EDITORIAL
MANAUS – Em 30 de março de 2019, no fim do terceiro mês do Governo Bolsonaro, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, esteve em Manaus para uma palestra a empresários e lançou uma promessa com tom de desafio inusitada: “Se esse trio não resolver o problema da BR-319, eu vou dizer algo que gente fala muito no Exército, eu vou comer minha boina”.
O trio a que o vice-presidente se referia era formado pelo ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, o secretário nacional de Transportes, general Jamil Megid Junior, e o diretor do Dnit, general Antônio Leite dos Santos Filho. E o probmema era a repavimentação da estrada com quase 500 quilômetros de barro e lama.
Estamos no quarto ano do atual governo e nada foi feito. A promessa de Mourão, de Tarcísio de Freitas e do próprio presidente Jair Bolsonaro se dissiparam na brisa quente e única do clima amazônico.
Antes de Mourão, Tarcísio de Freitas já havia prometido, no dia 5 de fevereiro de 2019, em reunião com a bancada do Amazonas no Congresso e o governador Wilson Lima, que o governo federal iria trabalhar para acelerar o licenciamento e o projeto para recuperação da BR-319.
Houve muita comemoração dos políticos presentes à reunião, de deputados estaduais e vereadores de Manaus. Comemoração antecipada nunca foi recomendada, porque corre o risco de ser frustrada pela realidade. Foi o que ocorreu.
Neste espaço, o ATUAL fez alguns alertas de que a comemoração antecipada de promessas deveria dar lugar ao ceticismo e a cobranças para que o assunto não caísse no esqecimento.
Nem os 52 quilômetros que foram licitados, do trecho C, chegou a ser concluído. Esse trecho representa apenas 10% do que é preciso pavimentar para a entrada voltar à condição de trafegabilidade e o anúncio do edital para contratação de empresa para realizar o serviço foi festejado com euforia pelos apoiadores do atual governo no Amazonas.
Houve entraves políticos e técnicos, sim. Pedidos de embargos do Ministério Público Federal para o trecho de 52 quilômetros, questionamentos a respeito de audiências realizadas para discutir o repavimentação da rodovia, também.
Mas não houve, como prometido, empenho necessário do Governo Bolsonaro, assim como não houve dos governos Lula, Dilma ou Temer. O processo de licenciamento ambiental é demorado. No governo Lula houve algum esforço do Ministério dos Transportes para liberar a pavimentação, mas o Ministério do Meio Ambiente nunca aprovou a licença.
Depois disso, só houve muito discurso, comemorações antecipadas e palavras ao vento. As palavras de Hamilton Mourão, no entanto, são as que melhor representam a fanfarronice do governo Bolsonaro.
Seria bom que o vice-presidente comesse a boina antes de deixar o cargo para disputar as eleições de outubro, como pretende fazer.