Por Thais Arbex e Danielle Brant, da Folhapress
BRASÍLIA-DF – O ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou nessa terça-feira, 2, que estaria fazendo um “péssimo trabalho” se seu objetivo fosse proteger o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que teve três assessores presos, acusados de participação em esquema de candidaturas de laranjas do PSL.
Moro participou de audiência pública na Câmara em sessão conjunta das comissões de Constituição e Justiça, de Trabalho e de Direitos Humanos. Segundo o ministro, antes de aceitar o cargo ele perguntou ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) qual seria a postura se surgissem casos em que membros da nova administração fossem investigados. Bolsonaro, afirmou Moro, deu total carta branca para investigar “quem quer que seja”.
“E é isso que vem sendo feito”, afirmou Moro. “Eu diria que se o ministro da Justiça está protegendo alguém está fazendo um péssimo trabalho, porque o que foi dado à Polícia Federal é autonomia e independência e está se dando estrutura para realizar bem o seu trabalho”.
Na
segunda, 1º, foram indiciados o assessor especial e braço direito de Álvaro
Antônio, Mateus Von Rondon, e os ex-assessores Roberto Soares e Haissander de
Paula por suspeita dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação
indébita de recurso eleitoral e associação criminosa.
A suspeita da Polícia Federal é a de que candidaturas e o serviço eleitoral
declarado por quatro candidatas não tenham passado de simulação, com o intuito
de desviar dinheiro público destinado ao PSL.
Jornalistas
O ministro disse também que não há perseguição a jornalista e evitou confirmar a informação de que a Polícia Federal estaria investigando as atividades financeiras do jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil.
O site O Antagonista noticiou nesta terça que a PF pediu ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), vinculado ao Ministério da Fazenda, informações sobre Greenwald.
O Intercept tem publicado reportagens sobre mensagens atribuídas a Moro e à força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. “A questão da investigação está com a Polícia Federal. Não há qualquer perseguição a jornalista e qualquer questionamento a esse respeito tem que ser feito à PF. Respeitamos a liberdade de imprensa”, disse o ministro, ao ser questionado, em audiência na Câmara dos Deputados, sobre o suposto pedido da PF ao Coaf.
Procurada
pela Folha de S.Paulo, a PF, que investiga a possível ação de hackers no episódio
das mensagens, disse que não confirma a informação.
O Coaf informou, por sua vez, que não comenta casos específicos em função do
sigilo fiscal e bancário a que está submetido.
“Além disso, não é função do Coaf realizar investigações, o que faz é encaminhar às autoridades competentes de investigação -geralmente Ministério Publico e/ou Polícia Federal – informações sobre movimentações financeiras atípicas. O Coaf também esclarece que não tem conhecimento de nenhum pedido por parte da Polícia Federal”, disse, em nota.
Ao comentar a informação em rede social, Glenn Greenwald criticou Moro. “Vai e ‘investiga’ tudo o que quiser. Grupos de liberdade de imprensa em todo o mundo terão muito a dizer sobre isso. Enquanto você usa táticas tirânicas, eu continuarei reportando junto com muitos outros jornalistas de muitos outros jornais e revistas”, disse.