Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – O médico Mouhamad Moustafa disse, em depoimento à juíza federal Ana Paula Serizawa, na última quarta-feira, 25, que prefere morrer na cadeia, mas não entregará a senha do celular dele apreendido pela PF (Polícia Federal) para não expor a privacidade dos filhos. O médico é acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de marcar encontro e trocar informações sigilosas sobre a Operação Cashback, a quarta fase da ‘Maus Caminhos’, com o empresário Gilberto Aguiar, também investigado na operação. Mouhamad está preso.
“Não há quem me faça liberar (a senha). Nem que eu tenha que passar 30 anos preso por isso. A Constituição me ampara de não ter que liberar senha. Eu só dou se quiser. Mas eu faço isso em nome da minha família, dos meus filhos. E se por eles eu tiver que morrer na cadeia, eu vou morrer”, afirmou Mouhamad.
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De acordo com a advogada Simone Guerra, o MPF optou pelo indeferimento de todos os pedidos de revogação da prisão preventiva do médico sob argumento de que ele não entregou a senha do celular para a PF quando foi preso no dia 7 de dezembro de 2018. Em todos os pedidos, a juíza Ana Paula Serizawa seguiu o entendimento do MPF e negou a liberdade a Mouhamad Moustafa.
O médico disse que na primeira operação, quando entregou o celular à PF, a família teve a “privacidade totalmente quebrada” e a vida “devassada” quando arquivos pessoais que não tinham ligação com a operação foram divulgados por blogs de Manaus. “Aquilo meu foi exposto pra todo mundo sem permissão alguma. E por causa disso eu tive sérios danos, meus filhos foram expostos, são crianças”, afirmou.
De acordo com Mouhamad, fotos em que os filhos dele aparecem de costas na frente de um cofre foram divulgadas de maneira criminosa. “Ainda que eles estejam de costa, amanhã ou depois o amigo da escola vai usar o bullying daquela foto para dizer: ‘você está na frente de dinheiro roubado’. A gente, oportunamente, vai provar que não é dinheiro roubado, mas vão expor”, afirmou.
Sobre as acusações de tentativa de embaraço às investigações, Mouhamad afirmou que não tinha contato com Gilberto Aguiar e que ambos não eram próximos porque eram concorrentes comerciais. “A gente se falava raramente por motivo profissional. Ele prestou serviço no INC assim como eu prestei. Só (nos falávamos) quando era extremamente necessário. Nós não tínhamos empatia um pelo outro”, afirmou.
Mouhamad Moustafá afirmou que é dele a voz registrada nos áudios encontrados pela PF no celular de Aguiar, mas que, no processo, as mensagens estão “descontextualizadas e fora de nexo”. O médico também disse que não lembra para quem enviou e nem quando gravou os áudios. “Com certeza, era algo em relação a algum conteúdo de trabalho”, disse.
Assista ao trecho do depoimento de Mouhamad: