Por Iolanda Ventura, do ATUAL
MANAUS – Embarcações encalhadas, canoas na areia e lama formam o cenário do Lago do Aleixo, no bairro Colônia Antônio Aleixo, zona leste de Manaus. O local, que em 2021 sofreu com a maior cheia em 119 anos, quando o Rio Negro atingiu 30 metros na capital, agora é atingido com a seca. O principal impacto é para quem depende da pesca para viver.
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O pescador Jhonny Ringo, de 46 anos, conta que a profundidade em alguns pontos é de apenas um palmo e precisa arrastar a canoa. Como alternativa, consegue dinheiro trabalhando como catador.
“Minha fonte de renda é juntando latinha, garrafa, PVC, onde eu vejo plástico por aqui eu vou ajuntando e vou vendendo”, disse. “Com peixe, se eu pegasse umas duas ou três caixas, eu fazia quase R$ 1 mil e agora com a latinha eu ganho R$ 15, R$ 20 por dia. R$ 1 mil era às vezes por semana”, contou.
Boletim do CPRM (Serviço Geológico do Brasil), divulgado nesta sexta-feira (28), mostra que a cota do Rio Negro em Manaus atingiu 16,19 metros. Até o momento, a maior seca registrada ocorreu em 2010, quando o nível do rio na capital ficou em apenas 13,63 metros.
Em 75% dos anos da série histórica a cota máxima, quando ocorre a cheia, é em junho e em 19% no mês de julho. A partir desse período, as águas do rio Negro começam a baixar até que atinja a cota mínima. “O fim da vazante, por sua vez, não apresenta um período preferencial, podendo ocorrer entre outubro e janeiro do próximo ano”, informa o boletim.
Maria Henrique de Souza, 18 anos, mora há quase quatro anos às margens do Lago do Aleixo, com o esposo, irmã e filha. A dona de casa afirma que dava água ao vizinho pescador e em troca ganhava alguns peixes. Com a estiagem, não há quase nada para pescar.
“Tinha muito pescador, muito. Aqui, para onde ‘tu’ olhava, via canoinha, pescador pescando. Agora bem complicado, até ‘pra’ eles aí que vivem de pesca. Sem água não tem como pescar”, disse.
Emerson Bensale, 65 anos, é venezuelano e vive em um flutuante improvisado, que com a seca do lago ficou no meio da lama. Ele afirma que é pescador e está há cerca de 15 dias nessa situação com a esposa. Emerson espera o nível da água subir novamente para puxar a moradia para perto da margem.
“Secou o lago, então eu ‘tô’ esperando que chova para sair, sou um pescador, para voltar a pescar”, disse.
Sem poder pescar, Emerson conta com o apoio de outros moradores, que doam água e alimentos. No flutuante, o casal tem um gás para cozinhar, mas não há banheiro e usam a água do entorno para as necessidades de limpeza.
Jailton Silva dos Reis, 50 anos, autônomo, soube da situação de Emerson e, com outros vizinhos, se mobilizou para ajudar.
“Eu não o conhecia, nós viemos aqui para falar. Se ele quiser, nós nos prontificamos a alugar um quarto para ele. Ele vai morar bem do lado da minha casa. Lá pelo menos vai ter banheiro, o que ele precisa de necessário. Porque aqui eu acho que eles fazem as necessidades deles aí mesmo”, afirmou.
Jailton também costuma pescar no lago, pelo menos duas vezes por semana, e relata que está difícil pegar peixes. “Anteontem eu fui pescar. Fui sair aqui e só lá na boca para sair para o rio eu passei quase uma hora puxando canoa por cima da areia”, narrou.
Ao ATUAL, os moradores informaram que representantes de órgãos públicos foram ao local, mas não foi adotada nenhuma medida concreta para ajudar.
(Colaborou Murilo Rodrigues)
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