EDITORIAL
MANAUS – Depois de o presidente Jair Bolsonaro (PL) atacar as instituições do país diante de diplomatas do mundo inteiro, atacar o processo eleitoral brasileiro e as urnas eletrônicas e de emporcalhar a imagem do Brasil perante o mundo, as reações dos chefes dos outros poderes da República foram acanhadas.
Ninguém teve coragem de falar grosso com o chefe do Poder Executivo; nenhum deu uma resposta à altura das agressões verbais praticadas pelo mandatário. Dos três que se manifestaram, nenhum teve coragem de mencionar o nome do malfeitor. Faltou ao menos uma lambada firme no lombo de Bolsonaro; uma lambada verbal.
O primeiro a manifestar-se foi o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Edson Fachin, citado nominalmente por Bolsonaro durante sua fala de viés golpista. Bolsonaro, ao citar o atual presidente do TSE, lembrou que ele foi o responsável por livrar Lula da prisão e sugeriu que, por isso, está sob suspeição e não tem isenção para atuar na Justiça Eleitoral.
Ao responder aos ataques, Fachin fez um discurso de cerca de 30 minutos, usou palavras polidas e algumas vezes pouco compreensível para a maioria do povo brasileiro, mas não nominou Bolsonaro.
O presidente do TSE falou em “inaceitável negacionismo eleitoral por parte de uma personalidade importante dentro de um país democrático.” É preciso mais. Assim como o ministro Fachin foi nominado, deveria nominar quem ofendeu a Justiça Eleitoral, o processo eleitoral e as urnas eletrônicas.
Fachin afirmou, no discurso: “Não contra-atacamos ninguém pessoalmente e nenhuma instituição. O que rejeitamos é a falta de compromisso com a verdade”. No entanto, é uma personalidade em particular, com nome e sobrenome, que falseia a verdade, que ataca os membros do STF e do TSE e que joga a imagem do país na lama. Não se trata de um ser inominado ou não identificado.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), publicou uma nota telegráfica no Twitter em três posts, que não dizem absolutamente nada que seja ligada à fala de Bolsonaro. Logicamente, pela hora da publicação, a mídia entendeu como uma resposta à fala do presidente da República. No entanto, poderia ser publicada a qualquer tempo.
Se Pacheco não desferiu uma lambada em Bolsonaro, como ele merecia, o que dizer do silêncio do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL)? Por ser aliado de Bolsonaro e trabalhar para a reeleição dele, o presidente da Câmara não tem qualquer interesse em defender a instituição que representa se isso incomodar seu chefe.
Nesta terça-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, mandou um recado quase mudo via assessoria de comunicação. A manifestação da maior autoridade do Judiciário brasileiro diante dos ataques do chefe do Executivo veio em três parágrafos de uma nota que não diz absolutamente nada.
Eis a nota:
“O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro Luiz Fux, se reuniu por videoconferência no início da tarde desta terça-feira (19) com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ministro Edson Fachin. Na ocasião, os dois conversaram sobre os recentes ataques ao Poder Judiciário e ao processo eleitoral brasileiro.
A Fachin, o Ministro Fux reiterou confiança total na higidez do processo eleitoral e na integridade dos juízes que compõem o TSE.
Em nome do STF, o Ministro Fux repudiou que, a cerca de 70 dias das eleições, haja tentativa de se colocar em xeque mediante a comunidade internacional o processo eleitoral e as urnas eletrônicas, que têm garantido a democracia brasileira nas últimas décadas.”
Até o título que a assessoria deu ao texto tem uma mensagem velada: “Presidente do STF se reúne com Fachin e manifesta confiança total no processo eleitoral e nos juízes do TSE”.
Essas autoridades ainda não entenderam que Bolsonaro, como um menino mimado que testa a paciência dos pais, está testando a reação dos chefes dessas instituições. Enquanto ele perceber que pode avançar, continuará avançando.
Já está mais do que na hora de dar um basta.