Do ATUAL
MANAUS – Brasília, Manaus e Goiânia são as capitais brasileiras com mais de 2 milhões de habitantes com maior deficiência no sistema de monitoramento da qualidade de ar no país. É o que mostra estudo divulgado nesta terça-feira (27) pelo Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente). As três cidades não possuem estações, apesar de sofrerem consequências da qualidade do ar.
De acordo com o estudo “Dimensionamento da Rede Básica de Monitoramento da Qualidade do Ar no Brasil – Cenários Iniciais”, publicado no site do Iema, o Brasil precisa de 46 novas estações de monitoramento da qualidade do ar automáticas, se considerados os elementos utilizados pelos Estados Unidos, com base em critérios populacionais. Se o parâmetro for a recomendação da União Europeia, o quadro é mais grave ainda e o déficit é de 138 novas estações.
O estudo aponta que a necessidade em Manaus é de 2 estações, pelos critérios norte-americanos, e de 4 unidades, de acordo com os parâmetros europeus. Manaus, Goiânia e Brasília são aglomerados com mais de dois milhões de habitantes que sequer têm uma estação de monitoramento automática.
Entre agosto e novembro de 2023, no período da seca severa e aumento do número de focos de queimadas e incêndios ambientais, Manaus enfrentou seguidos dias de ar com qualidades ruim e péssima, de acordo com aplicativo Selva (Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental) da UEA (Universidade Federal do Amazonas).
Os piores índices foram registrados em outubro e novembro, quando os dias amanheciam esfumaçados na capital amazonense, com registro de doenças respiratórias, além de procura maior por xaropes para tosses, medicamentos antialérgicos e máscara de proteção.
Além de Manaus, Brasília e Goiânia, outras capitais com populações acima de um milhão de habitantes, também não têm estações automáticas: Belém (PA), Natal (RN), Maceió (AL), Florianópolis (SC), João Pessoa (PB), Teresina (PI) e Aracaju (SE).
“Nós sabíamos que o monitoramento da qualidade do ar era insuficiente, mas não tínhamos critérios técnicos para apontar o quanto”, revela David Tsai, gerente de projetos do Iema e um dos autores do estudo, em declaração ao site do Iema.
“O objetivo do estudo foi responder qual a quantidade mínima necessária de estações para avaliar a qualidade do ar do país, além de estabelecer a distribuição da rede. Para isso, empregamos o critério inicial de dimensionamento das redes na Europa e nos Estados Unidos, que é o recorte populacional”, disse Helen Sousa, pesquisadora do Iema e também autora do estudo.
Atualmente, o Brasil tem 245 estações de monitoramento automáticas – que coletam e enviam dados em tempo real – apontando como está a poluição do ar com relação a poluentes como ozônio (O3), material particulado (MP10 e MP2,5) e óxidos de nitrogênio (NOX).
Elas estão distribuídas em apenas 13 dos 26 estados, sendo que mais de 80% se concentram na Região Sudeste. Desde 1990 a legislação brasileira, prevê que o país deve ter uma Rede Nacional de Monitoramento da Qualidade do Ar.
“Os estados que tinham capacidade e colocaram o problema da qualidade do ar como a ser tratado na política pública foram, aos poucos, montando suas redes”, conta Tsai. Por isso há um número relevante de estações, mas concentrada em poucos estados.
“O estudo mostra que a quase totalidade dos estados tem monitoramento insuficiente. Apenas o Espírito Santo cumpriu com as quantidades mínimas requeridas, aplicando-se os critérios dos Estados Unidos e da Europa”, afirma Helen.
Para o trabalho, a equipe do Iema considerou as definições de arranjos populacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).