Como podemos dizer ser possível valorar a honestidade, ou melhor, dizer que possui um custo? Fácil mensurar. Basta analisar um relato ouvido recentemente: Duas amigas, ao viajarem para o exterior, fizeram algumas compras; uma delas comprou um computador e um telefone e, ao retornarem, uma passou direto pela Alfândega e a outra foi honestamente declarar o valor excedido da cota de quinhentos dólares. Teve tributados, além dos eletrônicos, todos os itens que foram comprados. Poderia ter acompanhado a amiga e talvez tivesse tido a sorte de não ser parada. A honestidade de fazer a declaração junto à ávida Receita Federal custou-lhe caro, única e exclusivamente, porque jamais verá o retorno desse dinheiro como aconteceria num país decente. “Honestidade, no Brasil, custa muito caro”.
Muitos dirão que a honestidade não tem valor e deveria ser inerente a todo cidadão, ou melhor, ela não deve ter um custo por ser obrigatória ao cidadão de bem, por ser uma questão de ordem moral.
É importante fazer uma observação quando sempre se ouve a máxima “o crime não compensa”, porém, os exemplos a que recentemente assistiram os todos os brasileiros, oriundos das decisões de punição de envolvidos na famosa Operação “Lava-Jato”, levam-nos a um sentimento diferente se considerarmos os crimes cometidos em relação às punições aplicadas. Assistimos, diariamente, ao típico exemplo da teoria do utilitarismo do filósofo inglês, Jeremy Bentaham, a teoria do custo-benefício, ou seja, os aplicadores da lei julgaram que os benefícios trazidos pelas delações premiadas eram superiores aos crimes cometidos e às penas aplicadas.
O mesmo princípio de custo-benefício poderia ser aplicado à análise do valor da honestidade, ou melhor, para avaliar o custo da honestidade, no Brasil, especialmente.
Será que todos os esforços que o cidadão realiza para cumprir suas obrigações, perante a sociedade e o governo possuem o retorno devido, ou melhor, os benefícios que ele recebe em contrapartida de seu ato são maiores que o custo? Acreditamos que, em nosso País, não tem ocorrido assim.
Hoje, pagam-se impostos, taxas e outras obrigações acessórias, que, na verdade, são claramente confisco, já que não há praticamente nenhum retorno, ou benefício, de todo esse sacrifício. Após pagarmos os “impostos”, somos obrigados a pagar novamente por um seguro saúde, senão morreremos à espera de cuidados médicos que nunca chegarão, educação com o mínimo de qualidade do Ensino Básico à Universidade, segurança, lazer entre outros.
Os impostos, pagos com nosso trabalho, têm servido, na verdade para custear toda a orgia praticada pelos políticos, que se estendem a alguns empresários, a alguns funcionários públicos. Infelizmente não aprendemos bem a lição que os franceses nos têm oferecido desde a queda da Bastilha. Devemos lutar mais para encontrarmos nossa “Liberté, Égalité, Fraternité”. Talvez devêssemos deixar de pagar todas essas taxas, impostos e obrigações para que pudéssemos gerir todas as nossas necessidades.
Se, por dever de honestidade, cumprimos com nossas obrigações de cidadão, sem obter o benefício adequado como retorno, aqui resta claro afirmar que ser correto custa caro para o cidadão num país de desonestos, que gera valor para o Estado sem a devida contrapartida. Esse é o custo no Brasil: A escravidão do povo brasileiro. É mais simples levarmos apenas para a questão moral e dizer que ser honesto está ligado à educação, que vem de berço e, portanto, é uma questão apenas moral. Mas, ser honesto num lugar que nos coloca à prova a todo instante não é tarefa fácil nem banal. É necessário saber que ser honesto tem um preço e, somente quando todos estiverem dispostos a arcar com esse custo, é que o Brasil chegará aonde desejamos.
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