MANAUS – Os fatos ocorreram em 2014, entre junho e julho, em plena Copa do Mundo da Fifa. O governo do Amazonas contratou – quando o juiz da partida de estreia da Arena da Amazônia na Copa já se preparara para dar o start – uma empresa para fazer monitoramento das delegações, como suporte para um aparato de segurança construído há pelo menos três anos, sob o comando da Secretaria de Segurança.
A contratada foi a ANS&D (Agência Nacional de Segurança e Defesa), de Nair Blair, por R$ 1 milhão. A empresa não tinha qualquer expertise na área. Durante a campanha eleitoral daquele ano, iniciada um mês após o negócio com o governo, Nair Blair foi presa por suspeita de compra de votos.
O processo na Justiça Eleitoral resultou na cassação do mandato do governador José Melo e do vice-governador Henrique Oliveira. A Justiça eleitoral, em 2017, concluiu que o dinheiro pago à ANS&D foi usado na compra de votos para o governador e seu vice.
Só um ano depois da cassação, em 2018 – portanto, quatro anos depois dos fatos e do flagrante de Nair Blair em ação nas eleições – o Ministério Público do Estado do Amazonas apresentou denúncia contra o governador, o então secretário de Segurança, Dan Câmara, e seus subordinados.
A Justiça Estadual levou mais dois anos para aceitar a denúncia. Isso significa que o processo ainda está no meio do caminho. Os denunciados viraram réus nesta quinta-feira, 10.
Os próximos passos, em tese, são mais demorados, uma vez que o Ministério Público terá que apresentar outros elementos de provas, e os réus e testemunhas terão que ser ouvidos.
Na própria decisão o juiz Ronnie Frank Torres Stone sinaliza para a necessidade de se provar, inclusive, fatos que levaram à cassação do governador, como por exemplo, se o dinheiro apreendido com Nair Blair às vésperas da eleição, eram, de fato, o mesmo que saiu dos cofres públicos para pagar o contrato de R$ 1 milhão.
Outro problema gerado pela demora na investigação é a dificuldade de recuperar a verdade dos fatos a partir de testemunhas, seis anos depois dos fatos.
O processo aberto na Justiça comum visa a devolução dos valores pelos implicados na denúncia. Se o Ministério Público vai conseguir o seu intento, só o tempo vai dizer.