixeira e – por que não? – subsidiar a compra delas para as famílias com dificuldades financeiras.
Essa mudança de postura dentro de casa é que poderá transformar as cidades em ambientes limpos e livres do lixo que se espalha por toda a parte com o vento e com as chuvas.
Não basta o governo ou prefeitura fazer a sua parte. É preciso que a população queira uma cidade limpa. E para que esse sonho se concretize, é preciso que cada indivíduos receba um choque de realidade e comece a agir como verdadeiros cidadãos e verdadeiras cidadãs.