Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Acusado de embaraçar investigações da Operação Cashback, a quarta fase da ‘Maus Caminhos’, o advogado e ex-deputado estadual Lino Chíxaro disse, na quinta-feira, 26, em depoimento à juíza Ana Paula Serizawa, que ele e a mulher tinham ouvido boatos de que haveria operação da PF (Polícia Federal), mas não sabiam o dia, a hora e nem quais pessoas seriam alvo. Lino também disse que a PF criou “fábula, tipo teoria de jogos, para incriminá-lo”.
“Não (obtive informação sigilosa da ‘Cashback’), doutora. Eu não posso deixar de ser verdadeiro com a senhora e com a Justiça de dizer que em Manaus boatos de operações são como farinha. Mas eu, pessoalmente, saber de dia, hora, quem são as pessoas, eu nunca tive esse acesso, não”, afirmou Lino Chíxaro.
De acordo com o advogado, no dia 10 de outubro, véspera da operação, a mulher dele enviou três contatos de advogados para um grupo da família porque tinha ouvido boato de que haveria operação e queria se “preservar”. “A minha mulher me disse que havia um boato em Manaus de operação e ela estava em pânico. Quis, assim, se preservar de qualquer coisa que acontecesse. Coisa de esposa mesmo”, afirmou Chíxaro.
O ex-deputado estadual disse que a Polícia Federal “criou um contexto” do qual concluiu que ele tinha conhecimento da operação e que teria se desfeito do celular para destruir provas. Além de Chíxaro, respondem a ação penal Mouhamad Moustafá, Murad Aziz, Gilberto Aguiar, Marco Antônio Barbosa e Jader Helker Pinto.
Analista tendencioso
Chíxaro atacou o analista federal Luis Eduardo de Castro, que cumpriu as diligências na casa dele, no condomínio Efigênio Salles, e registrou três indícios de que o advogado sabia da operação. Segundo Lino, desde sempre o analista que “cuidou da vida” dele “era tendencioso” e, por isso, ele buscou o delegado de Polícia Federal Alexandre Teixeira para prestar esclarecimentos quando o nome dele foi citado em desdobramentos anteriores da operação.
Ao ser questionado sobre a ausência dos filhos no dia da operação, Chíxaro disse que o agente policial “criou uma fábula”. “Eu não entendo esse tal contexto lógico ao qual se referiu aqui o agente Castro. Isso é uma fábula que eles criam, eles montam tipo teoria de jogos, para incriminar pessoas”, afirmou o ex-deputado estadual.
“Mentira”
O advogado disse que “é mentira” a informação registrada pelo agente da PF de que a esposa dele, Danyelle Chíxaro, no dia da operação, havia dito que as crianças já haviam sido levadas para a escola antes do horário em que a PF chegou ao condomínio (5h50). “Isto é uma mentira, é uma inverdade. Ele colocou isso no relatório e não teve a coragem de chamar a minha mulher para ser ouvida. Ela não abriu a boca pra dizer isso nunca. Eu estava na sala”, disse.
De acordo com o advogado, os filhos estavam na casa da avó. “A minha esposa teve um aniversário e deixou os meninos com a avó, o que é uma coisa muito frequente na nossa família”, afirmou Chíxaro. “E tem outra: a minha mulher não é louca. Ela é uma pessoa de bom senso. Como é que ela ia dizer que as crianças teriam saído antes se a polícia chegou 5 para as 6 em casa? As crianças teriam que ter acordado 4 e meia da manhã”, afirmou Lino.
O celular
Sobre a troca do aparelho celular um dia antes da operação, Lino afirmou que no dia 8 de outubro viajou para São Paulo para fazer revisão de uma cirurgia realizada duas semanas antes na mesma cidade. Nesse dia, ele disse que o celular dele caiu do táxi enquanto ia almoçar no Shopping JK Iguatemi e, por isso, comprou outro celular “para poder trabalhar”.
“Cheguei em Manaus onze da noite. Celular novo tem sempre um pouco de bateria. Eu troquei, descartei o velho e fiquei com o novo. (…) Eu acho que (o celular antigo) ficou no aeroporto. Eu fiquei esperando muito tempo um amigo. Troquei o celular e descartei”, afirmou Lino Chíxaro. Ele retornou a Manaus no dia 10 de outubro.
Lino disse que o aparelho celular substituído tinha apenas três meses de uso e que, por isso, “era impossível ter informações de interesse da Polícia Federal” sobre a Operação Maus Caminhos. “É impossível, do ponto de vista da lógica e da física”, afirmou o ex-deputado estadual. Ele disse que trocava de telefone duas ou três vezes por ano.