
Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS — Terminou em bate-boca a audiência com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na Comissão de Infraestrutura do Senado nesta terça-feira (27). O senador Omar Aziz (PSD) fez um discurso incisivo contra Marina, que rebateu.
“A senhora está atrapalhando o desenvolvimento do país”, disse Omar. “Não faço meu trabalho pensando nas próximas eleições”, retrucou Marina. A discussão se generalizou quando o presidente da comissão, Marcos Rogério (PL-RO), disse à ministra: “Ponha-se no seu lugar”.
Na audiência, Omar criticou Marina pelo travamento de grandes empreendimentos na Amazônia, como a repavimentação da rodovia BR-319, que o senador afirmou ser um “compromisso do presidente Lula”. Ele também defendeu a extração mineral na região.
“O debate da BR-319 virou em cima de um bode expiatório. Esse bode expiatório chama-se Marina Silva. Porque é concretíssimo que eu saí do governo em 2008. De lá para 2023 foram 15 anos. Por que as pessoas que são dadas às coisas concretas não fizeram a BR? Mas existe um bode expiatório que, mesmo diante de 15 anos, continuou sendo bode expiatório para esconder a incompetência daqueles que fazem promessas e não cumprem”, disse Marina. “Por que o governo Bolsonaro não fez?”, questionou.
Marina defendeu o cumprimento das regras, citando o caso da transposição do Rio São Francisco, no Nordeste. “No caso da BR-319 é a mesma coisa. Isso é muito concreto. Não é questão ideológica. Desmatamento, exploração ilegal de madeira e garimpo ilegal são objetivos”, afirmou.
“Eu digo para Vossa Excelência, com toda a tranquilidade da alma, que isso tem uma mistura de técnica e de ética, porque eu não faço meu trabalho pensando nas próximas eleições. Eu faço meu trabalho com base naquilo que a lei determina e pensando nas futuras gerações”, disse a ministra.
Omar retrucou: “A senhora não é mais ética que ninguém”. Marina respondeu: “Eu sei que não sou. O senhor disse que eu sou apenas ideológica”.
Omar também afirmou: “A senhora está atrapalhando o desenvolvimento do país. Eu lhe digo isso com a maior naturalidade do mundo. Tem mais de cinco mil obras paradas por causa dessa conversinha, governança, blá blá blá…”.

O senador do Amazonas criticou Marina após ela declarar estar “do lado dos que estão preservando”, tanto no Acre quanto no Amazonas. Omar rebateu: “Quem é que vive de extrativismo hoje ainda? Quem é que ganha dinheiro com extrativismo? Não me faça falar sobre borracha, porque vocês não chegam nem perto da exploração extrativista que o meu estado tem. Nem perto!”, disse.
“Eu subsidiava o preço da borracha para que o seringueiro pudesse se equipar. Ou a senhora acha fácil o cara entrar, levar picada de cobra, levar onça nas costas? A senhora também é dessa região, conhece tão bem quanto eu. Então não me fale em seis mortes. A senhora disse que viu seis pessoas morrerem. Eu vi 15 mil…”, completou Omar.
O bate-boca com Marina começou quando Omar afirmou que ela está do lado de “meia dúzia de comentaristas que falam besteira sem conhecer a região”.
Marina respondeu: “As pessoas estão nos julgando. Quem nos julga é a história, e eu tenho paciência!”.
Omar rebateu: “A história vai lhe julgar, já está lhe julgando. A culpa da lei de licenciamento aprovada é da senhora”.
Marina: “Não é”.
Omar: “É sim, pela sua intransigência”.
Enquanto Omar e Marina batiam boca, Marcos Rogério ironizou o fato de ambos serem da base governista. “Façam uma reunião lá da equipe do governo e façam esse debate”, disse o senador do PL. Marina rebateu: “É um governo de frente ampla para evitar a ditadura que o senhor não se importou”.
A alfinetada incomodou Marcos Rogério, que disse: “Essa é a educação da ministra Marina Silva. Ela aponta o dedo e…”.
Marina rebateu: “Não. Eu tenho educação… O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa. Eu não sou”.
Marcos: “Agora sexismo, ministra? Com todo respeito ministra”
Marina: “O senhor gostaria que eu fosse [submissa]. Eu não sou. Não sou. E vou falar”.
Marcos: “Me respeite, ministra”.
Marina: “Eu estou lhe respeitando”.
Marcos: “Me respeite. Se ponha no teu lugar“.
A declaração provocou ampla repercussão e gerou manifestações contrárias ao senador. A senadora Eliziane Gama repreendeu o colega, que justificou suas palavras dizendo que se referia ao ‘lugar’ de “ministra de Estado”.
Eliziane: “Que isso, presidente? Que desrespeito é esse com a ministra?”.
Marcos: “Vossa Excelência está atribuindo a este presidente um comportamento sexista. Não sou sexista. Que absurdo!”.
Eliziane: “Ponha-se o senhor no seu lugar, presidente”.
Marcos: “Vossa Excelência veio a esta comissão para tumultuar”.
Eliziane: “Que absurdo”.
Marcos Rogério disse que Marina, que estava na comissão à convite, seria convocada na próxima audiência. Omar disse: “Não, da próxima vez não vai ser audiência nem convite. Vai ser convocação”.

Momentos depois, o senador Plínio Valério (PSDB) iniciou nova discussão com Marina, que acabou deixando a comissão. Plínio disse: “Que bom reencontrá-la. Ao olhar para a senhora, estou vendo uma ministra. Não estou falando com uma mulher”.
Marina rebateu: “O senhor está falando com as duas coisas”. E Plínio: “Não, não. Estou falando como ministra. Porque a mulher merece respeito. A ministra, não“.
Marina: “Por que o senhor não me respeita como ministra?”.
Plínio repetiu várias vezes: “Por favor, não provoque!”.
Marina relembrou uma fala polêmica de Plínio em um evento em Manaus: “O senhor disse que queria me enforcar”.
A ministra pediu para que Plínio pedisse desculpas e, diante da negativa, deixou a audiência.
Veja o momento da discussão.
Omar está na política há 4 décadas. O AM não tem esgoto nas cidades. Marina é atual e respeitada fora do Brasil. Fora do AM ninguém sabe quem é Omar. Omar quis ganhar voto, mas perdeu. Inclusive o meu.