Da Redação
MANAUS – Apesar de afirmar que “não tinha relação de amizade” com Mouhamad Moustafá, considerado pelo MPF (Ministério Público Federal) como líder de esquema de fraudes que desviou R$ 104 milhões da Saúde no Amazonas, o ex-secretário de Administração Evandro Melo confirmou que o médico frequentava a casa dele à época em que ocorreram as fraudes em contratos do Estado. Segundo Evandro, as visitas de Mouhamad eram para acompanhar a doença rara da esposa e para “reclamar de pagamentos de fornecedores”.
“O Mouhamad apareceu lá na minha casa várias vezes. Ele começou a ir na minha casa quando ele se interessou pela doença que a minha esposa tem. É uma doença rara chamada Esclerose Lateral Amiotrófica. Ele não tinha especialidade nessa área, mas queria ver”, afirmou Evandro Melo.
A declaração ocorreu em interrogatório realizado na manhã desta terça-feira, 6, pela juíza Ana Paula Serizawa, da 4ª Vara Criminal da Justiça Federal do Amazonas. Evandro Melo é acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de receber propina de R$ 5,7 milhões no período em que seu irmão, José Melo, era governador. Evandro também é apontado como responsável pelas principais decisões políticas e administrativas tomadas pelo ex-governador, entre elas, a liberação de dinheiro para o INC (Instituto Novos Caminhos). José Melo acompanhou, também nesta terça, o depoimento de sua mulher Edilene Gomes.
Evandro Melo afirmou que a relação dele com Mouhamad era de “fornecedor e Estado” e que não tinha amizade com o médico da Maus Caminhos. “Eu não tinha relação de amizade com ele. Eu me relacionava com ele como me relacionava com todos os fornecedores do Estado que me procuravam naquele momento de crise para tentar resolver seus problemas”, afirmou o ex-secretário.
Questionado sobre a normalidade em receber fornecedores em casa para tratar de contratos do Estado, Evandro Melo disse que “não era normal” e que Mouhamad “se aproveitou” da abertura dada ao médico para acompanhar a doença da esposa para tentar “se aproximar” e tratar dos contratos do Estado com as empresas do médico. “Ele se aproveitou de que inicialmente ele foi ver a minha esposa e, por conta disso, ele tinha essa mania de tentar dizer que tinha relação com todas as pessoas. Isso era da personalidade dele”, afirmou o ex-secretário.
Outras visitas
Evandro Melo disse que Mouhamad também esteve em sua casa para ver equipamentos necessários em uma ambulância que transportaria sua esposa. “Ela precisava se deslocar, eu solicitei uma ambulância, e ele foi ver quais os equipamentos eram necessários para colocar nessa ambulância para que tivesse segurança no transporte”, disse.
Em outros momentos, Evandro disse que Mouhamad Moustafá ia até casa dele para “reclamar sobre pagamentos”. “Algumas vezes ele também foi reclamar sobre pagamento, mostrar que estava havendo problema com os funcionários por conta de que esses funcionários, não recebendo, trariam problema para o atendimento”, afirmou Evandro Melo.
As visitas de Mouhamad também foram para “discutir o decreto que autorizava as secretarias a renegociar contratos”, segundo Evandro. “Também esteve lá algumas vezes tentando discutir o decreto que autorizava as secretarias a renegociar os contratos. E eu dizia para ele que na organização do governo havia uma comissão que tratava diretamente com os fornecedores. Nós não tínhamos nenhuma ingerência sobre isso”, disse.
O ex-secretário disse que “grande parte dos encontros” não ocorria porque Mouhamad se atrasava. “Ele se atrasava e eu ia embora. Eu chegava as 7h na secretaria e não me encontrava com ninguém”.
“Nunca recebi”
Evandro Melo disse que não recebia pagamentos fixos de Mouhamad ou das empresas do médico e nem qualquer tipo de vantagem. “Nunca recebi e nem pedi nem pra mim e nem para terceiros”, disse. Ele afirmou que “não conhecia o Mouhamad” e que o conheceu “no Comitê da Copa querendo saber como compraria ingressos”, mas o comitê não era responsável pela venda dos ingressos. “Foi aí que eu passei a conhecer o Mouhamad”, afirmou.
Sobre a atuação como ‘gerente’ do Governo Melo, Evandro disse que atuava como assessor e prestava serviço técnico. “Eu simplesmente era assessor do governador e trabalhava como técnico. Jamais fui político. Essa denúncia é até um desmerecimento ao governador que passou 20 anos se preparando para ser governador, conhece esse estado. Eu simplesmente o auxiliava na retaguarda, até porque nunca gostei de estar na frente dessas coisas”, afirmou Evandro Melo.
Evandro disse que não autorizava pagamento para nenhum servidor e não tinha ingerência fora da função de presidente do comitê da crise.”O comitê, se a vossa excelência pegar a lei o que o criou, não tinha competência nenhuma do ponto de vista orçamentário e nem financeiro. Simplesmente, o comitê auxiliava o governador na administração da crise sugerindo ações para implantá-la”, disse o ex-secretário.
Sobre a edição do Decreto n° 36.348/2015, que abriu crédito suplementar no orçamento para pagamento do INC (Instituto Novos Caminhos) e outras empresas, Evandro Melo disse que não teve nenhuma participação. “Eu não tinha nenhuma ingerência, nenhum papel nisso”, afirmou.