O presidente da República, Michel Temer (PMDB), afirmou, nesta quarta-feira, 18, que o uso das Forças Armadas nos presídios brasileiros “é uma ousadia que o Brasil necessita e que dá certo”. Será? Quem conhece as autoridades deste pais e a forma de se fazer política sabe que a medida adotada pelo governo federal é um paliativo que tem como propósito apenas mostrar à sociedade que alguma coisa está sendo feito, mas não muda nada na relação corrupta que fomenta a desordem nos presídios. Como diziam os antigos, é conversa pra boi dormir.
Em primeiro lugar, o papel das Forças Armadas é ridículo nesse processo. Os militares não terão contato com os presos, mas ficarão limitados a fazer revistas nos presídios, sem a presença dos detentos, que serão retirados das selas pela Polícia Militar. Fazer varredura em celas, qualquer pessoa poderia fazer, inclusive os funcionários da empresa que, no Amazonas, recebe uma fortuna para cuidar das unidades prisionais. Não precisaria expor o Exército, a Marinha ou a Aeronáutica a um ridículo desses.
Em segundo lugar, o Exército não tem experiência para lidar com uma situação tão peculiar e um problema tão agudo quanto o domínio do crime organizado nos presídios. É sabido que o corpo militar, em sua maioria, é formado de recrutas, garotos entre 18 e 19 anos que mal sabem manusear as armas que costumam empunhar. Uma guerra entre os agentes das Forças Armadas e o crime organizado poderia colocar as instituições militares em situação vexatória. Talvez por isso, o governo de Michel Temer coloca seus soldados para tão somente revirar os entulhos dos presos nas celas.
Como fica claro nas medidas anunciadas pelos Ministérios da Justiça e da Defesa, o principal problema – a corrupção nos presídios – não será enfrentado de frente. O governo federal anuncia gasto de R$ 80 milhões para compra de scanners e outros R$ 150 milhões para adquirir de bloqueadores de celulares. Mas nem as autoridades federais nem as estaduais falam em punição para quem facilita a entrada de armas, drogas e aparelhos de comunicação nos presídios brasileiros.
A situação é tão escandalosa que a qualquer revista nos presídios são encontrados dezenas, centenas de objetos proibidos. É como se não houvesse qualquer controle, como se os presos mandassem nos portões dos presídios.
Sem combater a corrupção, sem retirar dos presídios funcionários de empresas terceirizadas, agentes penitenciários, diretores e policiais aliados ou que fazem a vontade dos presos por temor ou para aumentar a renda mensal, não vai adiantar comprar scanners e nem bloqueadores de celular. E não precisa ser nenhum gênio para se chegar a essa conclusão. Tanto o scanner quanto o bloqueador são monitorados por pessoas. Se não houver honestidade, de nada adiantará o monitoramento eletrônico.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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