MANAUS – Os números das urnas e fora delas formam um conjunto de informações que possibilitam algumas reflexões sobre o processo eleitoral. Há que se considerar, no entanto, o ano atípico em função da pandemia de Covid-19. Mas isso não explica tudo.
Já era esperada uma abstenção acima da média em todos os municípios brasileiros. Mas em Manaus mais que dobrou no segundo turno em relação à disputa de 2016. Naquele ano, 119.473 eleitores deixaram de ir às urnas (9,5% do eleitorado). Neste ano, subiu para 298.712 (22,43% dos eleitores aptos a votar).
Em 2016, o eleitorado de Manaus era de 1.257.126. Neste ano, 1.331.613 eleitores aptos. No entanto, os votos nos candidatos, os votos válidos, caíram nas eleições encerradas no domingo, 29. Os dois candidatos (David Almeida e Amazonino Mendes) receberam 910.717 votos (88,17%) dos votos das urnas. Há quatro anos, Arthur Virgílio e Marcelo Ramos receberam 1.039.586 votos (91,38% dos votos das urnas).
E não foi apenas culpa da alta abstenção. Os brancos e nulos ajudaram a reduzir os votos válidos neste ano. Dos eleitores que compareceram às seções de votação, 78.952 anularam o voto (7,64% do total). Em 2016, os votos nulos somaram 64.862 (5,70%).
Os eleitores que apertaram a tecla “branco” na urna eletrônica foram 43.232 ou 4,19% dos que compareceram às urnas no segundo turno. Nas eleições de 2016, foram 33.205 (2,92%).
Os votos brancos e nulos representam rejeição aos dois candidatos em disputa. O eleitor não se convence de que os dois que passaram para o segundo turno são capazes de fazer aquilo que prometeram na campanha eleitoral; ou as propostas apresentadas não o agradaram; ou a pessoa do candidato não transmite confiança; ou uma série de outros problemas.
A abstenção representa uma rejeição do processo eleitoral e/ou dos candidatos. O eleitor não se sente motivado – mesmo que o voto seja obrigatório – a sair de casa para escolher um representante político. Representa, também o descrédito do sistema político na cabeça do eleitor.
Nas eleições deste ano a abstenção chegou próximo do que se registra nos países onde o voto é facultativo, ou seja, não obrigatório. Quanto maior a abstenção, mais o eleitor está dizendo: “tanto faz vencer esse ou aquele candidato”.
Os políticos eleitos precisam refletir sobre esses números e seus significados e trabalhar para que o eleitor mude de opinião e tenha vontade de participar das próximas escolhas.