EDITORIAL
MANAUS – Amazonino Mendes, em quatro décadas de vida pública, deixou um legado inquestionável para o Amazonas, principalmente em obras. Mas há um legado que ele sonhou deixar para o povo amazonense e não conseguiu realizar: a formação de novos quadros para a política local.
Em 2003, ao passar a faixa de governador a Eduardo Braga, Amazonino disse que não mais disputaria eleição e que iria se dedicar à formação de jovens para a política. Aquelas palavras se perderam ao vento, e a promessa de não disputar cargos políticos foi por água abaixo.
Dois anos depois, ele estava de volta, disputando a Prefeitura de Manaus, cargo que ele havia ocupado duas vezes. Favorito naquela disputa, foi ao segundo turno com Serafim Corrêa, e perdeu pela primeira vez uma eleição.
A derrota não lhe tirou o ímpeto pelas disputas eleitorais a cargos majoritários, tampouco o colocou no caminho anunciado naquele início de 2023 de professor de novos quadros políticos. Em 2006, lá estava ele, para enfrentar nas urnas dois de seus apadrinhados políticos: Eduardo Braga (candidato à reeleição) e Omar Aziz (candidato a vice de Braga). Foi derrotado no primeiro turno.
Em 2008, nada de quadros novos na política. Mas Amazonino estava novamente no páreo para a revanche com Serafim Corrêa. Omar Aziz entrou na disputa pela Prefeitura de Manaus, mas o segundo turno foi um confronto entre Serafim e Amazonino, que levou a melhor: eleito para administrar a capital pela terceira vez.
O mandato de prefeito foi abalado por problemas de saúde no quarto ano. Amazonino ficou afastado do gabinete por meses e não conseguiu disputar a reeleição. Depois de deixar o cargo, recolheu-se. Dizia a todos os que o visitavam que estava aposentado da politica partidária.
Mas densidade eleitoral de Amazonino, mesmo fora de combate, fazia dele o político mais cobiçado nas disputas estaduais e municipais. Todos queriam o apoio dele. Em 2012, foi na casa dele que o grupo político liderado por Omar Aziz decidiu lançar a chapa Marcelo Ramos e Josué Neto para enfrentar Arthur Virgílio, que disputava a reeleição.
Foi assim, também, que em 2014 Eduardo Braga de um lado e José Melo de outro, disputaram uma prévia pelo apoio do velho cacique político. Amazonino preferiu apoiar Eduardo Braga, mas foi José Melo quem venceu a eleição, com a força da máquina, que estava sob o comando dele. O ex-governador, no entanto, não se empenhou na candidatura de Braga, foi um apoio formal.
Em 2010, na disputa estadual, e em 2016, na disputa municipal, Amazonino ficou afastado. E quando ninguém mais esperava a volta dele ao campo das disputas eleitorais, Omar Aziz liderou um movimento para lançar o ex-governador candidato na eleição suplementar, depois da cassação de José Melo, em 2017. Com o apoio de Arthur Virgílio, então prefeito de Manaus, Amazonino venceu a eleição, derrotando Eduardo Braga, e se tornou governador pela quarta vez.
No ano seguinte, em 2018, o velho cacique, contrariando seus apoiadores daquela eleição suplementar, partiu em busca da reeleição. Foi para o segundo turno com o Wilson Lima, mas sofreu sua terceira derrota.
Amazonino, já com 81 anos, não dava sinais de que pararia. E em 2020, disputou a eleição para prefeito de Manaus, e mais uma vez foi derrotado no segundo turno, desta vez para David Almeida.
Em 2022, o Amazonas assistiu à mais fragorosa derrota da carreira política de Amazonino. Ele nem chegou a ir para o segundo turno; ficou em terceiro lugar, com 18,56% dos votos.
À época, já com a saúde debilitada, Amazonino fez uma campanha apagada, com raras aparições nas ruas, sem visitas à maioria dos municípios do interior do Estado. E sem apoio político.
O vice de Amazonino era um velho companheiro que também estava aposentado da política: Humberto Michiles.
A última disputa eleitoral de Amazonino foi melancólica. Por ironia do destino, um jovem político, Amom Mandel, filiou-se ao mesmo partido que o ex-governador, o Cidadania, e gravou um vídeo ao lado daquele que queria ser um formador de jovens quadros para a política. Mas Amom sequer foi seu aluno.
Os políticos que Amazonino estendeu a mão e ajudou a fazer carreira no Amazonas estão em decadência, com raras exceções.
O legado que Amazonino queria deixar, anunciado em 2003, talvez tenha sido o maior fracasso de sua carreira política. Ele escreveu seu nome na história do Amazonas, mas sua política foi personificada até o fim.
Parabéns. Perfeita abordagem.