Permitir-me-ei escrever este texto em primeira pessoa. Prefiro em terceira pessoa, mas o assunto impõe o uso da primeira.
Na quarta-feira da semana passada, recebi mensagem com um banner ilustrado dando conta de que está sendo gestado um plano para condenar “seis jornalistas que apoiaram a candidatura do atual ministro Eduardo Braga (PMDB) para o governo estadual”. O banner lista o meu nome como sendo um dos alvos do “plano macabro”. O texto traz uma inverdade. Nunca apoiei Eduardo Braga. O site AMAZONAS ATUAL manteve-se neutro nas eleições de 2014, tendo, inclusive, matérias utilizadas pela candidatura de José Melo (Pros) contra o adversário Eduardo Braga, assim como é verdade que o grupo de Braga usou matérias do site contra o grupo adversário, na propaganda eleitoral na TV.
Esclarecido esse detalhe e repondo os fatos, volto ao conteúdo principal da mensagem recebida: dizia que o tal “plano macabro” envolve pessoas do governo do Estado e do Judiciário (não vou citar nomes, apesar de os nomes estarem listados lá). Possivelmente, se a mensagem tem algum fundo de verdade, a execução do plano se concretizaria com o ajuizamento de processos na Justiça Estadual contra os jornalistas. A mensagem chegou a outros colegas e alguns me ligaram preocupados.
No dia seguinte, participei de um evento em que estavam empresários, políticos e jornalistas, e no diálogo com um grupo de colegas de profissão, uma jornalista conhecida de longa data soltou a seguinte frase: “Estou com medo de qualquer dia receber a notícia de que te mataram”. Ela explicou que a preocupação se devia ao conteúdo das notícias que o AMAZONAS ATUAL tem divulgado.
Na sexta-feira, um amigo me ligou para comunicar que um grupo estava reunido naquele momento, por volta de 19h, no escritório de um advogado, para tramar um plano contra mim e um grupo de jornalistas que estariam “incomodando demais” o poder. Recebi a informação com certo bom humor, mas o interlocutor alterou a voz para me advertir: “Eu não estou brincando! O negócio é muito sério. Estou lhe informando para que você tome mais cuidado, fique alerta!”. O grupo a que ele se referia era o mesmo da tal mensagem mencionada no início deste texto.
Na mesma noite de sexta-feira, um empresário que colabora com o site fez outra advertência: aconselhou-nos a buscar um local mais seguro para a redação do site e sugeriu um prédio com controle de entrada de pessoas. A preocupação, segundo ele, se devia também ao conteúdo das matérias do AMAZONAS ATUAL, que, na avaliação dele, estaria incomodando muita gente poderosa.
Tais advertências e mensagens podem ser apenas alarmismo de pessoas que mais do que eu se preocupa com o destino de quem decide fazer o trabalho que estamos fazendo. E não há nada de inusitado nesse trabalho. Estamos apenas fazendo jornalismo, cujo conceito na maioria das mentes é distorcido, e a atividade é confundida com publicidade. Detemo-nos à publicação de fatos e opiniões, no limite da legalidade, sem agredir ninguém. Não são quaisquer fatos, mas aqueles que estão sob a guarda do silêncio ou da escuridão. A revelação desses fatos e as opiniões a respeito deles incomodam, e disso tenho consciência.
Não temos a verdade, apenas a perseguimos, pois a verdade insofismável não existe. E os fatos narrados no jornalismo, por serem apenas recortes de eventos passados, estão sujeitos a interpretações diversas. Mas são essas representações que contribuem para a formação da opinião pública, tão necessária à dinâmica social e ao desenvolvimento humano.
Por ser atividade essencial à sociedade é que todos os países democráticos incluem a liberdade de expressão e de pensamento como um direito inalienável na Constituição. E assim é a Constituição brasileira. No entanto, essa liberdade, para muitos que se apoderam de cargos e do poder, é relativa. As liberdades só são garantidas quando não incomodam.
Alguns sites de notícias e blogs, com a dinâmica da internet que tirou das grandes empresas de comunicação a exclusividade da divulgação de notícias e opiniões, começam a incomodar deveras aqueles que controlavam o conteúdo dos meios de comunicação, pela pressão política ou pelo viés econômico.
No Amazonas, onde nunca se tolerou a crítica, mas sempre se alimentou a bajulação, desde os tempos do rádio, começam a ser arquitetadas formas de colocar mordaça naqueles que tentam trabalhar com liberdade. Os que estão temporariamente no poder agem como os antigos coronéis de barranco. Os alertas dão conta de que a trama é feita não de forma velada, mas sorrateira.
Esse tipo de ação não me intimida e não intimida as pessoas que fazem um trabalho semelhante ao do AMAZONAS ATUAL. Se o vazamento das informações sobre as reuniões do tal grupo teve o objetivo de intimidar, os arquitetos da missão sorrateira erraram na avaliação. O nosso trabalho vai seguir na mesma linha. Se tivermos que travar uma batalha judicial para fazer esse trabalho, travaremos, com a consciência de que nossas armas e nossa tropa são insignificantes diante do poderia dos que nos escolheram como adversários. A confiança que nos move está na letra da lei, que esperamos não seja ignorada em eventuais julgamentos.
Não há nenhum desejo de heroísmo no trabalho que faço. Apenas exerço com decência a profissão que escolhi.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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