Da Redação
MANAUS – O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o Amazonas precisa encontrar o “seu modelo sustentável” fora da Zona Franca de Manaus, que classifica como ‘antieconômica’. “Tudo é mal feito”, afirmou, referindo-se à concepção do modelo, durante palestra em Fortaleza (CE) nessa quinta-feira, 5, gerando a fúria de políticos do estado que reagiram contra o posicionamento de Guedes.
Na realidade econômica, de alta produtividade e competitividade, segundo Guedes, a renúncia fiscal em Manaus não pode ser classificada como sustentável. “Quando tem uma região frágil economicamente, que ainda não achou suas vantagens comparativas ou modelo sustentável e que nos interessa geopoliticamente ocupar, são brasileiros como nós todos, tem que ter uma ajuda e essa ajuda vem dessa forma (incentivos tributários), que é disfuncional”, disse.
“Você tem que entender que aquilo não é sustentável. Se achar que você vai viver de fazer uma motocicleta na selva porque tem um IPI alto, é tudo antieconômico, a localização, tá tudo mal feito. Você não está ajudando a região, você está atravancando o futuro dela, está impedindo um futuro glorioso com a região que podia estar encontrando vantagens, é o centro mundial da sustentabilidade, o centro das energias renováveis”, disse, ao citar potencialidades naturais da região ainda não exploradas em escala global.
O ministro da Economia disse que a região poderia aproveitar essas potencialidades como os biofármacos, bioenergia e turismo. “O americano consegue pegar um deserto, que é Nevada, e transformar na capital mundial do entretenimento. E você tem uma selva, um negócio extraordinário, um negócio que você pode botar biofármacos, bioenergia, pode fazer até turismo, tudo pode estar lá em torno disso. Nós temos que procurar essa vocação. Enquanto isso, nós não vamos mexer lá”, disse, acenando que não pretende ‘atacar’ os incentivos tributários no Amazonas.
Guedes citou que a ZFM não é um caso isolado. Segundo o ministro, o próprio modelo tributário brasileiro é inviável economicamente devido ao emaranhado de normas que tornam a cobrança de imposto algo “insano”. Ele citou a indústria automobilística de São Paulo que se beneficiou de incentivos fiscais durante anos e vendia carros populares a 80 mil dólares. “Tinha toda uma farsa lá (em São Paulo) e quem foi explorado foi o consumidor brasileiro”, disse.
Reação
Políticos do Amazonas recorreram ao discurso comum para contra-atacar o ministro. O prefeito de Manaus, Arthur Neto, disse que Paulo Guedes desconhece a região. “Sei da formação sólida do ministro e da sua capacidade de interpretar os fatos que geram a vida econômica brasileira. Agora, em relação à Amazônia e à Zona Franca de Manaus, ele se equivoca. Porque ele simplesmente não conhece de perto o que se faz. Ele se louva em teorias superadas, antigas, de tempos que passaram, que tentavam fazer passar por maquiagem um esforço que era de verdadeira industrialização”, disse Arthur.
Para o senador Eduardo Braga (MDB), a ZFM equaciona fatores humanos e naturais. “A ZFM é muito mais que um modelo econômico. Ela equaciona gente, tecnologia e floresta sob uma filosofia que Guedes insiste em não conhecer”, disse.
Braga afirmou que o governo federal abrirá mão de R$ 331,18 bilhões de arrecadação em 2020 por conta de renúncias tributárias. Desse total, 8,64% são da ZFM. “O grosso dos incentivos – 50,83%- vai para o Sudeste, a região mais rica do país. Outros 14,59% vão para os Estados do Sul”, disse.
Preconceito
O deputado federal Marcelo Ramos (PL) também alega que o ministro desconhece a ZFM e recorre ao fator preservação ambiental. “A ZFM, além de garantir emprego ao cidadão amazonense, é um dos modelos responsáveis pela preservação da floresta amazônica. “As declarações do ministro Paulo Guedes, quando chama de maluquice, demonstram preconceito com o povo amazonense”, disse Ramos.
Roberto Cidade, deputado estadual, também endossa o discurso e cita estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre a economia amazonense. “Em 1970, no começo da ZFM, a renda per capita de São Paulo (R$17,4 mil) era 7 vezes maior do que a do Amazonas (R$2,4 mil). Em 2010, a renda per capita do São Paulo (R$30 mil) era 1,8 vezes maior do que a do Amazonas (R$17 mil)”, disse. “Da mesma forma, as renúncias fiscais da ZFM caíram de 17,1%, em 2009, para 8,5%, em 2018. Tudo isto, graças ao forte aumento da arrecadação federal no Amazonas e da eficiência das indústrias localizadas no PIM”.
José Ricardo, deputado federal do PT, repetiu o argumento de ‘desconhecimento’ do moldeo pelo ministro. “O ministro Paulo Guedes não conhece o Brasil e tem dificuldades de compreensão da economia real porque sempre foi um homem do capital especulativo”, disse. “Sob a gestão dele o desemprego segue na casa de 12%, a indústria nacional recuou 1,6%, o setor de serviços teve o maior recuo da história recente e mais de 20 bilhões de investimentos estrangeiros saíram da bolsa”, atacou.