Ronaldo, ex-atacante da Seleção Brasileira, em entrevista à agência Reuters, nesta sexta-feira, disse se sentir envergonhado com os problemas do Brasil nos preparativos da Copa do Mundo. Pela primeira vez, o ex-jogado e membro do Comitê Organizador da Copa fez uma análise política da situação do país e tocou na ferida: a culpa é das autoridades, disse ele.
Ronaldo se preocupa com os protestos durante os jogos do mundial e diz que essa também dos estrangeiros que querem vir ao país assistir à Copa. Ele acerta, no entanto, quando diz: “Poderia ter sido perfeito, se fizessem tudo o que prometeram, mas isso não tem a ver com Copa do Mundo, tem a ver com os governos que prometeram e não cumpriram”.
Quem estaria reclamando da Copa em Manaus se os governos tivessem feito, além do estádio, um sistema eficiente de transporte público? Que estaria insatisfeito se a rede de atendimento de saúde tivesse ganhado novas unidades melhor equipadas para atender à demanda da Copa, mas que ficasse como legado para a população? Quem estaria insatisfeito se os serviços de internet e telefonia tivessem ao menos próximo do padrão internacional e que essa eficiência dos serviços chegasse à população e não apenas se restringisse área do estádio?
Não havia motivos para protestos se a mobilidade urbana das cidades da Copa tivesse melhorado, um pouquinho que fosse. Em Manaus, houve o asfaltamento de algumas ruas, mas as obras de alargamento de calçadas da Avenida Djalma Batista ficarão para depois do mundial, porque não há dinheiro para a conclusão antes dos jogos.
O aeroporto internacional Eduardo Gomes está com as obras pela metade. Será um vexame para as pessoas que trabalham naquele local receber turistas de países onde os aeroportos bem estruturados fazem parte da rotina. Só quem nunca viajou para um país da Europa pode achar que há alguma qualidade nos serviços prestados nos aeroportos brasileiros.
Nada do que foi prometido foi entregue. Nem a arena. A obra de arte que deveria representar a Amazônia e seria um exemplo de obra ambientalmente correta e sustentável, teve parte do projeto encurtado, como foi o caso da alimentação de energia do Sol.
Quando anunciaram Manaus como sede da Copa, não me comovi. Meu medo não era nem de que as promessas não fossem cumpridas, mas de que o dinheiro para as obras acabassem no bolso dos espertalhões de plantão. As obras não apareceram, mas muita gente ganhou dinheiro mesmo sem mover uma palha para melhorar a cara das cidades sedes.
Por isso, protestar é mais do que um direito, é um dever de todos os cidadãos que ainda conseguem se indignar com a situação. Eu também, Ronaldo, estou envergonhado.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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