Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Os depoimentos do médico Mouhamad Moustafá e do ex-secretário de Saúde do Amazonas Pedro Elias de Souza à juíza federal Ana Paula Serizawa na terça-feira, 3, foram marcados por contradições. Pedro Elias de Souza é acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de receber R$ 1,8 milhão em propina de Mouhamad Moustafá e Priscila Coutinho, apontados como líderes da organização criminosa que desviou R$ 104 milhões da Saúde do Amazonas e que foi descoberta pela Operação Maus Caminhos.
O médico negou o pagamento de R$ 1,5 milhão a Pedro Elias, mas confirmou que fez favores ao ex-secretário, a quem chamou de “amigo”. Mouhamad, no entanto, definiu como “coisa bizarra” a alegação de Pedro Elias de que ele (Mouhamad) teria insistido para ir à casa dos pais do ex-secretário em Porto Velho (RO) em agosto de 2015, no Dia dos Pais. Naquele dia, segundo Mouhamad, Pedro Elias ligou para ele e o convidou para visitá-lo em Rondônia.
“Ele me ligou. Eu, por coincidência, estava em Porto Velho porque era aniversário de 60 anos da minha ex-sogra. E quando eu falei que eu estava em Porto Velho ele me convidou para ir para a casa do pai dele. Eu não preciso da amizade de ninguém e nem de insistir para ir à casa de ninguém. Nunca precisei disso. Quem fala isso de mim está mentindo”, afirmou Mouhamad.
Na versão de Pedro Elias, Mouhamad insistiu para visitá-lo em Rondônia: “Estava eu lá na casa da minha irmã com meu pai, minha mãe e amigos quando o doutor Mouhamad me ligou e me disse que estava em Porto Velho. Ele perguntou se poderia ir lá fazer uma visita ao meu pai e conhecê-lo”, disse o ex-secretário.
Apartamento em Brasília
Mouhamad Moustafá confirmou que foi o fiador no aluguel de um apartamento em Brasília para o filho de Pedro Elias, Mateus Souza. No entanto, o médico da Maus Caminhos se atrapalhou ao explicar se o contrato havia sido feito no nome dele ou de uma das empresas dele. “Na verdade, o que ele precisava, à época, era um fiador, mas eu não me recordo como ficaram os detalhes no final”, afirmou.
O médico da Maus Caminhos disse que pagava as mensalidades do aluguel, mas que Pedro Elias o ressarcia e até adiantava valores, mas “nunca chegou a atrasar”. Mouhamad, no entanto, não se recorda se a devolução do dinheiro era feita por cheque, dinheiro em espécie ou transferência bancária.
Na versão de Pedro Elias, havia atrasos, mas o ex-secretário não lembra quantas vezes deixou de ressarcir Mouhamad. Souza também disse que não se recorda se o contrato foi feito no nome de Mouhamad ou da empresa dele e nem quem era responsável pelos boletos.
Conserto de R$ 20 mil
Ao ser questionado se pagou o conserto do carro e se cedeu veículo de luxo e segurança particular a Mateus Souza (filho de Pedro Elias) em Brasília, Mouhamad disse que pagou um excedente do conserto porque o veículo passou alguns dias a mais na oficina e que emprestou um carro comum a Mateus. O médico negou que tenha pago segurança particular ao filho de Pedro Elias.
“Eu tinha mais de seis carros em Brasília, mas, com certeza, ele (Mateus) ficou com carro cotidiano. Eu tinha carros de alto luxo, que era até perigoso para ele andar sozinho lá em Brasília”, afirmou Mouhamad.
Do outro lado, Pedro Elias disse que o pagamento do conserto “não procede” porque, à época, o carro do filho tinha um seguro no banco Itaú e que Mateus Souza não usou nenhum carro de Mouhamad “porque não tinha necessidade”. O ex-secretário negou que o médico da Maus Caminhos tenha pago segurança particular ao filho.
Empréstimo de R$ 100 mil
Mouhamad Moustafá afirmou que considera “estranho” que o ex-secretário de Saúde do Amazonas Pedro Elias de Souza tenha negado amizade com ele e confirmado que emprestou R$ 100 mil dele para a compra de um apartamento em Santa Maria (RS). Mouhamad afirmou que “não se pede empréstimo para quem não é seu amigo” porque “aí sim teria interesse diverso”.
Na terça-feira, 3, ao ser questionado sobre o grau de amizade que tinha com Mouhamad, Pedro Elias afirmou à juíza Ana Paula Serizawa: “Não pode ser caracterizado como amizade, mas era uma relação respeitosa, como sempre foi. Um pouco mais distante”. Antes disso, o ex-secretário confirmou que havia emprestado R$ 100 mil do médico da Maus Caminhos.
Do outro lado, Mouhamad disse que o empréstimo de R$ 100 mil ao ex-secretário foi “totalmente espontâneo” e que não tinha objetivo de cobrar alguma intervenção na administração estadual. “Você não pede um empréstimo de R$ 100 mil para uma pessoa que não é sua amiga. Aí sim teria um interesse diverso. Para mim, eu emprestei para um amigo”, afirmou.
O médico da Maus Caminhos disse que Pedro Elias sempre frequentava a casa dele e ambos costumavam trocar mensagens diariamente. “Estava sempre comigo desde a época de plantão. Brincava bastante, várias ligações e mensagens ao dia, inclusive de brincadeira. Coisas, por exemplo, que eu não trocava com o secretário Wilson Alecrim”, disse.
Apesar da amizade, Mouhamad afirmou que sempre foi preterido e não privilegiado em relação aos pagamentos na gestão de Pedro Elias. “Eu recebia valores bem menores comparados à época de Wilson Alecrim, a quem não tinha amizade. Meus contratos foram reduzidos. Eu não me beneficiei da gestão dele”, afirmou Mouhamad.