
MANAUS – Em meio à pandemia de Covid-19, que já matou quase 210 mil brasileiros, uma disputa política lamentável ganha o noticiário nacional. De um lado, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de outro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), representado, em alguns momentos, pelo seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Independente de quem tenha razão – de fato nenhum dos dois lados a tem –, as cenas lamentáveis de trocas de acusações só revelam como a política no Brasil despreza os valores mais elementares erigidos pela humanidade.
A vacina para curar a doença que mata em velocidade cada vez maior e não tem, como comprova a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), alternativa terapêutica além da imunização, virou motivo de disputa política ainda em meados de 2020, quando Doria anunciou as tratativas com o laboratório chinês para a produção da vacina em parceria com o Instituto Butantan.
Desde então, ele e Bolsonaro trocam insultos. Do lado do governador de São Paulo, os insultos são mais polidos, ao contrário do presidente da República. Bolsonaro, inclusive, desdenhou o quanto pôde da vacina do Butantan. Chegou a batizá-la de “vacina chinesa do Dória”. Mais recentemente, quando da divulgação dos comprovantes de eficácia, o presidente desdenhou do imunizante.
No ano passado, Doria chegou a cobrar do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, um posicionamento do governo federal sobre o interesse em comprar a vacina Coronavac. Depois de dizer que o governo compraria, Pazuello foi desautorizado por Bolsonaro, que afirmou que o imunizante não seria comprado.
O problema é que a tão propalada vacina de Oxford, a preferida de Jair Bolsonaro, que no Brasil será produzida pela Fiocruz, não chegou. E há uma pressão pelo início da vacinação no momento em que a pandemia ganha um novo impulso no Brasil.
Diante da realidade, Jair Bolsonaro tentou isolar João Doria, com o anúncio de que o Ministério da Saúde comprou toda a produção da vacina do Butantan. Neste caso, de acordo com o ministro Pazuello, São Paulo se sujeitaria às regas do governo federal para receber a vacina que o governador brigou para produzir no Brasil.
Pazuello concedeu uma entrevista coletiva no fim da tarde para contestar o fato de São Paulo iniciar a vacinação. Uma enfermeira negra se tornou a primeira brasileira a receber a vacina em território nacional. O ministro ameaçou com medidas judiciais a desobediência de Doria.
Doria, por sua vez, aproveitou o evento em que comemorou o início da vacina no Brasil para lamentar a atitude do ministro e criticar Jair Bolsonaro, lembrando todo o comportamento negacionista do presidente da República em relação à pandemia.
Tudo seria muito mais simples e produtivo se ambos os lados tivessem adotado uma postura republicana e trabalhado juntos para apressar a vacinação no Brasil.
Infelizmente, os dois estão pensando em 2022. Não é a saúde da população brasileira o que importa, mas a disputa eleitoral futura pela cadeira presidencial.
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