Da Redação
MANAUS – O MPF (Ministério Público Federal) afirmou que o ex-superintendente do Ibama no Amazonas José Leland Barroso, implicado na Operação Arquimedes, tinha forte ligação com o deputado federal Átila Lins (PP-AM), com quem tratava sobre a liberação de madeireiras irregulares em Manacapuru (a 86 quilômetros de Manaus). O parlamentar, no entanto, não é um dos 22 denunciados nesta terça-feira, 22, por balcão de negócios criminoso no Amazonas envolvendo fraudes nas licenças ambientais.
Conforme a ação penal, registrada com o nº 7089-48.2019.4.01.3200, os ex-gestores do Ibama no Amazonas, Rondônia, Acre e Roraima “foram alçados aos postos de superintendentes por indicações políticas e praticaram, durante suas gestões, ingerências para beneficiar determinados grupos”. O MPF sustenta que as prisões de gestores do Ibama no Acre e Amazonas “comprovam seus envolvimentos com a criminalidade ambiental”.
O procurador da República Leonardo Galiano afirmou, em entrevista coletiva nesta terça-feira, 25, em Manaus, que “não houve imputação de fatos envolvendo o deputado, apenas um fato envolvendo a indicação política do superintendente. “Na verdade, um contexto de questão política mesmo envolvendo algumas madeireiras de Manacapuru”, afirmou.
De acordo com o MPF, mensagens trocadas entre Leland e o deputado federal Átila Lins, interceptadas pela Polícia Federal, revelam que “o vínculo partidário fica bastante evidenciado” no contexto da nomeação do ex-gestor do Ibama no cargo que ocupou na superintendência do Ibama no Amazonas.
“O que se denota ao longo de sua atuação, conforme se constata do diálogo mantido por Lelande e pelo deputado Federal Átila Lins, que se tratou de encontro fortuito de prova, com o condão de demonstrar apenas a atuação ilícita que o denunciado Lelande pautou a sua atuação como ex-superintendente do Ibama”, afirma o MPF.
Em mensagem enviada ao deputado no dia 20 de dezembro de 2018, Leland diz: “Caro deputado, saiu o nome do futuro presidente do Ibama. Consta que é pessoa estreitamente ligada ao diretor de fiscalização atual, responsável pela política ambiental terrorista do Ibama. Corremos risco de continuísmo”.
O deputado Átila Lins respondeu a Leland: “Que falta de sorte, meu amigo. Mas, vamos trabalhar para mudar essa concepção deles”, e enviou link de matéria que ele afirma ter mandado publicar em blog de Manaus com o título: ‘Átila Lins diz que 95% das serrarias fechadas pelo Ibama em Manacapuru devem ser reabertas nesta quinta-feira’.
O ex-superintendente do Ibama afirma que está trabalhando “para isso e dependendo da internet e de algumas análises técnicas ainda não disponíveis”. Átila responde a Leland que “eles estão ansiosos que seja resolvido”. Ambos estão falando sobre a liberação de madeireiras irregulares, segundo o MPF.
À noite, por volta de 19h05, o deputado enviou mensagem para o ex-superintendente do Ibama perguntando: “E aí, Leland. Deu para reabrir alguma coisa em Manacapuru?”. Leland, no entanto, não responde.
Às 6h42 do dia 21 de dezembro de 2018, Lins volta a questionar Leland: “Alguma novidade Leland?”, mas novamente é ignorado. No mesmo dia, às 14h03, o deputado envia mensagem informando que está indo para Manacapuru e pergunta pela terceira vez se há “alguma notícia”. “O que eu vou dizer lá?”, questiona. No dia 22 de dezembro, às 11h59, o deputado escreve: “O que houve, Leland? Não me deu mais notícias”.
O ex-superintendente só responde o deputado no dia 24 de dezembro, às 10h52: “Bom dia, deputado. Fiquei fora de Manaus sem internet. Sexta-feira fiz o desbloqueio de duas indústrias. Estou trabalhando firme para concluir. No entanto, tem algumas em situação complicada. Votos de um bom natal. Lhe manterei informado”.
Após ser exonerado do cargo, em março deste ano, Leland agradeceu ao deputado Átila Lins “a confiança” e pediu apoio para continuar a prestar serviços na área de Meio Ambiente.
“Boa tarde, deputado. Como o senhor sabe fui exonerado com mais 21 superintendentes do Ibama. Quero agradecê-lo pela confiança em mim depositada. A minha possível volta está sendo tratada por algumas frentes, contudo, gostaria de continuar merecendo a sua confiança, se não houverem interesses contrários”, diz trecho da mensagem.
Conforme o MPF, Leland dirige-se ao deputado afirmando ainda ser “imperioso que alguém de juízo seja urgentemente nomeado”, já que em sua opinião, o servidor Hugo Loss, que “assumiu interinamente o Ibama/AM” “foi nefasto para o Amazonas”.
“Creio que posso continuar prestando serviço ao Meio Ambiente do nosso Estado, se Brasília me der espaço de ação. Com a minha saída, o senhor Hugo Loss assumiu interinamente o Ibama/AM. O senhor sabe o quanto esse rapaz foi nefasto para o Amazonas, portanto, é imperioso que alguém de juízo seja urgentemente nomeado. Um Abraço”, diz outro trecho da conversa entre Leland e Átila Lins.
A reportagem ligou para o gabinete do deputado federal Átila Lins e solicitou nota via e-mail. No entanto, até o fechamento desta matéria nenhuma nota foi enviada.
Veja na íntegra a conversa interceptada: