
Do ATUAL
MANAUS — Mesmo com investimento inicial mais alto, a energia solar off-grid (que não é conectada à rede) é mais eficiente e econômica para comunidades isoladas da Amazônia do que o tradicional gerador a diesel. Essa é uma das principais conclusões de um estudo divulgado nesta quarta-feira (14) pela Frente Nacional dos Consumidores de Energia, que analisou os desafios e oportunidades para a descarbonização da matriz elétrica na região.
O relatório, elaborado pela Envol Energy Consulting, comparou o custo acumulado da eletricidade ao longo de 25 anos em comunidades remotas da Amazônia Legal. O resultado: o custo nivelado da energia de sistemas solares off-grid foi estimado em R$ 1,59 por kWh, enquanto a geração por meio de motores a diesel alcançou R$ 3,58 por kWh — mais do que o dobro.
Além da diferença de preço, o estudo mostra que os sistemas a diesel demandam gastos constantes com combustível, manutenção e logística, especialmente em áreas de difícil acesso, como comunidades ribeirinhas.
“Estima-se que famílias em regiões remotas da Amazônia Legal gastem até R$ 900 por mês apenas com combustível para alimentar motores a diesel que operam por 6 a 8 horas diárias – o que limita o uso de eletricidade a curtos períodos do dia”, diz o relatório.
“Embora exija um aporte inicial mais elevado, a energia solar se torna economicamente mais vantajosa por dispensar gastos recorrentes com combustível e oferecer retorno contínuo após a instalação”, afirma outro trecho.
A pesquisa aponta ainda que mais de 1 milhão de pessoas na Amazônia Legal vivem sem acesso formal à eletricidade, e outras 2,7 milhões enfrentam fornecimento instável e de baixa qualidade. A geração de energia nessas regiões é majoritariamente baseada em combustíveis fósseis, especialmente o diesel — o que, além de ser ambientalmente insustentável, representa um custo bilionário subsidiado por todos os brasileiros.
A Frente Nacional dos Consumidores de Energia defende que o governo federal amplie o uso de tecnologias sustentáveis em regiões isoladas, com foco em soluções solares, e aproveite os recursos disponíveis em fundos como a Conta de Desenvolvimento da Amazônia Legal. Para os autores do estudo, a universalização do acesso à energia passa necessariamente pela substituição de fontes fósseis por renováveis.
Ao apresentar o estudo no seminário Clima, energia e sociedade, o CEO da Envol Energy Consulting, Alexandre Viana, chamou atenção para a incoerência entre o discurso climático e a realidade amazônica.
“Não faz muito sentido nós estarmos sediando a COP30 e falando em transição energética e ter esse problema ainda de uma região como a Amazônia, com a diversidade que se tem — obviamente tem seus desafios geográficos também, antropológicos —, você ainda estar pensando em atingir as comunidades principalmente com geração de energia à óleo diesel”, afirmou.
O CEO também destacou o abismo entre a realidade energética das grandes cidades e das populações dos sistemas isolados. “Há também uma questão social: 2,7 milhões de pessoas no Sisol [Sistemas Isolados] têm dificuldade no acesso, o acesso não é confiável. […] Eles adorariam ter o problema que a gente tem nas cidades — de ficar alguns minutos sem energia e reclamar da concessionária. […] Além disso, tem 1 milhão de pessoas que estão em regiões remotas que não têm acesso algum, e que têm acesso muito precário e com custo muito elevado”.