
Do Estadão Conteúdo
SÃO PAULO – O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer, dos governos Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, criticou nesta sexta-feira (9) a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz à Rússia. Em entrevista à Rádio Eldorado, Lafer disse que a visita, para participar das comemorações do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial, “não é uma decisão inteligente” em razão do contexto do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Para o ex-ministro, a presença de Lula na celebração de Vladimir Putin “significa desconsiderar a prevalência dos direitos humanos” prevista no texto da Constituição brasileira.
Na entrevista, Celso Lafer também falou sobre as incertezas na economia mundial com o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os desafios do Brasil na COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), que será realizada em novembro em Belém, no Pará.
Visita
Luiz Inácio Lula da Silva conversou nesta quinta com Vladimir Putin em Moscou. Os dois têm uma reunião agendada para esta sexta. Lula foi um dos poucos chefes de Estado a ir à Rússia para a celebração do Dia da Vitória.
A lista de participantes inclui o líder da China, Xi Jinping, e chefes de outras 28 nações como Armênia, Azerbaijão, Belarus, Venezuela, Cuba, Bósnia, Burkina Fasso e Egito. Em vídeo do jantar divulgado pelo Planalto, Lula e o russo trocam algumas palavras, com auxílio de tradutoras, antes de Putin discursar. Estavam presentes Xi e uma lista de ditadores: Nicolás Maduro (Venezuela), Alexander Lukashenko (Belarus) e Miguel Diaz-Canel (Cuba).
Esta é a primeira vez que Lula e Putin se encontram pessoalmente desde o retorno do brasileiro à presidência. O russo tem um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) e não pode viajar a países signatários, como o Brasil, sob o risco de ser preso. Desde então, ele participa virtualmente de encontros que envolvam os dois países, como as reuniões do Brics.
Historicamente, Putin utiliza o Dia da Vitória para impulsionar o nacionalismo russo e projetar uma imagem de força. Diversos chefes de Estado já participaram da celebração no passado, mas desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022, o quórum diminuiu.
Espetáculo
Mais de 20 líderes estrangeiros participarão do desfile militar na Praça Vermelha, em Moscou. O espaço aéreo na capital russa foi fechado após ataques de drones da Ucrânia, na quarta-feira. Os aeroportos foram reabertos ontem, mas muitos voos comerciais tiveram de ser cancelados. A força aérea russa afirmou ter abatido cerca de nove drones nos arredores de Moscou.
A celebração do Dia da Vitória é um elemento central do discurso patriótico promovido pelo presidente russo, que faz paralelos entre a 2.ª Guerra e a ofensiva contra a Ucrânia.
A reunião bilateral entre Lula e Putin hoje será uma “oportunidade para uma conversa” sobre a Ucrânia, após as tentativas infrutíferas do presidente brasileiro para impulsionar um plano alternativo de paz em conjunto com a China, segundo diplomatas brasileiros.
Negociações
O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, disse, após uma conversa por telefone com o presidente americano, Donald Trump, que seu país está disposto a se envolver em negociações com Moscou em “qualquer formato” para encerrar o conflito. Mas, segundo ele, para que isso ocorra, a Rússia deve demonstrar que realmente quer acabar com a guerra, começando com um cessar-fogo completo e incondicional.
Após a conversa, Trump pediu uma trégua incondicional de um mês entre a Rússia e a Ucrânia e alertou que imporia sanções caso ela não fosse respeitada. “Tudo pode ser feito muito rapidamente, e estarei disponível, em qualquer momento, se precisarem dos meus serviços”, escreveu Trump no X.