Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Murad, Amin e Manssur Aziz, presos temporariamente na manhã dessa sexta-feira, 19, em Manaus, na Operação Vertex, quinta fase da Operação Maus Caminhos, usavam a posição deles de irmãos do senador Omar Aziz (PSD), ex-governador do Amazonas, para obter vantagens ilícitas em esquema de desvio de dinheiro público liderado pelo médico Mouhamad Moustafá. Entre as vantagens estão o pagamento de R$ 100 mil a Manssur Aziz, um carro de luxo a Murad Aziz e a concessão de contratos superfaturados para a empresa de Amin Aziz.
De acordo com a decisão do juiz federal Marllon Souza, da 2ª Vara Criminal da Justiça Federal do Amazonas, as investigações da Polícia Federal apuraram indícios de que, além de Nejmi e Omar, os três irmãos do senador praticavam peculato, lavagem de dinheiro, associação e organização criminosa.
A mesma decisão que autorizou a fase ostensiva da Operação Vertex mostra como Murad, Amin e Manssur eram beneficiados pelo esquema fraudulento que acontecia através do INC (Instituto Novos Caminhos), cujo proprietário oculto, segundo o MPF (Ministério Público Federal), é o médico Mouhamad Moustafá.
Amin Aziz: contrato superfaturado
A Polícia Federal apurou que em 2014 a empresa Salvare, principal fornecedora do INC, alugou uma sala comercial de 172,16 m2 no edifício Atlantic Tower, na zona centro-sul de Manaus, por R$ 25 mil mensais. O que chamou a atenção da PF foi que uma sala no mesmo andar, de 163,81 m2, foi alugada por um valor três vezes menor: R$ 7 mil. Para a PF, houve superfaturamento de contrato.
Ainda conforme as investigações, a sala alugada para a Salvare pertence a empresa Y. A Empreendimentos, que tem como sócio administrador o empresário Amin Aziz. A PF, citando nota técnica da CGU (Controladoria Geral da União), afirma que o pagamento superfaturado do aluguel era uma forma de repassar recursos públicos desviados do FES (Fundo Estadual de Saúde) para o empresário Amin Aziz.
“Existem indícios de que o pagamento de contrato de aluguel entre a Salvare e a Y.A Empreendimentos seria uma forma disfarçada de repasse de valores para Amin Aziz”, diz trecho da decisão de Marllon Souza.
A Polícia Federal também afirma que há elementos indicativos de possível pagamento de dinheiro por Mouhamad a Amin. Em mensagens trocadas no dia 22 de outubro de 2014, Amin pediu a Mouhamad para que não esquecesse da sua “medicação”. Segundo a PF, trata-se de um código para identificar pagamento de vantagem ilícita. Mouhamad respondeu que pagaria no dia seguinte: “Amanhã na veia primo”.
Outra conversa entre Mouhamad e Priscila Coutinho, apontada como chefe do núcleo financeiro do esquema fraudulento, mostra que o médico da Maus Caminhos mandou uma pessoa identificada como “Júnior” entregar R$ 33,7 mil a Amin em local identificado como “shopping”. Para o magistrado, em ambas as ocasiões, há o indicativo do “pagamento ao menos esporádico de vantagens ilícitas além do pagamento superfaturado pela sala 510 do Edifício Atlantic Tower”.
Murad Aziz: mesada e carro de luxo
As investigações concluíram que Murad Aziz recebia mesada de R$ 154 mil e ganhou um carro de luxo de Mouhamad Moustafá. Segundo a PF, ele cometia “crimes de corrupção passiva em coautoria com seu irmão Omar Aziz, o que não fora objeto da ‘Operação Cashback’.
“Não deve ser desprezado o indício de entrega de 20 mil reais por Mouhamad a Murad, sem demonstração de qualquer negócio jurídico celebrado entre os mesmos, como demonstram os diálogos transcritos às fls. 72-v/73, bem como de que Murad receberia a quantia de R$ 154.000,00 por mês de Mouhamad”, afirma o juiz Marllon Souza.
A polícia diz que Murad e Mouhamad tentaram “acobertar a prática de crimes, com a preocupação exacerbada em utilizar aplicativos de conversas em que as mensagens se autodestruíram após determinado tempo”. Em uma dessas mensagens, ao falar sobre um aplicativo “seguro”, eles chamam o senador Omar Aziz de Alfa: “O Alfa tem falado comigo só nele diz que é seguro”.
Murad recebia vantagens indevidas direcionadas ao senador Omar Aziz em contraprestação à entrega dos contratos de gestão ao INC, segundo a PF. Em uma das conversas entre Mouhamad e Murad, o irmão de Omar afirma que o médico “ficará sem receber se fizer uma brincadeira com Omar Aziz”.
As investigações também chegaram a conclusão de que Murad era o verdadeiro dono de uma Mercedez Bens SLK 250 que estava em nome da empresa Salvare. Além do veículo, outras vantagens seriam entregues a Murad na forma de custeio de despesas relativas ao mesmo veículo.
Manssur Aziz: “remédios”
O médico da Maus Caminhos também dava dinheiro para Manssur Aziz e ambos usavam códigos em conversas por mensagens para se referir a dinheiro, apontaram as investigações. Segundo a polícia, no dia 16 de dezembro de 2015, em diálogo entre Mouhamad e Priscila Coutinho, o médico avisou que queria pagar R$ 100 mil para Manssur “com urgência” devido a sua insistência, e marcou a entrega do dinheiro em um galpão ao lado da empresa Salvare.
Conversas entre novembro de 2014 e outubro de 2015 revelam indícios de pagamento de um suposto empréstimo feito por Mouhamad a Manssur. Segundo a PF, no dia 11 de dezembro de 2014, os dois combinaram o pagamento dos valores e referiram-se ao dinheiro como “comprimidos” ou “remédios”.
Mouhamad e Manssur também usavam o código “sobra” ou “diferença” para se referir aos valores que teriam sido pagos. Em outro momento, no dia 9 de junho de 2014, também para se referir a dinheiro, eles usaram uma história de “funcionários” para fazer “documento de trabalho”.
Gostei do modo como são publicadas as matérias, com imparcialidade e sem sensacionalismo barato.